ESPAÇO DE ENCONTRO E REFLEXÃO ENTRE CRISTÃOS HOMOSSEXUAIS em blog desde 03-06-2007
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publicado por Riacho, em 03.03.10 às 20:26link do post | favorito

Alguns bispos começam a afirmar que a posição da Igreja católica em relação aos homossexuais tem de mudar. O caminho vai começar a fazer-se por aqui. Abertura, diálogo e muita caridade para que a cúpula da Igreja católica veja as pessoas homossexuais de outra forma.

 

"Devemos nos habituar a considerar os homossexuais como irmãos e irmãs, com os seus problemas (como todos nós os temos), ajudando-os a viver serenamente a sua vida, sem discriminá-los a priori, corrigindo com prudência e caridade aquilo que surja publicamente de menos aceitável".

A opinião é de Luigi Bettazzi, bispo emérito de Ivrea e ex-presidente da Pax Christi, em artigo para a agência italiana Adista, nº. 18, 27-02-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Ao término de uma conferência sobre o Concílio promovida no início de fevereiro pelo grupo de homossexuais católicos Il Guado de Milão, a discussão acabou caindo bem rapidamente sobre temas ligados a esses problemas específicos. A primeira pergunta se referia à notícia de que um bispo emérito italiano teria declarado que não se pode dar a Comunhão ao homossexuais.

Eu respondi que essa declaração deveria ser inserida em seu contexto, mas poderia também expressar a opinião difundida de que homossexual é sempre quem compartilha a vida sexual física com uma pessoa do mesmo sexo e que, se a moral sexual cristã não admite o uso pleno da sexualidade senão no casamento, que consagra a união plena – espiritual e física – de duas pessoas, obviamente ela não o admite para duas pessoas do mesmo sexo.

Essa imediata identificação com uma homossexualidade ativa pareceria confirmada, por exemplo, pela recente determinação vaticana que exclui os homossexuais dos seminários. Também nesse caso, os homens da Igreja dão a impressão de compartilhar a mentalidade difundida que, no campo social, tende a discriminar e marginalizar quem é julgado diferente.

Acredito, mais do que nunca nesse caso, que se deve levar em conta o amadurecimento do conhecimento e da cultura. Na antiguidade, considerava-se que a homossexualidade era uma escolha feita arbitrariamente por motivos práticos (desse modo, os filósofos – segundo o próprio Sócrates – podiam evitar as complicações do casamento e da família), ou para satisfazer a passionalidade (eram conhecidos em alguns templos, ao lado das prostitutas sagradas, também os prostitutos sagrados), da qual derivavam então as duras condenações da Bíblia e da Igreja.

Hoje, a raiz da homossexualidade pode ser encontrada na própria estrutura fisiológica ou em situações de fato que incidiram inconscientemente na constituição pessoal. Ora, se até no casamento chegou-se a destacar que o fim primeiro é o amor e que a procriação é a sua consequência mais significativa, por que não reconhecer a amizades homossexuais graus de afetividade e de amor de intensidade tal a constituir entidades significativas na sociedade humana?

O fato de que, depois, esses laços possam às vezes levar a situações reprováveis (o que moralmente é chamado de pecado) é um problema para as consciências individuais (como o é também para os heterossexuais no exercício da sua sexualidade), mas isso não pode levar a reprovar automaticamente a característica de "homossexual".

Devemos reconhecer que, talvez, certas manifestações organizadas para reivindicar a dignidade dos homossexuais contra a difundida e antiga "homofobia" (a que levava o nazismo, e hoje certos países islâmicos, a condenar a homossexualidade como crime) podem se expressar de formas tão barulhentas e provocatórias (também contra a Igreja) que resultam contraproducentes, corroborando a atitude de desconfiança e de condenação. Mas cabe justamente aos cristãos, mesmo na clareza das suas próprias convicções, dar testemunho de respeito e de amor.

Há na Igreja sinais de repensamento. Penso, por exemplo, na diocese de Turim, que fez com que o assunto gerasse uma reflexão específica, com um livrinho (com prefácio até do cardeal arcebispo) que sugere as modalidades de uma pastoral concreta.

Acredito que devemos nos habituar a considerar os homossexuais como irmãos e irmãs, com os seus problemas (como todos nós os temos), ajudando-os a viver serenamente a sua vida, sem discriminá-los a priori, corrigindo com prudência e caridade aquilo que surja publicamente de menos aceitável, lembrando sempre o antigo ditado: "Unidade nas coisas necessárias e devidas, liberdade e respeito naquelas opináveis, mas, em tudo e sempre, caridade".

 

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=30285

 


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publicado por Riacho, em 03.09.09 às 19:59link do post | favorito

 "Em matéria de condenação das violências contra os homossexuais creio realmente que tenha chegado o tempo de falar, para não se tornar inconscientemente cúmplices daqueles desgraçados que, como o agressor de sexta-feira passada [de um jovem italiano que, por causa dos ferimentos, ainda está hospitalizado], se esquecem de sua humanidade quando vêem dois homens que trocam um beijo".

 

Essa é a opinião de Gianni Geraci, formado em estatística pela Universidade de Pádua. Depois de ter participado ativamente na vida de algumas associações católicas, entrou em contato com o Gruppo del Guado de Milão, um grupo de pesquisas sobre fé e homossexualidade. Em 1996, foi nomeado porta-voz da Coordenação de Grupos de Homossexuais Cristãos na Itália. O artigo foi publicado no jornal Il Guado, 25-08-2009. A tradução é de Benno Dischinger.

Eis o texto.

Já sei que muitos se escandalizarão quando lerem esta carta. Outros se porão a rir e me dirão que sou o costumeiro ingênuo que procura mudar o mundo escrevendo cartas inúteis. Algum anticlerical me acusará, depois, de alimentar a ilusão que haja em minha igreja alguém que escuta os homossexuais crentes como eu. Algum outro ainda excluirá o email com o qual decidi tornar público este meu texto e talvez me solicite não mais importuná-lo com aquelas que ele considera “lamúrias”.

Como vês, caro Papa, escrevendo-te corro o risco de causar incômodo a muitos.

Entre estes também poderias estar, pois espero realmente que eu possa pôr-te à escuta daquilo que escrevo, transformando assim, graças à ação misteriosa do Espírito, as pobres palavras que compõem minha carta naquilo que tu precisas saber para dar uma resposta eficaz a tantos homossexuais católicos que olham para ti com esperança.

Certamente terás sabido sobre Dino, aquele jovem homossexual que está baixado no hospital Santo Eugênio pelas feridas que sofreu por causa de uma agressão que se deu em Roma sexta-feira passada. A pessoa que o feriu não aprovava o fato de que Dino trocasse publicamente alguns sinais de ternura com outro jovem que conhecera naquela tarde. Essa pessoa os apostrofou, voaram palavras pesadas e, por fim, os agrediu ferindo-os com uma arma de corte.

Certamente não aprovas esta agressão, embora, provavelmente, com mérito na oportunidade de certas manifestações públicas de ternura entre duas pessoas do mesmo sexo, poderias pensar a coisa mais ou menos como o desgraçado que a praticou. Quando ainda eras Prefeito da Congregação para a doutrina da Fé, de fato tornaste público um documento no qual se lê, entre outras coisas, que “As pessoas homossexuais que declaram sua homossexualidade são em geral precisamente aquelas que consideram que o comportamento ou o estilo de vida homossexual seja indiferente ou mesmo bom e por isso digno de aprovação pública”, criticando aqueles projetos de lei que pretendiam tutelá-los (cf. Carta aos bispos dos Estados Unidos, de 23 de julho de 1992: Direitos sociais das pessoas homossexuais).

Seja claro, para evitar equívocos, que de fato não estou te comparando com o agressor de Dino. Tu o terias censurado educadamente e jamais terias aprovado a violência. O fato é que tuas admoestações, quando são lidas por um exaltado, correm o risco de se tornar uma desculpa que pode justificar uma homofobia que é tão mais perigosa quanto menos é reconhecida por aquilo que é. Digo isto porque foram tantas as pessoas que criticaram as vigílias de oração pelas vítimas da homofobia que os grupos de homossexuais italianos crentes organizaram nos últimos dois anos. Em geral diziam que não tinha sentido falar de uma violência homofóbica que só estava em nossas cabeças, porém algum deles chegou mesmo a negar a própria existência da homofobia e, citando o dicionário que o Pontifício Conselho para a Família publicou em 2003, se afirmou que a homofobia não é senão um instrumento de que se serve o lobby dos homossexuais para propagandear sua confusão psíquica.

A eles. A aqueles que, como o agressor do jovem Dino, não se envergonham pelos instintos violentos que neles suscita a imagem de dois homens ou de duas mulheres que trocam um beijo. A todos aqueles que correm o risco de transformar a condenação moral dos anti-homossexuais num sentimento de desprezo ou numa atitude de marginalização ante lésbicas e gays, creio que se devam recordar estas palavras da Congregação para a Doutrina da Fé: “É deplorado com firmeza que as pessoas homossexuais tenham sido e ainda sejam objeto de expressões malévolas e de ações violentas. Semelhantes comportamentos merecem a condenação dos pastores da igreja, onde quer que se verifiquem. Eles revelam uma falta de respeito pelos outros, que  é lesiva dos princípios elementares sobre os quais se baseia uma sã convivência civil. A dignidade própria de cada pessoa deve ser sempre respeitada nas palavras, nas ações e na legislação” (Carta Pessoa Humana, sobre algumas questões de ética sexual, de 29 de dezembro de 1975).

E é em obediência a estas palavras que te peço intervir para expressar tua solidariedade ao pobre Dino, para condenar o episódio de violência que se desencadeou em tua diocese e para condenar todos os episódios análogos que se desencadeiam em toda parte do mundo.

Como escreve o livro da Sabedoria, “Há um tempo para falar e um tempo para calar”. Em matéria de condenação das violências contra os homossexuais creio realmente que tenha chegado o tempo de falar, para não se tornar inconscientemente cúmplices daqueles desgraçados que, como o agressor de sexta-feira passada, se esquecem de sua humanidade quando vêem dois homens que trocam um beijo.

Com o afeto de uma pessoa que te considera sempre e realmente como um pai na Fé, te saúdo e peço tua bênção sobre mim e sobre todos os homossexuais católicos.

Gianni Geraci

PS.: Alguém me fez notar que o ministério do Papa é universal e que ele realmente não pode correr atrás dos fatos de crônica que ocorrem em Roma. Esta observação, correta, me fez, no entanto, pensar que, precisamente por este motivo, o Santo Padre tem um cardeal Vicário que exerce de fato o ministério episcopal na cidade. As palavras de solidariedade e de condenação poderiam vir dele. E este Vigário, que também poderia estar muito empenhado, tem três bispos auxiliares que o ajudam na gestão da Diocese de Roma. Se ele realmente não tem tempo de intervir, poderia encarregar um destes três bispos. Querendo ou não, uma solução capaz de fazer entender que a Igreja de Romanão aprova a violência homofóbica que se consumou na cidade, certamente lá se encontra. Naturalmente é preciso querê-lo.

Para ler mais:

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=25405

 


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