ESPAÇO DE ENCONTRO E REFLEXÃO ENTRE CRISTÃOS HOMOSSEXUAIS em blog desde 03-06-2007
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publicado por Riacho, em 08.06.12 às 22:35link do post | favorito

papa e o Vaticano estão cada vez mais defendendo a ideia de uma Igreja remanescente – uma Igreja pequena e pura que se vê muitas vezes em oposição ao mundo ao seu redor. Parece como se as autoridades da Igreja não estão nada preocupadas com aqueles que deixam a Igreja. Qualquer outra organização tomaria medidas fortes para remediar a perda de um terço de seus membros.

A opinião é do teólogo norte-americano Charles E. Curran, professor da cátedra Elizabeth Scurlock de Ética Cristã daSouthern Methodist University. O artigo foi publicado no sítio do jornal National Catholic Reporter, 06-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

A condenação por parte da Congregação para a Doutrina da Fé ao premiado livro da Ir. Margaret Farley, das Irmãs da MisericórdiaJust Love: A Framework for Christian Sexual Ethics, não é nenhuma surpresa. A Congregação insiste que o livro "não pode ser usado como uma expressão válida da doutrina católica" porque discorda do magistério hierárquico sobre masturbação, atos homossexuais, uniões homossexuais, indissolubilidade do casamento, divórcio e segundo casamento.

Há uma longa lista de teólogos morais católicos cujas obras sobre ética sexual, em um veio semelhante, foram condenados ou censurados pela Congregação para a Doutrina da Fé ao longo dos últimos 40 anos. O Papa João Paulo II escreveu a sua encíclica Veritatis splendor, em 1993, por causa da discrepância entre o ensino oficial da Igreja sobre questões morais e o ensino de alguns teólogos morais, até mesmo nos seminários. Segundo o papa, a Igreja está "enfrentando o que certamente é uma crise genuína, que não se trata já de contestações parciais e ocasionais, mas de uma discussão global e sistemática do patrimônio moral".

Todos têm que reconhecer que há uma crise real como essa na Igreja hoje. Mas a crise não é apenas uma crise na teologia moral: ela envolve uma crise na Igreja como um todo e na nossa própria compreensão da Igreja Católica. De acordo com o respeitado Pew Forum on Religion & Public Life, uma em cada três pessoas que foram educadas como católicas romanas nos Estados Unidos já não é mais católica. A segunda maior "denominação" nos EUA é de ex-católicos. Uma em cada 10 pessoas nos EUA é ex-católica. Todos nós temos experiência pessoal daqueles que deixaram a Igreja por causa do ensino sobre questões sexuais. Questões relacionadas, incluindo o papel das mulheres na Igreja, o celibato para o clero e o fracasso das lideranças eclesiais em lidar com o escândalo dos abusos infantis e o seu encobrimento, também foram reconhecidas como razões pelas quais muitas pessoas abandonaram a Igreja Católica.

A reação de papas e bispos até teólogos morais revisionistas é apenas uma parte de uma realidade crescente em nossa Igreja hoje. Há uma ladainha de outras ações similares tomadas pelo Vaticano – as restrições impostas àLeadership Conference of Women Religious (LCWR); o controle sobre as atividades da Caritas Internationalis, a agência da Igreja dedicada à ajuda aos pobres; a reação muito negativa das associações de padres na Áustria e naIrlanda; a remoção de Dom William Morris, bispo de Toowoomba, na Austrália, por ter meramente incentivado a discussão sobre o celibato e o papel das mulheres; a nomeação apenas de clérigos muito seguros como bispos etc. E a lista continua.

O que está acontecendo aqui é que o papa e o Vaticano estão cada vez mais defendendo a ideia de uma Igreja remanescente – uma Igreja pequena e pura que se vê muitas vezes em oposição ao mundo ao seu redor. Parece como se as autoridades da Igreja não estão nada preocupadas com aqueles que deixam a Igreja. Qualquer outra organização tomaria medidas fortes para remediar a perda de um terço de seus membros. Mas a Igreja remanescente se vê como uma Igreja forte de fiéis verdadeiros e, portanto, não está preocupada com essas partidas.

Esse conceito de Igreja opõe-se à melhor compreensão da Igreja Católica. A palavra "católico", em sua própria definição, significa grande e universal. A Igreja abraça tanto santos e pecadores, ricos e pobres, homens e mulheres, e conservadores e liberais políticos. Sim, há limites para o que significa ser católico, mas a compreensão de "católico" com "c" minúsculo insiste na necessidade de ser o mais inclusivo possível. Muitos de nós ficaram profundamente impressionados com os gestos do Papa Bento XVI no início do seu papado, ao ir ao encontro emdiálogo com Hans Küng e de Dom Bernard Fellay, chefe do grupo originalmente fundado pelo arcebispo Marcel Lefebvre. Infelizmente, hoje, o diálogo ainda está em andamento com Dom Fellay, mas não com Hans Küng.

O problema básico de tudo isso é a compreensão e o papel da autoridade na Igreja Católica. Essa questão é muito vasta e complicada para ser discutida aqui com detalhes, mas três pontos deveriam orientar qualquer consideração sobre a autoridade na Igreja.

Primeiro, a principal autoridade na Igreja é o Espírito Santo, que fala de diversas maneiras; e todos os outros na Igreja, incluindo os detentores de cargos, devem se esforçar para ouvir e discernir o chamado do Espírito.

Segundo, a Igreja precisa dar corpo à compreensão de Tomás de Aquino de que algo é mandado e ordenado porque é bom, e não o contrário. A autoridade não faz algo certo ou errado. A autoridade deve se conformar ao que é verdadeiro e bom.

Terceiro, o perigo para a autoridade na Igreja é alegar uma certeza muito grande para o seu ensino e propostas.Margaret Farley desenvolveu esse ponto em um ensaio muito significativo, Ethics, Ecclesiology, and the Grace of Self-Doubt [Ética, Eclesiologia, e a Graça da Dúvida de Si]. A pressão por certeza fecha muito facilmente a mente e às vezes também o coração. A graça da dúvida de si permite a humildade epistêmica, condição básica para o discernimento moral comunitário e individual.


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publicado por Riacho, em 05.06.12 às 21:20link do post | favorito

Parece evidente que tudo não passa de uma questão de poder por parte do Vaticano. Não há nada de irrepreensível teologicamente falando do texto da teológa Ir. Margaret. Há presentemente no Vaticano uma caça às bruxas fazendo lembrar os tempos aureos da inquisição no mais completo desrespeito pelo espírito do Concílio Vaticano II. Para quando uma indignação generalizada de todos os católicos de boa vontade contra esta atitude anti-evangélica do Vaticano?

 

Vaticano critica livro de teóloga sobre ética sexual

Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano criticou duramente o premiado livro Just LoveA Framework for Christian Sexual Ethics (New York: Continuum, 2006), sobre ética sexual, de autoria da Ir. Margaret Farley (foto), das Irmãs da Misericórdia, uma proeminente teóloga católica da Yale University, nos Estados Unidos.

A reportagem é de Jerry Filteau, publicada no sítio do jornal National Catholic Reporter, 04-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

"Dentre os muitos erros e ambiguidades desse livro estão as suas posições sobre a masturbação, os atos homossexuais, as uniões homossexuais, a indissolubilidade do casamento e o problema do divórcio e do segundo casamento", diz a Notificação de cinco páginas da Congregação. Nessas áreas, afirma-se, a posição da autora "contradiz" ou "se opõe a" ou "não se conforma com" o ensino da Igreja.

Divulgada no dia 4 de junho, mas datada de 30 de março, a Notificação foi aprovada pelo Papa Bento XVI e assinada pelo cardeal William J. Levada, dos EUA, prefeito da Congregação, e pelo arcebispo Luis F. Ladaria, seu secretário.

Farley disse: "Embora minhas respostas a algumas questões sexuais éticas particulares realmente se afastam de algumas respostas cristãs tradicionais, eu tentei mostrar que elas, no entanto, refletem uma profunda coerência com os objetivos e intuições centrais dessas tradições teológicas e morais".

Embora a Notificação cite resumidamente as conclusões da religiosa sobre cada um dos cinco tópicos específicos que são apontados, seguidas de um breve resumo sobre como essas conclusões se afastam do ensino da Igreja,Farley disse que a crítica da Congregação "não leva em consideração também os meus argumentos para essas posições" ou os "complexos contextos teóricos e práticos aos quais eles são uma resposta".

Nesse sentido, a Notificação "deturpa – talvez inconscientemente – os objetivos do meu trabalho e a sua natureza como uma proposta que pode estar ao serviço, e não contra, a Igreja e seus fiéis", disse ela.

Just Love: A Framework for Christian Sexual Ethics [Apenas amor: Um marco para a ética sexual cristã] foi publicado em 2006 pela Continuum, uma editora internacional especializada em trabalhos acadêmicos. O livro argumenta que a justiça é uma qualidade-chave nas relações sexuais humanas, porque o amor autêntico é formado, guiado e protegido pela justiça. Em seu central capítulo 6, "Marco para uma ética sexual: Apenas amor", dentre os tópicos abordados, estão a personalidade, o livre consentimento, a reciprocidade, a igualdade, o compromisso, a fecundidade e a justiça social.

"Em última análise, nesse livro, eu propus um marco para a ética sexual que usa critérios de justiça na avaliação de relacionamentos e atividades sexuais verdadeiros e fiéis", disse Farley. "Ao fazer isso, eu ofereço não apenas ideais para as relações sexuais humanas, mas também alguns requisitos absolutos".

Em 2008, ela recebeu o prestigioso Prêmio Louisville Grawemeyer de Religião pelo livro.

Agora como professora emérita, Farley lecionou ética cristã durante 50 anos e começou sua carreira na Yale University em 1971. Ela foi a primeira professora mulher de tempo integral da Yale Divinity School. Ela e o renomado escritor espiritual Henri Nouwen compartilha a distinção de terem sido os primeiros católicos da história no corpo docente da faculdade.

"Eu não contesto o julgamento de que algumas das posições [expressadas em Just Love] não estão de acordo com o atual ensino oficial católico", disse ela. "No fim, eu só posso esclarecer que o livro não foi concebido para ser uma expressão do atual ensino católico oficial, nem estava especificamente voltado contra esse ensino. É de um gênero completamente diferente".

Em um e-mail para o NCRLisa Sowle Cahill, uma conhecida teóloga católica, autora e professora de ética na universidade jesuíta Boston College, disse: "Os teólogos não veem nem apresentam o seu trabalho como 'ensino oficial da Igreja', e poucos fiéis ficam confusos acerca desse fato".

Ir. Patricia McDermott, provincial das Irmãs da Misericórdia das Américas, expressou um "profundo pesar por essa Notificação ter sido emitida". Ela disse que Farley "assiduamente tenta apresentar a tradição católica como formativa de sua própria rica experiência, reconhecendo ao mesmo tempo o público ecumênico com o qual ela geralmente se envolve".

Rev. Paul Cadetz, ministro presbiteriano ordenado e professor de teologia histórica no United Theological Seminary of the Twin Cities, de New BrightonMinnesota, disse ao NCR que, no ensino dos cursos de graduação sobre religião, gênero e sexualidade, por duas vezes nos últimos cinco anos, ele usou como texto obrigatório o livro Just Love.

"Eu acho que é o melhor livro sobre ética sexual" disponível hoje, disse ele. "Eu simplesmente acho que não há nada melhor".

O que a Notificação diz

A Congregação doutrinal disse, após um exame inicial do livro, em março de 2010, ela enviou a Farley e à sua superiora religiosa uma "avaliação preliminar (...) indicando os problemas doutrinais presentes no texto".

A resposta de Farley em outubro daquele ano "não esclareceu esses problemas de forma satisfatória", disse a Congregação, de modo que realizou um exame completo do livro de acordo com os “Regulamentos para Exames Doutrinais”.

Após um segundo intercâmbio entre a congregação, Farley e sua superiora em 2011, a Congregação concluiu que a resposta dela aos "graves problemas" presentes no livro ainda eram inadequados, e ela decidiu prosseguir com aNotificação, que é uma forma padrão por meio da qual a Congregação notifica as lideranças e membros da Igreja de que encontrou sérios problemas doutrinais na obra de algum/a teólogo/a.

Sobre a abordagem geral de Farley, a Notificação diz que, ao acordar questões morais, ela "ignora o ensino constante do magistério [a autoridade de ensino oficial da Igreja] ou, onde ele é ocasionalmente mencionado, ela o trata como mais uma opinião dentre outras. Tal atitude não é de forma alguma justificável, mesmo dentro da perspectiva ecumênica que ela deseja promover".

Farley também é acusada de possuir uma "compreensão deficiente da natureza objetiva da lei moral natural", há muito tempo uma peça-chave do ensino moral católico oficial. "Essa abordagem não é consistente com a autêntica teologia católica", disse a Congregação.

Sobre as cinco questões específicas pelas quais a Congregação criticou as posições de Farley, segue aqui uma versão resumida do que a Congregação citou do seu livro e de suas respostas:

Masturbação: "Irmã Farley escreve: "A masturbação (...) geralmente não comporta nenhum problema de caráter moral. (...) Por isso a minha observação conclusiva é que os critérios da justiça, assim como os apresentei até agora, pareceriam aplicáveis à escolha de provar prazer sexual auto-erótico somente enquanto esta atividade pode favorecer ou danificar, mantém ou limita, o bem-estar e a liberdade de espírito. E esta resta amplamente uma questão de caráter empírico, não moral".

O firme e constante ensino da Igreja "e o sentido moral dos fiéis não tiveram nenhuma dúvida e mantiveram firmemente que a masturbação é uma ação intrínseca e gravemente desordenada", mesmo que também se devam levar em conta fatores tais como "a imaturidade afetiva, a força de hábito adquirido", que podem "diminuir ou mesmo atenuar a culpabilidade moral", respondeu a Congregação.

Atos homossexuais: "Irmã Farley escreve: "Do meu ponto de vista (...), as relações homossexuais o os atos homossexuais podem ser justificados, de acordo com a mesma ética sexual, exatamente como as relações e os atos heterossexuais. Por isso, as pessoas com inclinações homossexuais, assim como os seus respectivos atos, podem e devem ser respeitados, indiferentemente de haver ou não a alternativa de serem diferentes".

"Essa opinião não é aceitável", disse a Congregação. Embora as pessoas com tendências homossexuais "devem ser acolhidas com respeito, compaixão e delicadeza", acrescenta-se, a tradição da Igreja, baseada na Escritura, "sempre declarou que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados. Eles são contrários à lei natural".

Uniões homossexuais: observando que a Ir. Farley argumenta que as leis antidiscriminação desempenham um papel importante para reverter o ódio e a estigmatização de gays e lésbicas, a Congregação citou o seguinte trecho do livro: "Uma das questões mais urgentes do momento, diante da opinião pública dos Estados Unidos, é o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo – equivale a dizer a concessão de um reconhecimento social e de uma qualificação jurídica às uniões homossexuais, sejam masculinas ou femininas, comparáveis às uniões entre heterossexuais".

"Essa posição é oposta ao ensino do magistério", disse a Congregação, citando o Catecismo da Igreja Católica e declarações anteriores feitas sobre o assunto, incluindo: "Os princípios de respeito e de não discriminação não podem ser invocados para apoiar o reconhecimento legal das pessoas homossexuais" – em parte porque isso significaria a "aprovação do comportamento desviante, com a consequência de torná-lo um modelo na atual sociedade".

Indissolubilidade do casamento: "Irmã Farley escreve: "A minha posição pessoal é que o empenho matrimonial seja sujeito à dissolução pelas mesmas razões fundamentais pelas quais todo empenho permanente, extremamente grave e quase incondicionado, pode cessar de exigir um vínculo. (…) Mas é possível de sustentá-lo sempre? É possível sustentá-lo apesar de mudanças radicais e imprevistas? A minha resposta é: às vezes não é possível. Às vezes a obrigação pode ser desfeita e o compromisso pode ser legitimamente modificado".

"Essa opinião está em contradição com o ensino católico sobre a indissolubilidade do matrimônio", afirmou a Congregação. Sua resposta, citando a lei da Igreja e o Concílio Vaticano II como suas fontes, disse em parte que "o amor busca ser definitivo; não pode ser um acordo 'até novo aviso'. (...) O Senhor Jesus insistiu na intenção original do Criador, que queria que o matrimônio fosse indissolúvel. (…) Dentre os batizados, um matrimônio ratificado e consumado não pode ser dissolvido por qualquer poder humano nem por qualquer outra razão que a morte".

Divórcio e novo casamento: "A Ir. Farley escreve: 'As vidas de duas pessoas uma vez casadas entre si são sempre qualificadas pela experiência desse matrimônio. (…) Mas [se ele acaba em divórcio] o que resta não permite um segundo casamento? Minha opinião é de que não. Qualquer obrigação permanente que um vínculo residual imponha, ela não precisa incluir a proibição de um novo casamento – não mais do que o fato de a união permanente entre os cônjuges depois que um deles tenha morrido proíbe um segundo casamento por parte daquele que ainda vive".

Citando Cristo no Evangelho de Marcos – "O homem que se divorciar de sua mulher e se casar com outra, cometerá adultério contra a primeira mulher. E se a mulher se divorciar do seu marido e se casar com outro homem, ela cometerá adultério" –, a Congregação respondeu que, no ensino da Igreja, no caso do divórcio e do novo casamento civil, "uma nova união não pode ser reconhecida como válida, se o primeiro casamento foi válido", e aqueles que se encontram em tal situação não podem receber a Comunhão se não se arrependerem, se confessarem no sacramento da penitência e se comprometerem "a viver em completa continência".

A Congregação disse que, por causa de suas posições "em direta contradição com o ensino católico no campo da moral sexual", o livro Just Love não pode ser usado como expressão válida do ensino católico, nem no aconselhamento e formação, ou no diálogo ecumênico e inter-religioso".

Notificação encerra com um apelo aos teólogos para que estudem e ensinem a teologia moral "em plena conformidade com os princípios da doutrina católica".

Outras reações


Harold Attridge, reitor da Yale Divinity School e católico, disse: "Teólogos honestos e criativos muitas vezes se encontraram com uma resposta crítica à reflexão teológica séria, e não é nenhuma surpresa que o trabalho da professora Farley também tenha passado por isso".

Ele acrescentou: "A propósito, eu suspeito que aqueles que reagem negativamente a ele agora apreciarão a importante contribuição que ele faz àquele que deve ser o nosso esforço constante de examinar os fundamentos da nossa vida moral".

Farley é ex-presidente da Catholic Theological Society of America (CTSA) e da Christian Ethics Society. Ela recebeu 11 títulos honoris causa e, em 1992, recebeu a maior honraria da CTSA pela sua realização teológica, o Prêmio John Courtney Murray.

Teóloga do Boston CollegeCahill disse em seu e-mail ao NCR que a Notificação adotou uma estratégia de apenas relatar as conclusões de Farley sobre cinco questões morais específicas e contrapô-las com as conclusões do ensino da Igreja – sem "se engajar com nenhum dos argumentos a favor ou contra" que a Igreja ensina.

Ela disse que essa abordagem cria a "infeliz impressão" de que:

  • "Engajar-se com os argumentos da Ir. Margaret e as respostas às inquirições anteriores [ao longo da investigação de dois anos] é supérfluo e desnecessário, porque a condenação do seu livro foi pré-determinada, e a investigação, uma mera formalidade;
  • "Não há, de fato, nenhum argumento razoável para apoiar as posições afirmadas pela Notificação;
  • "A própria Congregação para a Doutrina da Fé abandonou a fundamentação da teologia moral na 'natureza objetiva da lei moral natural' e está contando exclusivamente com a autoridade das conclusões passadas".

Cadetz, teólogo presbiteriano de Minnesota – analisando o livro Just Love a partir da perspectiva de um professor bastante afastado dos debates católicos internos – disse em uma resenha do livro de 2007, publicado na The Ecumenist, revista que promove a unidade dos cristãos, que duas coisas o atraíram ao livro como um texto principal para o ensino de cursos universitários sobre a ética sexual.

"Em primeiro lugar, ele oferecia aos meus estudante resumos claros e legíveis de grande parte da literatura já coberta, mas que não é tão estilisticamente lúcida como o texto de Farley", escreveu. "Em segundo lugar, seu livro foi um maravilhoso manual para ensinar aos estudantes o que acarreta a produção de um argumento ético e de como eles podem ir construindo tal posição normativa sobre a ética secular para si mesmos".

Cahill comentou que "o momento dessa intervenção é incrível e ironicamente ruim". "Os bispos dos EUA e, em sua investigação, o Vaticano já estão atraindo uma enorme quantidade de comentários negativos na imprensa acerca da sua perseguição às irmãs norte-americanas", disse ela. "Eles apenas jogaram mais lenha no fogo".

Nota da IHU On-Line: A íntegra da Notificação pode ser lida, em português, aqui.


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publicado por Riacho, em 03.05.12 às 23:02link do post | favorito

Aqui está um documentário científico que desmente quem diz que a homossexualidade não é natural!

É possível colocar legendas em português em CC.

 


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publicado por Riacho, em 03.04.12 às 21:50link do post | favorito

Este discurso anuncia uma páscoa sobre moral sexual na Igreja Católica!

 

Geoffrey Robinson, bispo emérito de Sydney, fez essa declaração em Baltimore, nos Estados Unidos, durante um simpósio de homossexuais católicos.


A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no sítio Vatican Insider, 30-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Que a Igreja é muitas vezes vista como uma agência que pretende ensinar as pessoas o que se deve ou não fazer, quase como um oásis de controle dentro de uma cultura secular de "liberdade", já se sabia há muito tempo. Uma imagem enganosa que encerra em si uma série de preconceitos a serem desfeitos, mas em que ninguém talvez possa se declarar isento de responsabilidade. Que o caminho que conduz à santidade não consiste em uma superação de um exame de boa conduta, mas sim um entrar cada vez mais em relação com Deus e a sua liberdade não é hoje uma concepção muito difundida, nem entre os católicos, que, de fato – pelo menos segundo os inúmeros estudos e pesquisas sobre o assunto – acabam, em matéria de moral, no entanto, decidindo de acordo com as suas ideias.

Na área da moral sexual, a diferença é ainda mais evidente: nos EUA, por exemplo, enquanto os bispos e alguns católicos invocam a liberdade religiosa para combater a reforma da saúde – que também amplia a cobertura para os anticoncepcionais – não há pesquisa que não indique o seu uso por mais de mais de 98% das mulheres, sem nenhuma distinção de confissão religiosa.

O recurso à liberdade de consciência e à responsabilidade pessoal é uma das aquisições conciliares mais utilizadas em matéria de pastoral familiar, e que diversos teólogos morais preferem se pronunciar com extrema cautela, dada a complexidade das questões de hoje, em que é cada vez mais difícil, senão impossível, traçar uma linha nítida de demarcação, também é conhecido, como muitas pequenas observações ditas em voz baixa por muitos, postas por escrito por poucos.

Mas que um bispo indique, sem muitos rodeios, como a doutrina moral da Igreja tem necessidade de uma bela revisão talvez poucos imaginariam, antes do dia 15 de março passado, quando, em BaltimoreDom Robinson, bispo emérito de Sydney, declarou que é necessário "um novo estudo de tudo o que tem a ver com a esfera da sexualidade para melhorar o ensino da Igreja em matéria de relações tanto hetero quanto homossexuais". Na verdade, "todo o ensino que disciplina todas as relações de tipo sexual deveria ser atualizado, porque o sexo é uma modalidade importante para expressar o amor entre duas pessoas". E, se a sociedade o banaliza, não é óbvio que a Igreja deve continuar aceitando acriticamente as antigas concepções da moral sexual que nos vêm da tradição.

Geoffrey Robinson fala com conhecimento de causa: australiano, nascido em 1937, títulos em filosofia, teologia e direito canônico em Roma, foi pároco e professor de direito canônico, juiz do tribunal eclesiástico para os matrimônios, além de ter trabalhado para escolas católicas e no diálogo ecumênico. Em 1984, foi nomeado bispo auxiliar de Sydney e, em 2002, o Papa João Paulo II o chamou para fazer parte da comissão vaticana para o abusos por parte do clero. Tendo se aposentado por causa do limite de idade, voa frequentemente para os EUA para conferências e retiros em universidades e paróquias.

Em março deste ano, Dom Robinson visitou os EUA mais uma vez. Nos dias 15 e 16 de março, ele foi um dos oradores do VII Simpósio Nacional sobre Catolicismo e Homossexualidade – que ocorreu em BaltimoreMaryland, com a presença de mais de 400 pessoas, incluindo gays, lésbicas e transgêneros católicos –, um tema ao qual ele também dedicou estudos e energia no passado.

No mesmo simpósio, discursou o governador do Estado, Martin O'Malley, que havia assinado alguns dias antes a legalização do casamento gay, ao qual os opositores ameaçam um recurso ao referendo (mas as pesquisas indicam que a maioria ainda está a favor, ou até em crescimento).

Precisamente ao responder a questão sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, Robinson declarou que a doutrina da Igreja sobre o matrimônio é clara e imutável, mas que a abordagem das questões de moral sexual e a própria interpretação de algumas passagens da Escritura sobre a homossexualidade precisam de uma "profunda revisão".

Ele teria chegado a essa convicção – confessou – analisando justamente as causas sobre os abusos do clero na qualidade de presidente da Sociedade Australiana de Direito Canônico. "Paradoxalmente, foi justamente o choque dos abusos que me convenceu sobre a importância fundamental do sexo na vida das pessoas, e não haverá nenhuma margem de mudança da doutrina da Igreja Católica sobre os atos homossexuais enquanto não houver uma mudança sobre os atos heterossexuais".

"Se o ponto de partida – como é hoje na moral oficial – é que todo ato sexual individual deve ser necessariamente tanto unitivo quanto procriativo, então nunca haverá qualquer possibilidade de aprovação do menor ato homossexual".

"Durante séculos, a Igreja ensinou que todo pecado sexual é pecado mortal. Hoje, isso já não é mais proclamado aos quatro ventos como antigamente. Porém, a doutrina nunca foi abolida e afetou muitas pessoas, favorecendo a crença em um Deus irascível que condena ao inferno por um único instante de prazer derivado de um desejo humano de ordem sexual". "Uma vida moral – declarou – não é só fazer as coisas certas, mas também compromisso para chegar a identificar qual é a coisa certa a fazer".

Robinson continuou a sua turnê de palestras em todos os EUA. No dia 30 de março, ele esteve na Santa Clara University, na Califórnia, para, depois, voar até San Francisco no sábado e assim retornar para Sydney. Não houve relatos de reações por parte de seus coirmãos norte-americanos, mas ele encontrou um notável apoio no editorial do jornal National Catholic Reporter publicado no dia 27 de março.

"Estamos em perfeita consonância com Dom Robinson para um reexame aprofundado e honesto do ensino da Igreja sobre a sexualidade". Se a posição é clara, assim também é a motivação: contribuir para fazer com que a Igreja não seja condenada à irrelevância no panorama cultural de hoje.

Acolher o convite de Robinson para abandonar a ideia do pecado sexual como um pecado contra Deus, para, ao contrário, considerar a moral sexual em termos de bem ou mal com relação às pessoas representaria um passo de grande liberdade. Ao invés de ir em busca do bem ou do mal em atos objetivos individuais – é um ato é unitivo e aberto à procriação? – o desafio é se esforçar para olhar para as intenções e as circunstâncias. "Os atos sexuais são agradáveis a Deus quando ajudam o crescimento das pessoas e melhoram as suas relações. Mas não são agradáveis quando causam ofensa às pessoas e pioram as suas relações".

O convite é o de não se concentrar na leitura literal da Bíblia para compreender o significado mais profundo nos termos da jornada espiritual do povo de Deus na história.

Robinson não é o primeiro a pedir uma revisão da moral católica, escreve o editorial, mas certamente a palavra de autoridade de um bispo irá se juntar ao coro, acrescentando uma nova dimensão. Só com uma moral sexual clara e compreensível hoje seremos capazes de desafiar a mensagem martelante da cultura dominante na mídia: uma sexualidade egoísta que idolatra a satisfação pessoal, o sexo separado do amor e que coloca em primeiro lugar o "eu" ao invés do "você".

Não nos esqueçamos, escreve o NCR, que uma sexualidade cristã genuína, centrada nas exigências dos outros, responderia mais plenamente às expectativas mais profundas do coração humano e seria capaz de promover de forma mais eficaz a relação entre as pessoas.

Trata-se, no fim das contas, de assumir, sempre, a própria responsabilidade pessoal no dia a dia, que é, além disso, o primado conciliar da consciência.

 

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/508133-e-preciso-rever-a-moral-sexual-palavra-de-bispo


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publicado por Riacho, em 15.09.10 às 20:36link do post | favorito

Um livro para reflectir sobre a necessária reforma da Igreja católica.

por Rosa Ramos, Publicado em 13 de Setembro de 2010 em http://www.ionline.pt/conteudo/78038-delitos-papais-vida-sexual-nada-santa-dos-papas   

Na história da Igreja há Papas violadores, homossexuais, fetichistas, incestuosos e até zoofílicos

 

São mais de 300 páginas com centenas de histórias pouco santas sobre a vida sexual dos Papas da Igreja Católica. O livro do jornalista peruano Eric Frattini, recém-chegado às livrarias portuguesas e editado pela Bertrand, percorre, ao longo dos séculos, a intimidade secreta de papas e antipapas, mas não pretende causar "escândalo". Apenas "promover uma reflexão sobre a necessária reforma da Igreja ao longo dos tempos".

O escritor admite, aliás, que alguns dos relatos possam ter sido inventados, nas diferentes épocas, por inimigos políticos dos sumos pontífices. Lendas ou verdades consumadas, no livro "Os Papas e o sexo" há de tudo. Desde Papas violadores e zoofílicos a Papas homossexuais e fetichistas, além de Santos Padres incestuosos, pedófilos ou sádicos, passando por Papas filhos de Papas e Papas filhos de padres.

Alguns morreram assassinados pelos maridos das amantes em pleno acto sexual. Outros foram depostos do cargo, julgados pelas suas bizarrias sexuais e banidos da história da Igreja. Outros morreram com sífilis, como o Papa Júlio II, eleito em 1503, que ficou na história por ter inventado o primeiro bordel gay de que há memória.

Bonifácio IX deixou 34 filhos, a que chamava, carinhosamente, de "adoráveis sobrinhos". Martinho V encomendava contos eróticos, que gostava de ler no recolhimento do seu quarto.

Paulo II era homossexual e Listo IV, que cometeu incesto com os sobrinhos, bissexual. Inocêncio VIII reconheceu todos os filhos que fez e levou-os para a Santa Sé. Um deles tornou-se violador. João XI (931-936) cometeu incesto com a própria mãe, violava fiéis e organizava orgias com rapazes.

Sérgio III teve o infortúnio de se apaixonar por mãe e filha e não esteve com meias medidas: rendeu-se à prática da ménage à trois. Bento V só esteve no Governo da Igreja 29 dias, por ter desonrado uma rapariga de 14 anos durante a confissão. Depois de ser considerado culpado, fugiu e levou boa parte do tesouro papal consigo.

João XIII era servido por um batalhão de virgens, desonrou a concubina do pai e uma sobrinha e comia em pratos de ouro enquanto assistia a danças de bailarinas orientais. Os bailes acabaram quando foi assassinado pelo marido de uma amante em pleno acto sexual. Silvestre II fez um pacto com o diabo. Era ateu convicto e praticava magia. Acabou envenenado.

Dâmaso I, que a Igreja canonizou, promovia homens no ciclo eclesiástico, sendo a moeda de troca poder dormir com as respectivas mulheres. Já o Papa Anastácio, que tinha escravas, teve um filho com uma nobre romana, que se viria a tornar no Papa Inocêncio I (famoso pelo seu séquito de raparigas jovens). Pai e filho acabaram canonizados.

Leão I era convidado para as orgias do Imperador, mas sempre se defendeu, dizendo que ficava só a assistir. Mesmo assim, engravidou uma rapariga de 14 anos, que mandou encerrar num convento para o resto da vida. Bento VIII morreu com sífilis e Bento IX era zoófilo. Urbano II criou uma lei que permitia aos padres terem amantes, desde que pagassem um imposto.

Alexandre III fazia sexo com as fiéis a troco de perdões e deixou 62 filhos. Foi expulso, mas a Igreja teve de lhe conceder uma pensão vitalícia, para poder sustentar a criançada.

Gregório I gostava de punir as mulheres pecadoras, despindo-as e dando-lhes açoites. Bonifácio VI rezava missas privadas só para mulheres e João XI violou, durante quatro dias, uma mãe e duas filhas. Ao mesmo tempo.

 

 

1. João Paulo II
Acusado de ter um filha secreta

 

Em 1995, o norte-americano Leon Hayblum escrevia um livro polémico, em que dizia ser pai da neta de João Paulo II. Durante a oupação nazi da Polónia, Wojtyla terá casado, secretamente, com uma  judia. Do enlace nasceu uma rapariga, que o próprio pai entregou, com seis semanas, a um convento local. No seu pontificado especulou-se muito sobre as namoradas que teve antes do sacerdócio. O Papa admitiu algumas, mas garantiu nunca ter tido sexo. No Vaticano, fazia-se acompanhar por uma filósofa norte-americana, Anna Teresa Tymieniecka, com quem escreveu a sua maior obra filósofica. Acabaram zangados, supostamente por ciúmes.

 

2. Paulo VI
 Homossexual?

 

Assim que chegou ao Vaticano, Paulo VI mostrou-se muito conservador em relação às matérias ligadas à sexualidade. Em 1976, indignado com as declarações homofóbicas de Paulo VI, um historiador e diplomata francês, Roger Peyrefitte, contou ao mundo que, afinal, o Papa era homossexual e manteve uma relação com um actor conhecido. O escândalo foi tremendo: Paulo VI negou tudo e o Vaticano chegou a pedir orações ao fiéis do mundo inteiro pelas injúrias proferidas contra o Papa. Paulo VI morreu em 1978, aos 81 anos, depois de 15 pontificado, vítima de um edema pulmonar causado, em boa parte parte, pelos dois maços de cigarros que fumava por dia.

 

3. Inocêncio X
Amante da cunhada

 

Eleito no conclave de 1644, Inocêncio X manteve uma relação com Olímpia Maidalchini, viúva do seu irmão mais velho – facto que lhe rendeu o escárnio das cortes da Europa. Inocêncio X não era, aliás, grande defensor do celibato. Olímpia exercia grande influência na Santa Sé e chegou a assinar decretos papais. A dada altura, o Papa apaixonou-se por outra nobre, Cornélia, o que enfureceu Olímpia. Mesmo assim, foi a cunhada quem lhe valeu na hora da morte e quem assegurou o funcionamento do Vaticano quando Inocêncio estava moribundo. Quando morreu, em 1655, Olímpia levou tudo o que pôde da Santa Sé para o seu palácio em Roma, com medo de que o novo Papa não a deixasse ficar com nada.

 

4. Leão X
Morreu de sífilis

 

Foi de maca para a própria coroação, por causa dos seus excessos sexuais. Depois de Júlio II ter morrido de sífilis, em 1513 chega a Papa Leão X, que gostava de organizar bailes, onde os convidados eram somente cardeais e onde jovens de ambos os sexos apareciam com a cara coberta e o corpo despido. O Papa gostava de rapazes novos, às vezes vestia-se de mulher e adorava álcool. “Quando foi eleito tinha dificuldade em sentar-se no trono, devido às graves úlceras anais de que sofria, após longos anos de sodomia”, escreve Frattini. Estes e outros excessos levaram Lutero a afixar as suas 95 teses – que lhe garantiram a excomunhão em 1521. Leão X morreu com sífilis aos 46 anos.

 

5. Alexandre VI
O Insaciável

 

Gostava de orgias e obrigou um jovem de 15 anos a ter sexo com ele sete vezes no espaço de uma hora, até o rapaz morrer de cansaço. Teve vários filhos, que nomeou cardeais. Assim que chegou ao Papado, em 1431, trocou a amante por uma mais nova, Giulia. Ela tinha 15 anos, ele 58. Foi Alexandre VI quem criou a célebre “Competição das Rameiras”. No concurso, o Papa oferecia um prémio em moedas de ouro ao participante que conseguisse ter o maior número de relações sexuais com prostitutas numa só noite. Depois de morrer, o Vaticano ordenou que o nome de Alexandre VI fosse banido da história da Igreja e os seus aposentos no Vaticano foram selados até meados do século XIX. 

 

6. João XXIII
Violou irmãs e 300 freiras

 

Não aparece na lista oficial de Papas e acabou preso em 1415. O antipapa conseguia dinheiro a recomendar virgens de famílias abastadas a conventos importantes. Mas violava-as antes de irem. Tinha um séquito de 200 mulheres, muitas delas freiras. Criou um imposto especial para as prostitutasde Bolonha. Tinha sexo com duas das suas irmãs. Defendia-se, dizendo que não as penetrava na vagina e que por isso não cometia nenhum pecado. Foi julgado, acusado de 70 crimes de pirataria, assassinato, violação, sodomia e incesto. Entre outros factos, o tribunal deu como provado que o Papa teve sexo com 300 freiras e violou três das suas irmãs. Foi deposto do cargo e preso. Voltou ao Vaticano, anos mais tarde, como cardeal.

 

7. Bento IX
Sodomizava animais

 

Chegou a Papa em 1032 com 11 anos. Bissexual, sodomizava animais e foi acusado de feitiçaria, satanismo e violações. Invocava espíritos malignos e sacrificava virgens. Tinha um harém e praticava sexo com a irmã de 15 anos. Gostava, aliás, de a ver na cama com outros homens. “Gostava de a observar quando praticava sexo com até nove companheiros, enquanto abençoava a união”, escreve Eric Frattini. Convidava nobres, soldados e vagabundos para orgias. Dante Alighieri considerou que o pontificado de Bento IX foi a época em que o papado atingiu o nível mais baixo de degradação. Bento IX cansou-se de tanta missa e renunciou ao cargo para casar com uma prima – que o abandonaria mais tarde.

 

8. Clemente VI
Comprou bordel

 

Em 1342, com Clemente VI chega também à Igreja Joana de Nápoles, a sua amante favorita. O Papa comprou um “bordel respeitável” só para os membros da cúria – um negócio, segundo os documentos da época, feito “por bem de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Tornou-se proxeneta das prostitutas de Avinhão (a quem cobrava um imposto especial) e teve a ideia de conceder, duas vezes por semana, audiências exclusivamente a mulheres. Recebia as amantes numa sala a poucos metros dos espaços em que os verdugos da Inquisição faziam o seu trabalho. No seu funeral, em Avinhão, foi distribuído um panfleto em que o diabo em pessoa agradecia ao Papa Clemente VI porque, com o seu mau exemplo, “povoara o inferno de almas”.

 

9. Xisto III
Violou freira e foi canonizado

 

Obcecado por mulheres mais novas, foi acusado de violar uma freira numa visita a um convento próximo de Roma. Enquanto orava na capela, o Papa, eleito em 432, pediu assistência a duas noviças. Violou uma, mas a segunda escapou e denunciou-o. Em tribunal, Xisto III defendeu-se, recordando a história bíblica da mulher que foi apanhada em adultério. Perante isso, os altos membros eclesiásticos reunidos para condenar o Papa-violador não se atreveram a “atirar a primeira pedra” e o assunto foi encerrado. Xisto III foi, aliás, canonizado depois de morrer. Seguiu-se-lhe Leão I, que também gostava de mulheres mais novas e que mandou encarcerar uma rapariga de 14 anos num convento, depois de a engravidar. 

 

10. João XII
Morto pelo marido da amante

 

Nos conventos rezava-se para que morresse. João XII era bissexual e obrigava jovens a ter sexo à frente de toda a gente. Gozava ao ver cães e burros atacar jovens prostitutas. Organizou um bordel e cometeu incesto com a meia-irmã de 14 anos. Raptava peregrinas no caminho para lugares sagrados e ordenou um bispo num estábulo. Quando um cardeal o recriminou, mandou-o castrar. Um grupo de prelados italianos, alemães e franceses julgaram-no por sodomia com a própria mãe e por ter um pacto com o diabo para ser seu representante na Terra. Foi considerado culpado de incesto e adultério e deposto do cargo, em 964. Foi assassinado ­– esfaqueado e à martelada – em pleno acto sexual pelo marido de uma das suas várias amantes.

 

 


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publicado por Riacho, em 21.07.10 às 21:09link do post | favorito

Recebemos este e-mail com um convite à resposta a um questionário para homosexuais, bissexuais e transexuais com mais de 50 anos. A nossa colaboração é importante no estudo do envelhecimento e minorias sexuais. Participa, não custa nada!

 

"Ola, O meu nome é Julieta Azevedo e venho contactar-vos para vos pedir ajuda, para divulgar a investigação que estou a desenvolver, com a ajuda do Professor Henrique Pereira, meu supervisor, sobre as necessidades psicossociais e de saude no envelhecimento das minorias sexuais. Este tema, foi proposto pela Unidade de Investigação em Psicologia da Saúde, sediada no Instituto Superior de Psicologia Aplicada e gere-se pelo regulamento de Formação Avançada e Qualificação dos Recursos Humanos da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Eu sou aluna do 2º ano de Psicologia, 2009/2010, na Universidade da Beira Interior e esta investigação surge no âmbito de uma Bolsa de Integração na Investigação que estuda o GÉNERO, IDENTIDADE E SAÚDE SEXUAL, tendo como tema específico: Envelhecimento e minorias sexuais: ambiente psicossocial e necessidades de saúde. A realidade é que no nosso país existem poucos estudos que nos digam qual é o status da nossa população sénior homossexual. Para conseguir uma amostra significativa que possa dar resultados consistentes e fiáveis, é necessário que este estudo seja divulgado em massa! Por isso deixo em seguida o link que permite aceder ao questionário que pretende averiguar qual a realidade das minorias sexuais, com mais de 50 anos, em Portugal. Eu estou a fazer este estudo através de um questionario, que está disponível online e para divulgar mais facilmente o estudo, fiz um blog com toda a informaçao sobre a investigação que gostaria que divulgassem : http://www.investigacaominorias.blogspot.com/ e nesse blog as pessoas podem aceder e responder ao questionário online através do link: http://spreadsheets.google.com/viewform?formkey=dDhqcGtPOWZlMTFUNk9tVWtaanNKc0E6MA Gostaria ainda que se fosse possível me enviassem mais contactos de pessoas pertencentes a esta amostra, homossexuais, bissexuais e transexuais com mais de 50 anos.

Obrigada desde já, e agradecia que respondessem assim que possivel.

Atenciosamente Julieta Azevedo"


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publicado por Riacho, em 22.10.09 às 01:08link do post | favorito

Olá

 

A notícia já tem uns meses mas não deixa de ser chocante ver a contradição entre a moral sexual católica e a mensagem bíblica. É chocante, a falta de respeito pela dignidade humana, de certas posições do Vaticano. Vem Espírito de sabedoria e traz discernimento aos senhores do poder Vaticano.

 

Ampliar FotoFoto: Divulgação

 

Justiça italiana decidiu que fazer sexo com preservativo é motivo para anular o casamento. (Foto: Divulgação)

 

A Justiça da Itália decidiu que fazer sexo com preservativo (camisinha) pode ser utilizado como motivo para anular o casamento, de acordo com reportagem do jornal italiano "Il Messaggero".

 

A Suprema Corte de Justiça do país ratificou uma decisão do Vaticano, que, em 2005, anulou o casamento de um casal identificado como Fabio N. e Elizabeth T., porque eles fizeram sexo seguro.

 

A Suprema Corte negou provimento ao recurso de Elizabeth, que contestava a anulação de seu casamento com Fabio.

 

Segundo a mulher, eles tinham feito sexo protegido para evitar que o marido, que sofre da "Síndrome de Reiter", transmitisse a doença para um futuro filho.

 

Mas, para a Igreja, as práticas que excluem a procriação podem invalidar o casamento religioso.

 

Mas, para Elizabeth, esse ponto de vista "contrasta com a proteção da saúde tanto da mulher quanto da criança".

 

Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/PlanetaBizarro/0,,MUL965793-6091,00-ITALIA+DECIDE+QUE+SEXO+COM+CAMISINHA+E+MOTIVO+PARA+ANULAR+O+CASAMENTO.html

 

 


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publicado por Riacho, em 30.07.09 às 23:21link do post | favorito

 

30/7/2009
 
Uma história do recalque sexual cristão
 

Sacralizando o casal, os evangelhos celebram a sexualidade como rito íntimo. O pensamento agostiniano e o monaquismo ocidental vão em seguida reduzir o sexo ao “pecado da carne”. Uma educação culpabilizante que marcará gerações de católicos.

Essa é a opinião de Elisabeth Dufourq, doutora em ciências políticas da França, em entrevista a Jennifer Schwarz, publicada na revista Le Monde des Religions, 02-07-2009. A tradução é de Benno Dischinger.

Eis a entrevista.

O que nos dizem os evangelhos sobre a
 questão da sexualidade?

Jesus realiza seu primeiro milagre por ocasião de um casamento (Jo 2). As bodas de Canásão uma festa em que o vinho da felicidade deve correr em abundância. A humanidade do evangelho é sexuada e feliz de o ser. Mas, o casamento é uma festa quem implica um casamento duradouro, ainda mais definitivo do que na tradição judaica (Mt 19,4). Jesus considera o casal como gerador da humanidade (Gn l: “Homem e mulher Ele os fez... e os dois serão uma só carne.”). Por isso ele ultrapassa a Lei que admite o repúdio e denuncia principalmente a “dureza do coração” daquele ou daquela que abandona. Esta firmeza de princípio contrasta com a compaixão com a qual ele trata as mulheres esmagadas pelo rigor de uma lei sempre interpretada pelo homem. Por exemplo: Jesus salva a vida de uma mulher adúltera, arrastada para fora da cidade para ser apedrejada: “Quem jamais pecou atire a primeira pedra” (Jo 8). Implicitamente, ele recoloca o problema da falta sexual numa perspectiva de justiça. Se existe uma mulher adúltera, então houve também um homem... Ele também não condena a mulher samaritana (Jo 4) que teve cinco maridos e vive com um sexto. E é precisamente a ela que ele revela por primeira vez que ele é o Messias. Isso é ao mesmo tempo uma celebração da ternura e uma homenagem feita à mulher desprezada.

Os evangelhos evocam a questão da sexualidade de maneira mais direta?

Por pudor, o Cristo compara o Reino dos céus a um festim de núpcias, mas ele jamais fala do como da sexualidade. Ele jamais diz o que deveria ou não deveria se passar no leito dos esposos. Nos evangelhos, tudo o que é um dom gratuito deve permanecer em segredo (Mt 6): a esmola, o jejum, a prece. Um dos raros teólogos medievais que não será obsedado pelo pecado sexual, Rupert de Deutz, compara a união dos corpos à prece que se deve fazer em segredo. A sexualidade é um rito. O casal constituído é sagrado. O vizinho deve respeitá-lo, mesmo em pensamento (Mt 5, 27-28). A fortiori o homem de Deus.

Jamais falar do como da sexualidade não é uma maneira de negá-la?

Não. Mesmo Ovídio diz, na Arte de amar, que, para resguardar sua dignidade, o rito do herói devia permanecer secreto. Que o Cristo jamais fale do como da sexualidade, não é negá-la, mas humanizá-la. O amor de que falam os evangelhos engloba o Eros (o prazer de amar), mas ele o transcende com frequência em Ágape (o amor pelo outro). As bem-aventuranças (Mt 5, Lc 6) falam de felicidade, de justiça, de caridade, e não de êxtase amoroso.


São Paulo vai desempenhar um papel importante no recalque da sexualidade?

Em longo prazo, é preciso distinguir a mensagem de Paulo e sua instrumentalização. Em sua época, o porto de Corinto contava mais 10.000 prostitutas. Nos ambientes judeus helenizados, ousar-se-ia dizer “platonizados”, ao invés, a influência estóica era forte, em reação ao erotismo ambiental e desenfreado. Nesse contexto, são Paulo tem por missão implantar duradouramente comunidades na Grécia e em Roma. Ele é, pois, muito cioso por decência; os fiéis devem renunciar à fornicação, ao incesto, aos escândalos (1 Cor 5). O responsável por uma comunidade deve ser “marido de uma só mulher” (Tt 1, 6). Em termos de moral conjugal, enfim, quando Paulo escreve “Mulheres, sede submissas aos vossos maridos”, ele não escreve nada de novo no Mediterrâneo de seu tempo. Mas, quando ele diz: “Maridos, amai vossas mulheres como o Cristo amou sua igreja” (Ef 5, 22-23), ele fala de um engajamento místico realmente novo que, em seguida, será pervertido. Durante séculos e até o Código de Napoleão, o homem utilizará como um maná a fórmula paulina: “O marido é o chefe da mulher, como o Cristo é o chefe da Igreja” (Ef 5, 23).

Mais tarde, a recepção desta mensagem se dará diversamente no Império cristão do Oriente e do Ocidente...

Após a paz constantiniana (IV século), os costumes do Oriente e do Ocidente, bem cedo invadidos pelos bárbaros, se dissociam culturalmente. Muitos bispos do Oriente são casados e filhos de bispos. Eles respeitam suas mães, seus filhos e suas esposas. Porém, conceitualmente, eles admiram a virgindade porque, como bons discípulos de Platão e deAristóteles, eles são escandalizados pelo ciclo da geração e da corrupção. Com que rima um mundo feito para se gerar e depois morrer, se gerar novamente e depois ainda morrer? Isso é um absurdo para os Padres gregos. Gregório de Nissa, embora casado, reconhece, sem o adotar, que a melhor solução seria a de permanecer virgem. Mas, com humor, ele julga suspeitos aqueles que falam dos esplendores da virgindade com estranha obstinação. Os Padres filósofos são felizes em família, mas eles gostariam que o essencial da vida consistisse em elevar-se acima do terrestre moral, até a pureza dos anjos. Um escrito apócrifo de fins do século quinto, atribuído a Dionísio Areopagita, descreve assim as ascensões até Deus da alma purificada. Sua influência sobre a Idade Média oriental e ocidental será considerável. Em sua pureza de intenção, ele permite compreender a espiritualidade do monge.


No Ocidente é a influência de Santo Agostinho que vai desempenhar um papel determinante. Qual foi sua especificidade?

Africano de origem, numa época em que a implantação do cristianismo é forte na Áfricaromana, Agostinho somente se converte tardiamente, após ter conduzido exitosamente uma carreira de retórico que o conduzirá a Milão, então capital do império do Ocidente. Desde seus anos de estudos em Cartago, ele guarda a lembrança de uma vida de devassidão, levada até o desgosto e à rejeição das mulheres. Compartilhada entre sua admiração por sua mãe, santa Mônica, e seu apego a uma companheira que participará de sua vida durante quatorze anos e lhe dará um filho – mas do qual ele nem sequer cita o nome -, ele também fica fascinado e ao mesmo tempo horrorizado pelo maniqueísmo, do qual ele só se livrou na idade de 28 anos; o homem, admitiu ele por longo tempo, não domina as forças do bem e do mal. Desde o pecado original, pensa ele, num contexto de invasão bárbara, a humanidade está em perigo de condenação iminente. A mulher é a causa, já que Eva colheu a maçã por primeiro. Uma vez que o Cristo jamais fala do pecado de Eva, Agostinho inscreve este pecado quase geneticamente na natureza humana e, mais gravemente, na natureza da mulher. Esta certeza, ancorada no pensamento medieval, será dogmatizada por uma longa série de teólogos, desde santo Anselmo, no século doze, até são Tomás que, no século treze, reforçará este preconceito pela doutrina da lei natural, sobre a qual os teólogos cristãos não terão nenhuma dificuldade em estar de acordo com os do islã, já que uns e os outros, todos masculinos, se referirão ao segundo relato do Gênesis.

A influência intelectual de Agostinho vai, então, marca o Ocidente de maneira indelével?

Santo Agostinho escreveu imensamente, num belíssimo latim. Sua obra será minuciosamente recolhida e mais tarde recopiada pelos monges beneditinos. É assim que sua influência se estenderá sobre toda a era do primeiro monaquismo beneditino, até a virada dos séculos nono e décimo, no momento da reforma que triunfa na abadia beneditina de Cluny.

Qual sua relação com a sexualidade?

Malgrado as advertências conciliares, o clero da primeira Idade Média ocidental está longe de ter o desapego dos anjos. No momento das invasões normandas e dos assaltos sarracenos, numerosos bispos casados são capitães de guerra, defensores armados de suas cidades. Transmitidos aos seus filhos, seus bispados se tornam feudos hereditários e militares. A própria Roma está nas mãos de papas mais ou menos guerreiros, submetidos à influência de suas amantes ou de suas mães. É em reação a isso que triunfa a reforma de Cluny. A obra de Cluny será imensa, porém ao preço do sacrifício da mulher. Casto, o monge beneditino não o é sempre em pensamento, já que ele encara a mulher com horror e fascinação. Um século mais tarde, a reforma cisterciense se apresenta ainda mais radical. Os escritos sobre as mulheres, não somente misóginos, porém mórbidos, traduzem à evidência as frustrações dos monges que reprimem sua sexualidade. Malgrado isso, o sucesso das ordens monásticas é tal que no século onze o papaGregório VII decide organizar a igreja ocidental como um grande mosteiro. Dali em diante, bispos e curas costumam rejeitar suas esposas e viver comunidade. Esta reforma levará décadas e séculos para se impor.

Em fins do século XII, por uma espécie de sublimação, a imagem da Virgem aparece...

Sim. Atingimos a época das cruzadas. Paradoxalmente, são Bernardo, o grande reformador cisterciense, que se insurge contra o laxismo dos padres, é também o gênio que inventa uma prece de ternura: a Ave Maria. No meio dos clérigos que desvalorizam a mulher de todos os dias, o ideal feminino é nela sublimado. Enquanto no Oriente ortodoxo, a Virgem representa a humanidade inteira conduzindo Deus, a Theótokos, no Ocidente nasce e adquire seu destaque a imagem da “Imaculada Conceição”, acolhedora porém nascida diferente de todas as outras mulheres. Rapidamente a igreja institucional se identifica com a Virgem Maria, mãe de Deus, mãe do Cristo, mãe do povo, coroada nos pórticos das catedrais. Na tradição católica esta concepção durará até sua dogmatização em meados do século vinte. Na tradição reformada, Lutero denunciará um risco de idolatria mariana, sem refutar a virgindade do coração que permite acolher o milagre de um Deus encarnado.

Chegamos aos momentos trágicos que seguem a peste negra, as misérias da guerra de Cem anos, o avanço inexorável do islã e depois a queda de Constantinopla. Uma neurose coletiva parece tomar conta de certos clérigos, que tomam as mulheres por alvos de seus ódios. Por quê?

Muitos clérigos vivem então em círculos universitários cada vez mais fechados e fundamentalistas. O que está fora da norma deve ser erradicado. A Inquisição, implantada no século XIII para lutar contra as heresias encara com horror os saberes das mulheres. A mesma se baseia numa idéia da razão, haurida de uma péssima transmissão das categorias de Aristóteles. Já há séculos os homens temiam as sábias-mulheres, herboristas capazes de transmitir por via oral os segredos de filtros de amor ou de esterilidade. Os lugares de transmissão feminina, os lavatórios, as árvores mágicas, os lugares de parto, eram tabus para o homem. Somente os confessores obtinham eco de seus segredos herdados de antigos saberes romanos ou pré-históricos. Crendo cristianizar os campos, eles os condenavam como superstições e, a partir do século XIV os próprios papas acreditam na fábula dos sábados de bruxas. Formam-se, então, experts em demonologia, inexoravelmente lógicos a partir de postulados absurdos. Sabe-se que devastações provocaram esses ódios – cuja perversão sexual é por vezes evidente – e que número assustador de fogueiras foram armadas em todas as confissões cristãs – católicas, ortodoxas e reformadas – e isso até meados do século dezoito!


Pai da reforma protestante, Lutero é considerado como um emancipador. Não obstante, o luteranismo parece por vezes mais severo do que o catolicismo; pode explicar esta contradição aparente? Em sua origem, Lutero é um monge agostiniano obsedado pela idéia do inferno. Ele não crê no purgatório, essa espécie de “sessão de recuperação” que, graças à indulgência divina, permite esperar um acesso diferido ao Paraíso, após anos de purificação. Amoedando os anos de indulgência de maneira odiosa, o papado de seu tempo arruinou esta idéia de justiça misericordiosa. Tornado emancipador dos crédulos, Lutero, uma vez casado, se encontra suplantado pela amplitude da revolução que ele desencadeou. Calvino, por sua vez, organiza a reforma genebrina de maneira muito rigorista, em torno do conceito agostiniano de predestinação das almas ao inferno.

E no século XVII?

Na confissão católica, uma corrente jansenista, rigorista e amplamente burguesa cultiva também a angústia da predestinação. Um século mais tarde, este movimento adquire amplitude em pleno período das Luzes e de uma libertinagem na qual as crianças abandonadas pagam as custas aos milhares. Entre esses extremos, o próprio Voltaire o admite, o cura de campanha desempenha com muita frequência o papel de moderador. É ele que preside os batismos e os ritos de remissão [relevailles] das mulheres. Embora o segredo de confissão não seja traído, tudo nos diz que ele conhecia os sofrimentos das mulheres rasgadas em partos, daquelas que enterram um feto nos campos ou que, na cidade, abandonam seus bebês nos degraus das igrejas. Os registros paroquiais mostram que dessa época datam os primeiros sintomas de espaçamento voluntário dos nascimentos. Esse modus vivendi parece ter se mantido de qualquer jeito em muitas regiões rurais até meados do século vinte, e isso malgrado o respeito de muito bom grado prestado pela igreja às famílias numerosas que lhe davam mais filhos como sacerdotes ou religiosas.

E depois?

Hoje em dia se mensura mal até que ponto as mulheres do século dezenove, e mesmo de inícios do século vinte, foram esmagadas por uma educação culpabilizante que ultrapassava em muito o domínio da sexualidade. Sem mesmo evocar o “pecado da carne”, tão assustador que eles se calam e se resguardam de citar a Bíblia que fala dele, os missais para uso das mulheres não cessam de dizer que comungar em estado de pecado é assinar sua condenação eterna. Os maridos se defendem pela incredulidade e infidelidade, mas, pelo menos no ambiente burguês, as mulheres tem poucas escapatórias. A abnegação e o sacrifício são apresentados como florões de suas virtudes “naturais”.

A revolução da sexualidade no coração dos casais de tradição cristã não veio da igreja, mas da medicina. Ela data da descoberta do ciclo hormonal feminino, nos anos 1930 e depois, em 1955, da síntese química dos hormônios permitindo à mulher escapar do elo inexorável entre a união dos corpos e a fecundação de um óvulo. Por temor de que ela não controle e por vezes não entenda, a igreja católica, diversamente das igrejas reformadas, se engaja então numa via que autoriza a dissociação entre a sexualidade e a procriação, mas na condição de empregar métodos decretados como naturais... e de uma ineficácia notória. Duas décadas após a 
Humanae Vitae, publicada em julho de 1968, a maioria dos casais católicos já haviam feito sua escolha. Eles haviam abandonado o médico das almas para consultar o médico dos corpos e, se fosse preciso, o psicanalista. Esta mudança foi capital para a igreja, que perdeu a antiga proximidade que ela mantinha com as famílias. O erro da Humanae Vitae foi, me parece, o de haver tentado introduzir um Diafragma nos milhões de quartos de esposos. A atitude cristã é antes a de sacralizar o casal, responsabilizando-o.

Para ler mais:

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=24364


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publicado por Riacho, em 02.06.09 às 19:43link do post | favorito

2/6/2009
 
Celibato, sexualidade e amor
 

Juan Masiá, jesuíta e professor de Bioética na Universidade São Tomás de Osaka(Japão), em artigo para o jornal El País, 31-05-2009, analisa a questão de celibato e o sacerdócio. Segundo ele, viver sem relação sexual pode ter sentido, mas viver sem amar desumaniza. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

O celibato do padre origina abusos? Casamento e ministério são compatíveis? Renunciar ao sexo é inumano? Perguntas desafiantes pedem respostas audazes. Arrisquemo-nos a moldar em aforismos esse tema delicado.

1. Celibato não se opõe a casamento. Ambos contrastam com solteirices ou emparelhamentos insignificantes. A opção religiosa célibe pode ser minoritária; nem por isso elitista, nem melhor do que o casamento, nem monopoliza a dedicação apostólica ou o seguimento radical de Jesus.

2. Sexualidade é mais do que genitalidade, e amor é mais do que sexualidade. A espécie humana, ao amar, se diferencia por escolher na encruzilhada: ajudar-se a crescer pessoalmente ou a se destruir mutuamente.

3. Precisamos redescobrir a ternura, além da permissividade e do moralismo. Um beijo amoroso pode fundir duas pessoas mais intimamente do que um coito sem ternura. A psicologia social critica a obsessão an-orgasmo-fóbica, isto é, o medo a não se alcançar o orgasmo utópico prometido pela literatura excitante.

4. O assédio sexual do clero é abuso de poder e injustiça, não mero descumprimento de voto ou lastro de formação de seminário: crises de puberdade reprimidas explodem com atraso na forma de abusos e desvios na integração sexual. Reconhecidas sem se ocultar, será preciso cortá-las e repará-las.

5. Em vez de ética sexual proibitiva, uma ética construtiva das relações, centrada no respeito e na ajuda ao crescimento mútuo, pode valer para os casais heterossexuais ou homossexuais; para relações interpessoais em comunidades célibes; ou para relações de amizade entre pessoas com diversas opções de vida.

6. Compatível a vida em casal com o ministério, a ordenação poderia ser conferida a pessoas casadas, solteiras ou viúvas de ambos os sexos, com aptidão para animar, servir e unir as comunidades. A orientação sexual também não seria obstáculo para o celibato opcional. Homossexual, heterossexual ou assexual, o decisivo é a aptidão da pessoa.

7. Vários desenlaces são possíveis, se uma paixão incidir na opção celibatária: a)mudança de rumo de vida; b) repressão, mas com semeadura de expectativas daninhas;c) funambulismo por causa da corda bamba da vida dupla; c) na defensiva, a pessoa se incapacita para amar e, portanto, para o ministério; e) re-escolher a opção, com gratidão e dor, assumindo os limites e prosseguindo na aprendizagem de amar mais e melhor.

O celibato não nega o amor, mas acarreta três renúncias: à exclusividade de uma relação íntima; ao exercício da sexualidade; e à procriação e à formação de uma família. Não é fácil, sem repressões nem ambigüidades, integrá-las com a aprendizagem do amor. Viver sem relação sexual pode ter sentido, mas viver sem amar desumaniza.

Para ler mais:

in: http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=22781


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publicado por Riacho, em 21.05.09 às 14:59link do post | favorito

 

21/5/2009
 
 
O sexo dos clérigos
 

Qual é o sentido de reprimir as expressões da sexualidade, não apenas entre os clérigos, mas também na vida diária? O que ganha a fé católica com isso?, pergunta Tomás Eloy Martinez, escritor e jornalista, em artigo publicado no jornal El País,  20-05-2009. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

Quase se perdem na memória os tempos em que a Igreja Católica enfrentou desafios tão duros quanto os dos últimos anos. O que acontece não tem a gravidade do cisma litúrgico do bispo Marcel Lefebvre, tampouco o fervor revisionista na interpretação dos Evangelhos que desembocaram na Teologia da Libertação, e sim as violações de uma obrigação que não é matéria de dogma, mas de continua perturbação: o sexo dos clérigos.

Primeiro foram os delitos de pedofilia que, em dezembro de 2002, provocaram a renúncia do cardeal de Boston, Bernard Law, de quem se suspeitou de ocultação; 450 demandas milionárias por décadas de abusos contra menores deixaram a arquidiocese à beira da falência. 

Agora, mais uma vez, como costuma acontecer, o escândalo surge quando vem à tona algo que se tentava ocultar: a descendência do ex-bispo paraguaio Fernando Lugo,agora presidente do Paraguai. O bispo de Ciudad del Este, no Alto Paraná, Paraguai,Rogelio Livieres, disse que os seus colegas sabiam sobre Lugo faz tempo. “Não sei por que se mascaram os temas da Igreja e não se ventilam. Em nossa época (...) tudo se descobre no final”, afirmou Livieres

E encontrou uma instantânea refutação oficial: "O Conselho Episcopal Permanente lamenta e rejeita as expressões do monsenhor Livieres, que dá a entender que houve encobrimento e cumplicidade dos bispos do Paraguai sobre a conduta moral do então membro do colegiado episcopal, monsenhor Fernando Lugo".

As palavras de Livieres lembram às que o argentino monsenhor Jerónimo Podestá, impulsor do Movimento Latino-americano de Sacerdotes Casados, escreveu, em 1990, ao então presidente do Episcopado Argentino, cardeal Raúl Primatesta: "Vejo com pena que, em geral, vocês tenham uma visão bastante alienada e tímida: não sabem o que pensam e sentem as pessoas no mundo de hoje. A Igreja é o Povo de Deus e vocês sabem disso, mas no fundo continuam pensando que vocês são a Igreja".

Quando era bispo de Avellaneda na província de Buenos Aires, Argentina, no final dos anos de 1960, Podestá converteu-se em um pesadelo para a ditadura do general Juan Carlos Onganía. Reunia multidões de até 1 milhão de pessoas para cerimônias religiosas que se transformavam em espontâneas manifestações políticas. Para o regime foi um alívio quando o bispo anunciou, em 1967, a decisão de se casar. 

Podestá bateu várias vezes na porta do Vaticano sem conseguir que Paulo VI lhe retirasse a suspensão a divinis. Insistia em recordar que, se Jesus optou pelo celibato, não o impôs aos seus apóstolos, entre eles havia casados e solteiros. O ex-bispo de Avellaneda dizia que o celibato é um dom, não um mandato divino, e que nada impede de sentir a vocação sacerdotal ao estar privado dessa graça. 

A maioria dos católicos ignora que os sacerdotes e os bispos não tinham proibido o casamento durante os primeiros 10 séculos de vida cristã. Além de São Pedro, outros seis papas eram casados e – o mais chamativo ainda – 11 papas foram filhos de outros papas ou de membros da Igreja. 

Em 1073, Gregório VII impôs o celibato. Um dos seus teólogos, Pedro Damián,afirmou que o casamento dos sacerdotes era herético, porque os distraia do serviço ao Senhor e contrariava o exemplo de Cristo. Se a intenção do papa era restaurar a derrocada moral do clero e purificar a igreja com exemplos de castidade, dezenas de historiadores supõem que a decisão de impor o celibato também foi um meio para evitar que os bens dos bispos e dos sacerdotes casados fossem herdados pelos seus filhos e viúvas em vez de beneficiar à Igreja. 

Qual é o sentido de reprimir as expressões da sexualidade, não apenas entre os clérigos, mas também na vida diária? O que ganha a fé católica com isso? Teme-se que o prazer distraia da oração, da relação com Deus, mas o desprezo pela mulher nos seminários e a contradição dos impulsos naturais do homem na realidade não fortalecem os vínculos entre a Igreja e o povo de Deus. Ao contrário, o celibato obrigatório costuma desanimar algumas vocações sacerdotais e provoca deserções no clero. 

Pensava-se que "a vigente lei do sagrado celibato" devia seguir "unida firmemente o ministério eclesiástico", Paulo VI, atento aos clamores da modernização do Concílio Vaticano II, analisou as objeções em uma encíclica memorável, Sacerdotalis caelibatus, de 1967. Ali se perguntou: "Não terá chegado o momento de abolir o vínculo que, na Igreja, une o sacerdócio ao celibato? Não poderia ser facultativa esta difícil observância? Não sairia favorecido o ministério sacerdotal se fosse facilitada a aproximação ecumênica?" 

Por acaso Deus não se preocupou com os deslizes do ex-bispo Lugo, porque a sua glória está além do que estabelecem os seres humanos. Mas a inflexibilidade da doutrina deixa entre os católicos a pergunta sobre o sentido e as normas criadas pela Igreja há 10 séculos, que não existiam antes e não teriam por que existir para sempre. 

Jesus pregou a humildade, o amor a Deus e aos seus semelhantes. Suas lições de vida continuam sendo claras. Às vezes, no afã por interpretá-las, os seres humanos as escurecem.

Para ler mais:

in: http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=22441


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