ESPAÇO DE ENCONTRO E REFLEXÃO ENTRE CRISTÃOS HOMOSSEXUAIS em blog desde 03-06-2007
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publicado por Riacho, em 26.10.10 às 22:41link do post | favorito
 

 

 

A Márcia toca desde os 13, compõe com a guitarra e a voz. As letras dela são poemas, muitos de amor, embora não todos. Quase nunca sai da harmonia. Mantém-se no fio da beleza, correndo o risco do sentimental, sem se assustar com ele, mas resistindo-lhe através do requinte poético e melódico. As letras nem sempre são fáceis de entender — ela cifra-as, troca as voltas da sintaxe, da semântica e da dicção. Aprendeu a tirar proveito da má dicção da língua corrente (o "comer" das palavras, por exemplo) ou dos seus próprios defeitos. Por vezes consegue tornar quase abstracta a língua materna.

 

Quando entra no transe da canção, ela canta com a alma a fazer vibrar as cordas; e todo o corpo é uma caixa de ressonância, propaga-se aquilo pelo espaço… e nós vibramos com ela – por ressonância, somos tocados. Em palco, é um pouco tímida, simples e quase frágil. E essa fragilidade deixa-a brilhar, pois tudo aquilo é seu, límpido e honesto.

 

Estudou Pintura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, mas foi sempre maturando a música. Durante anos manteve a actividade dupla, e só recentemente o caminho de cantora se desenhou à sua frente com toda a nitidez, e aí decidiu dedicar-se-lhe totalmente. Estava só à espera do momento certo, da editora certa, das condições certas, do aperfeiçoamento das canções. O fruto maduro desprende-se agora com suavidade e doçura. E nós colhemos, gratos.

 

No meio da arte, muitos ficam surpresos ao ouvir-lhe a música (“então mas tu afinal agora fazes música?”). No meio da música surpreendem-se também (“mas tu afinal estudaste pintura, e não música?!”). Mal sabiam uns e outros que era necessário percorrer aquele caminho para chegar aqui. Os que acompanharam a gestação da cantora impacientavam-se por vezes e tentavam incentivá−la para gravar, ir falar com editoras, “vender o seu peixe”, porque – diziam- ela era muito boa. Mas o momento não era ainda o certo. Era preciso sair do país, ter saudades, eram precisos ainda alguns amores e desamores, era preciso ganhar a mestria da guitarra, a confiança de estar sozinha em palco, a coragem da simplicidade… trabalhar com fé e paciência. A história deste disco, que se prepara há anos, é uma lição de paciência, da arte de saber esperar o momento.

 

Raquel Feliciano in http://www.optimusdiscos.com/discos/mrcia


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