ESPAÇO DE ENCONTRO E REFLEXÃO ENTRE CRISTÃOS HOMOSSEXUAIS em blog desde 03-06-2007
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publicado por Riacho, em 19.12.09 às 19:20link do post | favorito

Olá

 

Publicamos hoje um artigo do escritor David Soares sobre os complexos da Igreja com a sexualidade humana e no qual se revela que a Igreja já celebrou uniões de homossexuais no passado citando o livro do historiador John Boswell Same-Sex Unions in Premodern Europe. Vale a pena ler como mais um contributo para a reflexão, como os nossos bispos têm pedido.

 

Abraço

terça-feira, 17 de Fevereiro de 2009

Casamento civil entre dois homossexuais

 
Sou a favor da celebração do casamento civil entre dois adultos do mesmo sexo e considero que se trata de uma questão cuja aprovação é essencial para tornar a nossa sociedade mais justa e tolerante. Discriminar um indivíduo com base na orientação sexual é errado; não só porque discriminar é, sempre, errado, mas porque a sexualidade, enquanto formadora da personalidade, pertence à esfera privada de quem a pratica.

Nem sempre foi assim: até há poucos séculos, era normal os familiares e os amigos acompanharem os noivos nus até ao leito e darem a bênção à consumação do casamento (e, em outras situações, não seria invulgar a existência de uma intromissão menos superficial de amigos e parentes nas vidas sexuais uns dos outros), mas a aproximação que a sexualidade cumpre com o moderno conceito ocidental de liberdade individual é muito importante e, em última análise, aquele que mais interessa para esta exposição de ideias. Penso que será útil discorrer com um pouco de rigor histórico sobre a questão do próprio acto do casamento, enquanto sacramento eclesiástico, para, em seguida, contextualizar a argumentação subsequente.

Para ser o mais breve possível, porque escrever neste formato virtual de apontamentos bloguísticos é hostil à profusão de linhas, e em vez de recuar aos tempos mais primitivos, nos quais o casamento era observado, na maioria das vezes, como sendo um estádio temporário, prefiro avançar de imediato para o período da antiguidade clássica europeia, no qual se encontra a matriz da vulgar cerimónia de casamento que, mais tarde, foi apropriada pela igreja católica.
Na alvorada da idade cristã do Império Romano, o casamento corriqueiro era, mais que um contrato, um encontro privado de vontades entre dois indivíduos; encontro esse que não necessitava de nenhuma bênção eclesiástica, de espécie alguma. Por vezes, a presença do sacerdote podia ser requerida, somente como testemunha, mas, no próprio cânone, não existia nenhum rito especializado para se celebrar um casamento eclesiástico. A presença de uma ou mais testemunhas era desejável para evitar futuras confusões desagradáveis, caso marido e mulher se viessem a desentender, mas nem todos os noivos, em especial os mais confiantes, achavam necessário a presença delas. Em suma: para duas pessoas se casarem, bastava que dissessem uma à outra que se recebiam como marido e mulher; esta noção era tão sólida – e aceite – que mesmo depois da igreja ter ordenado que um casamento deveria ser celebrado por um sacerdote para ser legal (isso durante a contra-reforma), os casamentos ilegais (os chamados esposais) continuavam a ser legítimos: encorajava-se era a sua legalização, mas não a legitimação… Só no século XVI se tornou obrigatório que a cerimónia do casamento decorresse dentro de uma igreja.

Um dos efeitos que teve a reforma operada pela igreja, no século XI, foi o controlo insistente sobre todas as áreas seculares da vida dos indivíduos. Muitos senhores feudais olhavam para o casamento como sua prerrogativa: era uma política essencial para garantir que os seus bens não eram alienados depois da morte; nessa perspectiva, se uma mulher provava ser infértil (nessa altura era impensável conceber o conceito de infertilidade masculina…), o senhor podia mandá-la embora e casar com outra. Ora, a igreja veio retirar ao senhor feudal o direito de repudiar a mulher, se a consumação do casamento deles não frutificasse. Mais que se tratar de uma medida progressista, no sentido da defesa das mulheres ditas inférteis, consistiu na oficialização do privilégio eclesiástico em decidir sobre quem poderia estar casado com quem. Basta olhar para tantos exemplos de casamentos que continuaram a ser desfeitos depois dessa aplicação, mas desta vez pela igreja (dos quais o mais célebre será, talvez, o de Luís VII de França com Leonor de Aquitânia), para compreendermos que o que esteve em causa não foi a sacralidade do casamento, mas a regalia do poder da igreja em decidir sobre ele.

Durante o século seguinte, o debate sobre aquilo que consistia um casamento legítimo ou ilegítimo acalentou opiniões violentas. Para resumir, pode-se dizer que existiram duas facções principais: uma dizia que o casamento só era legítimo quando consumado; a outra defendia que o consentimento dos noivos bastava, apoiando-se na, hipotética, virgindade de Maria. Contudo, mesmo um casamento legal, e legítimo, não se encontrava liberto de pecado. Tanto que a igreja advogou que um homem que amasse demasiado a mulher estava a pecar. Nem me vou dar ao trabalho de enumerar os dias nos quais o coito era proibido pela igreja porque são, mesmo, demasiados. As relações sexuais dentro do casamento estavam, obrigadas pela igreja, a cingir-se ao objectivo da procriação; e até nesses momentos, os indivíduos deveriam usar do estoicismo e renunciar ao prazer. É aqui que chegamos a um dos tópicos que mais nos interessa.

O problema da igreja com o sexo homossexual é o mesmo que ela tem com o sexo heterossexual quando este se encontra apartado da função reprodutora: o facto do sexo se transformar, em exclusivo, num acto de prazer. É ingénuo pensar-se que a igreja tem o desiderato de proteger a santidade do casamento heterossexual (que, como já vimos, não tem santidade nenhuma, a não ser aquela que lhe quiseram imprimir à força). A igreja não está, de todo, interessada no amor; seja ele heterossexual ou homossexual. O móbil continua a ser a subtracção do prazer, à luz que o carnal é mau e o espiritual é bom. Quase que dava para rir se não fosse trágico: é que a maioria das seitas heréticas, como a dos Cátaros, por exemplo, foi perseguida e exterminada por dizer o mesmo (na verdade, a razão verdadeira da perseguição foi a igualdade entre os sexos, mas isso é outra história…). Ainda mais risível é perceber que a maioria dos textos e códigos escritos sobre o casamento e os seus problemas foi escrita por indivíduos que 1) não foram casados, 2) desconfiavam de pessoas casadas e 3) não gostavam de sexo. A igreja não é tanto pró-vida como é “pró-vida vivida sem interferência humana”. Ora, a sexualidade humana é um assunto que nos diz muito respeito.
Gostava de terminar com a lembrança que existiram cerimónias eclesiásticas de união entre duas pessoas do mesmo sexo: uma delas, a chamada adelphopoiia.

A adelphopoiia (costume da igreja ortodoxa que apenas os mais curiosos em história da sexualidade devem conhecer) consiste na união, supostamente fraternal, de dois homens, ministrada por um sacerdote. O historiador John Boswell escreveu sobre ela, ao pormenor, no livro Same-Sex Unions in Premodern Europe (Vintage Books, 1995). Na página 301 desse livro pode ler-se a oração ritual para unir dois homens e ela diz, a certa altura: «For their joining together in union of love and life, we pray to the Lord. / For these servants of God,_____ and _____, and for their union in Christ we pray to the Lord.» As páginas seguintes contém as orações e os ritos integrais, assim como esclarecimento da etimologia de algumas das palavras usadas, como por exemplo as já citadas joining together que, explica Boswell, no antigo texto eslavo significam copular, quando usadas reflexivamete.

Ainda vale a pena dar a conhecer as figuras de Sérgio e Bacchus, dois soldados romanos, amantes, que foram martirizados e tornados santos: Sérgio foi decapitado enquanto Bacchus observava; em seguida, este foi espancado até à morte. Os dois haviam sido cristãos e unidos pelo amor homossexual. Acabaram por provocar a ira do Imperador, não por serem homossexuais, mas por serem cristãos (podem ler a história destes santos no livro de Boswell, págs. 145-161).

Espanta-me que ainda ninguém se tenha lembrado desta matéria, durante a discussão pública sobre o casamento civil homossexual: é uma indicação que a igreja ortodoxa, em última análise, já praticava este género de uniões há muito tempo, existindo, ainda, uma iconografia reconhecida.
 

 

Fonte: http://cadernosdedaath.blogspot.com/search/label/adelphopoiia

 

 


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publicado por Riacho, em 23.01.09 às 22:41link do post | favorito

Olá

 

Em pleno oitavário pela unidade dos cristãos quero partilhar com vocês a posição da Igreja Católica Ortodoxa Hispânica sobre a Homossexualidade e os Homossexuais. Fiquei particularmente sensibilizado no que ao relacionamento entre homossexuais diz respeito.

 

Abraço

 

Carlos

 

 

 POSIÇÃO DA IGREJA CATÓLICA ORTODOXA HISPÂNICA

 

 

SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE E OS HOMOSSEXUAIS NA IGREJA

 

 

  Nos últimos tempos, muito se tem falado acerca da homossexualidade e dos homossexuais em concreto. É dever desta Santa Igreja Católica Ortodoxa Hispânica, esclarecer os fiéis e os amigos acerca da sua posição perante esta forma específica de amar e de ser amado, nem sempre compreendida e muitas vezes amordaçada e condenada por muitos, com base em fanatismos religiosos.

 

 

Em primeiro lugar é necessário saber, que esta orientação sexual é uma atracção afectiva entre pessoas do mesmo sexo, a que se dá o nome de "homossexualidade". Embora a palavra possa causar algum incómodo para alguns meios mais conservadores, nada tem de imoral, pecaminoso, raro ou de contranatura, ao contrário do comportamento sexual de muitos fanáticos religiosos, que se escondem com a capa da moralidade, a falsa e pecaminosa moralidade.

Para a maioria dos cientistas, a orientação sexual é o resultado de uma complexa interacção de factores ambientais, cognitivos e biológicos. Na maioria das pessoas, a sua própria orientação sexual forma-se quando ainda muito criança, existindo também recentes e consideráveis evidências que sugerem que a biologia, incluindo aí factores genéticos e hormonais inatos, desempenha um papel significativo na sexualidade do indivíduo. Por outro lado, é muito importante reconhecer que existem muitas razões que moldam a orientação sexual de uma pessoa, variando de indivíduo para indivíduo.

A Igreja Católica Ortodoxa Hispânica entende que o ser homossexual ou heterossexual não é uma escolha do indivíduo, pois os mesmos não escolhem a sua orientação sexual. Concretamente em relação á orientação homossexual, a Igreja entende que a mesma orientação nasce quase sempre na adolescência, sem que tenha existido qualquer experiência sexual anterior. Embora o indivíduo tenha a possibilidade de demonstrar ou não os seus sentimentos, a orientação homossexual assim como a heterossexual não é uma opção consciente que possa ser modificada por um acto de vontade.

A orientação homossexual não pode ser modificada através de terapias, como acontece com muitos homossexuais que por causa da coerção que sofrem por parte de familiares e até por parte de algumas igrejas cristãs e grupos religiosos, tentam fazer em vão.

Para a Igreja Católica Ortodoxa Hispânica, qualquer indivíduo homossexual, quer demonstre publicamente ou não a sua orientação sexual, é uma criatura de Deus, resgatada pelo Sangue precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo, que possui dentro da Igreja os mesmos direitos e deveres que os seus irmãos heterossexuais.

O ser homossexual e viver uma vida em comum com um indivíduo do mesmo sexo, com dignidade, respeito e fraternidade, é plenamente aceitável para a Igreja Católica Ortodoxa Hispânica, que não vê nessa atitude responsável nada de imoral, contranatura ou de pecaminoso como alguns grupos religiosos pregam, esquecendo-se que muito do que condenam no púlpito, praticam em segredo. A homossexualidade não é uma doença, uma desordem mental nem um problema emocional.

Entendemos que o facto de um indivíduo homossexual assumir a sua sexualidade, está fortemente relacionado ao ajuste psicológico, pois quanto mais positiva for a identidade de uma pessoa, melhor será a sua saúde mental e a sua auto-estima.

Para a Igreja Católica Ortodoxa Hispânica é importante educar a sociedade e as nossas igrejas em relação à orientação sexual e à homossexualidade, no sentido de diminuir o preconceito homofóbico Difundir informações precisas sobre a homossexualidade é algo extremamente importante para os jovens e menos jovens que estejam a sentir o desejo de entender a sua própria sexualidade, seja ela homossexual, bissexual ou heterossexual. Os falsos receios de que a informação acerca da homossexualidade incentivará á prática da mesma carece de validade, pois a informação sobre a homossexualidade não modifica a orientação sexual de ninguém.

Quanto ao afirmarem que a homossexualidade é condenada pela Sagrada Escritura, cabe-nos apenas afirmar, que a Bíblia parece condenar apenas, coisas distintas, em relação à homossexualidade:

- O estrupo homossexual;

- O ritual que envolve a prostituição homossexual e que fazia parte do culto da fertilidade dos cananeus e que alguns judeus passaram a idolatrar;

- A luxúria e comportamento homossexual por parte de indivíduos heterossexuais.

Acerca do tema da homossexualidade como uma orientação sexual, e sobre o comportamento consensual de que possuem esta orientação, a Sagrada Escritura faz completo silêncio. Para muitos fundamentalistas, Deus destruiu as cidades de Sodoma e Gomorra devido á prática de actos homossexuais, o que não corresponde á verdade, pois o pecado de Sodoma e Gomorra foi a falta de hospitalidade e não a prática de actos homossexuais.

O Senhor Jesus Cristo jamais pronunciou uma palavra acerca da homossexualidade e dos actos homossexuais. Para ele não existe homem nem mulher, escravo ou livre, judeu ou gentio, homossexual ou heterossexual. Deus olha para o coração do homem e procura estar lá, através da expressão natural do amor. Deus é amor, como nos diz São João, e somente os actos identificados pelo amor têm importância.

A Sagrada Escritura não excluí os homossexuais da fraternidade cristã, dentro dos limites análogos aplicados aos heterossexuais, o que é o comportamento de toda a Igreja Católica Ortodoxa Hispânica. Ela está repleta de versos discutindo a actividade sexual, desejo ou expressão. Qualquer expressão da sexualidade que não esteja enraizada à lei do Amor ensinada por Jesus Cristo é que deve ser vista como errónea e pecaminosa.

Para a Igreja Católica Ortodoxa Hispânica, homossexualidade e heterossexualidade são perfeitamente aceitáveis para nós, embora o modo de expressão de ambos não seja frequentemente conveniente, aproveitável, construtivo, e benéfico ao indivíduo. Um cristão homossexual está seguro pelas mesmas linhas mestras que regem o comportamento heterossexual, isto é, para viver uma vida sensata, respeitável, honrável, baseada na fé, respeitando a sua própria dignidade e a do seu semelhante.

Para Jesus Cristo, qualquer expressão da sexualidade que rebaixe, explore, use e abuse de outra pessoa é algo condenável, seja homossexual ou heterossexual.

É este o modo como a Igreja Católica Ortodoxa Hispânica entende a homossexualidade e os homossexuais: todos são filhos de Deus, irmãos em Cristo.

Todos merecem compreensão, respeito e amor, pois a homossexualidade é puro dom de Deus.

 

 
Arcebispo Primaz Katholikos

Mons. Dom ++ Paulo Jorge de Laureano

 

 

  

In: http://br.geocities.com/monsenhorpaulolaureano/Posicao_homossexualidade.html

 

 

 


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