Proclamado pelo papa Pio XI, em 1934, patrono da cidade de Lisboa, Santo António, celebrado a 13 de Junho, é considerado um santo padroeiro contra todos os males.
Nascido em Lisboa, junto da Sé, ou Igreja de Santa Maria Maior, no seio de uma família de pequena nobreza, no ano de 1189, 1191, 1192 ou 1195, supostamente no dia 15 de Agosto, de seu nome Fernando de Bulhões, Santo António de Lisboa, ou Santo António de Pádua, por ter vivido e pregado nesta cidade de Itália, terá iniciado a sua instrução na escola capitular que funcionava nas dependências da catedral.
Aos quinze anos entra para o Mosteiro de São Vicente de Fora, dos frades Agostinhos, transitando depois para o Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, onde se entregou, fervorosamente, ao estudo e à mística. Ordenado padre aos vinte e cinco anos, troca o hábito branco dos Agostinhos pelo castanho dos Franciscanos e entra no Convento de Santo Antão nos Olivais, altura em que muda de nome, passando a chamar-se António.
Adquiridos em Portugal os conhecimentos intelectuais possíveis para a época, parte para Marrocos com a intenção de poder levar a cabo a missão que mais ambicionava desenvolver – a de evangelizar. Pouco tempo depois, devido ao clima, adoece gravemente e embarca de regresso a Portugal. O navio, porém, apanhado por uma tempestade, aporta na Sicília, onde se encontra, então, São Francisco de Assis, pelo qual nutria devotada admiração e de quem se torna amigo.
Corria o ano de 1221 e António radica-se no Convento de Arcella, em Pádua, cidade que pouco a pouco se rende aos seus dotes de grande pregador, extasiando-se perante a simplicidade, a força e a fé dos seus sermões – por vezes a denunciarem lúcida e corajosamente os males sociais do seu tempo. A fama da sua santidade, caridade para com os pobres, sabedoria e eloquência depressa se espalhou pelo Mundo, não havendo templo que albergasse as multidões que acorriam a ouvi-lo, facto que levava a que as suas pregações fossem feitas ao ar livre.
Célebre ficou o seu sermão aos peixes, que proferiu, de acordo com a tradição, na costa do Adriático, região onde imperavam os hereges cátaros e patarinos: «Ouvi a palavra de Deus, vós, peixes do mar e do rio, já que não a querem escutar os infiéis hereges», logo acudindo à tona milhares de peixes, mostrando a cabeça fora da água. Vários foram também os templos que se construíram em seu louvor por todo o país, entre eles o sumptuoso Convento de Mafra, que lhe foi consagrado na altura do nascimento de D. José I, em cumprimento da promessa de D. João V, que desejava um herdeiro.
Denominado pelo povo cristão como «o Santo de Todo o Mundo» (conforme a famosa frase de Leão XIII), Santo António, consumido pelo esforço e pela doença, morre a 13 de Junho de 1231, no Convento de Arcella, em Camposampiero. É canonizado a 30 de Maio do ano seguinte, constituindo a sua canonização a mais rápida da história da Igreja, por bula do papa Gregório IX, que, segundo dizia, se orgulhava de o ter conhecido e escutado e a quem chamou «Arca das Escrituras».
Santo António deixou os Sermões, que lhe valeram a inclusão do seu nome entre o reduzido número dos Doutores da Igreja, distinção que lhe foi atribuída pelo papa Pio XII, a 16 de Janeiro de 1946. Devido aos seus inúmeros milagres, fizeram-se peregrinações ao seu sepúlcro, em Pádua, à semelhança das que foram feitas a Jerusalém, a Roma e a outros importantes santuários. Teve ainda a honra, reservada a poucos santos, de possuir uma liturgia particular, privilégio que na sua Ordem só compartilhou com São Francisco.
Iconograficamente, Santo António apresenta-se como um jovem vestido de franciscano, mas também de cónego regrante de Santo Agostinho ou de Menino de Coro, segurando um livro na mão esquerda, sobre o qual se senta o Menino Jesus (a partir do século XVI elemento inseparável da imagem do santo), e com a direita uma cruz e um lírio, símbolo da pureza, que aparece como seu atributo em meados do século XV.
Soledade Martinho Costa
Do livro «Festas e Tradições Portuguesas», Vol. V
Ed. Círculo de Leitores