A Igreja, como uma mãe, deve amar e aceitar os seus filhos tal como Deus os criou no concreto de cada dia e não apenas por carta!
A Igreja, como uma mãe, deve amar e aceitar os seus filhos tal como Deus os criou no concreto de cada dia e não apenas por carta!
"Quem sou eu para julgar os gays?", reflecte o Papa, na sua primeira conferência de imprensa na viagem de regresso ao Vaticano.
O Papa falou aos jornalistas a bordo do avião AFP/ANDREAS SOLARO
Na sua primeira conferência de imprensa, a bordo do avião que o transportava de regresso ao Vaticano depois de uma semana no Brasil, o Papa Francisco lamentou a discriminação contra os homossexuais e disse que os gays “não devem ser julgados nem marginalizados” mas antes “integrados na sociedade”.
“Se uma pessoa que procura Deus de boa vontade, e é gay, quem sou eu para a julgar?”, replicou o Papa, na resposta a uma questão sobre a existência do alegado lobby gay no Vaticano. “Escreve-se muito sobre esse lobby, mas ainda não vi ninguém no Vaticano com um cartão a dizer que é gay”, brincou Francisco.
Mas em palavras mais sérias, e que marcam uma clara diferença da posição mais conservadora do seu antecessor, Bento XVI, o Papa Bergoglio disse que “há uma distinção entre o facto de uma pessoa ser gay e o facto de fazer lobby. O problema não é ter essa orientação, o problema é fazer lobby em função dessa orientação”.
O Papa lembrou que “o catecismo da Igreja Católica diz muito claramente que os homossexuais não devem ser marginalizados [por causa da sua orientação] mas devem ser integrados na sociedade”. Mas também recordou que a doutrina entende os actos homossexuais como um pecado.
A pergunta tinha a ver com um caso tornado público no âmbito da fuga de documentos secretos do Vaticano – o chamado Vatileaks –,e que envolve o monsenhor Battista Ricca, alegadamente uma das figuras centrais do suposto lobby gay que tinha sido nomeado para dirigir o banco do Vaticano.
“Em relação ao monsenhor Ricca, foi feito o que manda o Direito Canónico: foi aberta uma investigação, que não corresponde com o que se tem publicado. Não encontrámos nada”, informou o Papa.
Não à ordenação das mulheres
De resto, e durante quase uma hora e meia, o Papa respondeu a uma série de perguntas, sem guião e com candura. Por exemplo, sobre o aborto ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, “dois temas sobre os quais ainda não se pronunciou”, notou o jornalista. “A Igreja já se expressou perfeitamente sobre isso, não me parece necessário voltar ao caso quando existe uma doutrina clara”, justificou Francisco, acrescentando em jeito de clarificação que “sou filho da Igreja, a minha postura é a mesma”.
Quanto à possibilidade da ordenação de mulheres, o Papa sublinhou que essa “porta foi fechada” por João Paulo II. Mas apesar de recusar a sua ordenação, Francisco reconheceu que as mulheres têm um papel activo: “Uma Igreja sem mulheres é como o colégio dos apóstolos sem Maria”, acrescentando que a mãe de Jesus “é mais importante que os bispos”, cita a AFP.
No que diz respeito às pessoas que se casam depois de um divórcio, Francisco respondeu que essa é uma reflexão a fazer no âmbito da pastoral para o casamento e que os oito cardeais que nomeou para esse conselho devem apresentar propostas. “É sempre um tema e agora chegou o tempo da misericórdia, uma mudança de época”, avisou. Os divorciados podem comungar, o problema são as segundas uniões, acrescentou.
Fonte: http://www.publico.pt/mundo/noticia/papa-francisco-contra-a-marginalizacao-dos-homossexuais-1601643
James Alison (foto) é um teólogo especial. É inglês, mas está há muitos anos na América Latina, onde vive atualmente. É definido como “o sacerdote católico que procura, a partir da teologia, saídas para todo tipo de amor, incluindo o amor gay”. Alison apresenta argumentos científicos para sustentar que “a homossexualidade é uma variante minoritária, e não patológica, da condição humana”.
Fonte: http://goo.gl/2MY23k |
Ele explica o empenho da Igreja em definir ahomossexualidade como uma desordem, porque “no momento em que se reconhece que uma relação entre duas pessoas do mesmo sexo pode ser boa, é reconhecida a possibilidade de que existam atos sexuais em si, não abertos à procriação, e com isso toda a moral sexual tradicional desmorona”. Contudo, a porcentagem de católicos que concordam com esta doutrina sexual é muito baixa, “porque requer que os gays sejam considerados heterossexuais defeituosos”.
Alison afirma que “aqueles que mais perseguem os gays na Igreja, são gays reprimidos”, e conclui confessando, a partir de sua experiência pessoal, que aquilo que mais lhe doeu “não foi a violência das pessoas más, mas o silêncio dos bons”.
A entrevista é de José Manuel Vidal, publicada no sítioReligión Digital, 10-07-2013. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Bem-vindo, James.
É um prazer estar aqui. Há tempo acompanho vocês, desde o México, Brasil, Chile ou de onde estive, e é um prazer estar aqui, “no miolo”. Muitos dos articulistas de Religión Digital são meus amigos ou conhecidos, como X. Pikaza, que fez um epílogo lindíssimo para o meu primeiro livro e, desde então, nós nos correspondemos.
Você é um teólogo com obra?
Sim. Tenho pelo menos sete livros publicados em inglês, e agora acaba de sair o oitavo, que é inteiramente um curso de introdução à fé cristã, acompanhado de um DVD, pensado para que pequenos grupos possam se aprofundar na fé cristã. Três de minhas obras foram traduzidas para o espanhol: “Conocer a Jesús”, que foi a obra para a qual Pikazafez a gentileza de escrever o epílogo, “El retorno de Abel”, editada por Herder e que é de escatologia; e a outra se chama “Una fe más allá del sentimento”, que é meu primeiro livro, em espanhol, que trata da questão gay.
Sempre digo, com bastante insistência, que eu não faço “teologia gay”. Faço teologia católica a partir de uma perspectiva gay. É muito importante fazer esta distinção, porque, caso contrário, transforma-se numa questão de gueto.
Você foi dominicano?
Sim, há muito anos. Agora sou um presbítero desocupado, em certo sentido. Quando organizaram a papelada para a dissolução dos meus votos, os dominicanos me fizeram o grande favor de não mexerem em nada no tocante ao meu sacerdócio. Então, de acordo com o Direito Canônico, descobri que posso ser sacerdote, em boas condições, sem estar incardinado, e também apto para ser incardinado, caso houvesse um bispo suficientemente louco para me querer em sua diocese. É curioso, porque um alto eclesiástico, certa vez, tentou resolver esta questão e não pude, porque quando alguém é sacerdote ordinário e não tem nenhum responsável é muito difícil fazer alguma coisa.
Apesar disso, você continua trabalhando como teólogo, missionário e catequista.
Sim, às vezes, mas sempre em lugares onde não cause escândalo. Quando estou em retiro, por exemplo, ou para a comunidade LGBT. Porque quando todo mundo é “irregular”, já não existe escândalo.
Como objetivo de sua vida, você assumiu buscar uma saída, dentro da Igreja e da teologia católica, para a realidade da homossexualidade?
Espero não causar surpresa, mas eu me identifico muito com uma coisa que Ratzinger fez e que me pareceu muito interessante: recuperar o sentido de que a fé cristã é boa nova. E isto significa escavar no espaço dos escombros do moralismo dos últimos dois ou três séculos, para tentar recuperar algo do frescor do Evangelho, e não do pensamento moralista de sacrifício, que até recentemente pareceu normal na fé cristã, tanto do lado protestante como do lado católico. E, é claro, sair deste “mundo de escombros moralistas” afeta tanto as pessoas gays como as pessoas heterossexuais. Faz parte do mesmo processo.
Ou seja, você está pedindo uma mudança na doutrina moral e sexual da Igreja.
Não, o que estou buscando é um novo paradigma para entender a fé, a salvação, a caridade e a natureza... retornando a um paradigma muito mais antigo, de uma completa ortodoxia. Por isso, não significa mudar a doutrina, porque me parece inconveniente. Se o que Jesus disse está correto, como se explica esta miséria de tramas moralistas que entramos? Porque é tão evidente que não foi assim no início! De fato, eu me considero radicalmente conservador, e não ao contrário.
A Igreja protestante alemã acaba de assinar um documento em que reconhece a existência de formas diferentes de família. Você acredita que isto é um exemplo de que certas mudanças começam a existir, nesse sentido?
Sim. De maneira explícita, a Igreja protestante reconheceu a homossexualidade, e na Igreja católica também já ocorreram mudanças. Não acredito que a questão gay seja algo sumamente difícil de ser aceita pelos fiéis católicos, mas pelo estamento clerical católico. Pelo que foi visto em pesquisas realizadas mundialmente, em países de maioria católica, a porcentagem de população católica que vê com bons olhos a normalidade de seus amigos ou parentes gays é até maior do que a média da sociedade.
Quer dizer que quem se escandaliza é o clero, não o povo?
Vocês viram isto, aqui, em seu país, que aprovou a lei do casamento igualitário. Se me recordo bem, 60% ou 70% da população estavam perfeitamente tranquilas com isto. Ao contrário, os bispos não. E aí está o problema. Diferente de outras questões de tipo moral, como o aborto, por exemplo, em relação à questão gay o povo não está alienado como os bispos. As duas questões não têm nada a ver uma com a outra. A diferença está no fato de que a convivência demonstra que isso de pensar que os gays são pessoas “objetivamente desordenadas”, nesta altura do campeonato, não tem pé e nem cabeça.
Nesta questão, a definição oficial reinante foi cunhada em 1986 (ou seja, muito recentemente), num documento do Vaticano que dizia: “Embora, em si, a inclinação homossexual não seja um pecado, supõe uma tendência mais ou menos forte para atos intrinsecamente maus, e por isso deve ser considerada objetivamente desordenada”. Está é a lógica eclesiástica que continua insistindo que não existem bons atos homossexuais, e que, portanto, define as pessoas gays como objetivamente desordenadas. Uma analogia seria a anorexia, que é uma patologia do desejo. Entretanto, caso alguém considerasse a anorexia como pertencente a uma natureza que não requer cuidados, a tendência seria a autodestruição. A anorexia é uma desordem alimentar, e a posição oficial sobre a homossexualidade a considera como algo parecido, como uma desordem. Isto é muito diferente de comparar a homossexualidade com a situação das pessoas canhotas. Ou seja, os canhotos são uma variante minoritária dos seres humanos, não uma patologia. A anorexia é uma patologia. Porém, para sustentar que todos os atos homossexuais são maus, a Igreja precisa manter a versão de que a homossexualidade é uma patologia.
Muitos bispos dizem aos homossexuais que eles não têm nada contra a homossexualidade, que nós somos todos irmãos, etc... mas, ao mesmo tempo, colocam a condição de que se abstenham de todos os atos que consideram intrinsecamente maus, como se fosse possível fazer uma distinção.
Nesse sentido, o Vaticano é mais honesto, porque sabe muito bem que caso queira dizer que os atos homossexuais são maus, precisa concluir que a homossexualidade é uma desordem objetiva. E nesta altura, em pleno século XXI, vale a pena se questionar sobre a verdade disto.
O que os cientistas dizem a este respeito?
Os cientistas (e não estamos falando apenas de “ciências brandas” como a psicologia, mas da química, endocrinologia e neurologia, etc.) que estudaram os hormônios intrauterinos, a configuração neuronal, etc., dizem que a homossexualidade é uma variante minoritária, e não patológica, da condição humana. Ou seja, muito mais parecida com o fato de ser canhoto do que ser anoréxico.
É frequente a pergunta sobre se o homossexual nasce ou se torna...
É uma mistura das duas coisas, mas está mais ligado ao nascimento. O mais provável é que seja uma questão intrauterina, embora as pesquisas sobre este tema ainda estejam começando (porque faz apenas 30 ou 40 anos que foi possível começar a pesquisar esta questão, sem o viés moralista). Os avanços na neurociência indicam que ninguém que já não seja gay ao nascer, torna-se gay depois.
Isso invalida a tese, sustentada por algumas pessoas, de que se trata de uma questão de vício.
Exatamente. Toda a tendência anterior consistia em tratar o assunto como se fosse uma patologia ou um vício, e isto era uma questão cultural, não apenas eclesiástica. Somente nos últimos 50 anos é que se começou a olhar para os gays de forma mais científica, perguntando-se sobre o que é e o que faz com que estas pessoas sejam diferentes, ao invés de pensar que estão fazendo maldades e de que é preciso castigá-las.
Essa dinâmica de revisão, percebida na sociedade civil, custa mais para a Igreja?
Muito mais.
Existem pessoas que continuam dizendo que a homossexualidade é reversível?
Sim. Infelizmente, precisam continuar dizendo, caso queiram manter a atual posição da Igreja. É uma ciência “concordista”, assim como os geólogos do século XIX, que queriam manter a teoria de que a composição da terra estava de acordo com o relato da Criação, em seu sentido pré-científico, e que buscavam infelizes formas de demonstrar como supostamente a ciência e a realidade se ajustavam aos ensinamentos eclesiásticos.
A moral dupla é uma das coisas que as pessoas mais reprovam na hierarquia, ou seja, dentro da instituição há muitos homossexuais (embora nem todos reconheçam).
Claro, mas não podem reconhecer isto.
Entretanto, o próprio Papa acaba de denunciar que no Vaticano há um lobby gay.
Bom, acredito que a palavra denunciar não descreve bem a intenção das declarações do Papa. O que ele fez foi reconhecer isto com bom humor. Pelo menos da forma como a informação nos chegou, parece que foram frases soltas, ditas com essa leveza que nós já sabemos que faz parte do estilo do Papa. Graças a Deus, porque isso significa que este Papa tem um estilo muito mais de encontro e diálogo.
Agora, quando o assunto do lobby gay sai da boca de altos eclesiásticos, costuma significar duas coisas. A primeira coisa é que consideram lobby toda pretensão científica de apontar que a realidade não é da forma como o Vaticano diz (por exemplo, qualquer pessoa que viesse a sugerir que, talvez, estejamos diante de uma variante minoritária não patológica), e que supostamente isto exerceria pressão (como parte do “poderoso e influente lobby gay”) contra aqueles outros cientistas que mantém a “linha dura” de pretensa cientificidade a respeito da questão homossexual. Mesmo que atualmente seja apenas uma minoria de psiquiatras, já é o suficiente para que a hierarquia eclesiástica se agarre em sua própria lógica. Nesta altura do jogo, isto soa um pouco paranoico, pois os gays seriam muito maus, mas, quem acredita que são tão poderosos? Portanto, neste caso, a palavra “lobby gay” é utilizada para se referir às pessoas que não estão dentro da cúpula do Vaticano, mas fora.
O outro uso veio à luz a partir da investigação feita por três cardeais com mais de 80 anos, que deixaram um tijolo de dossiês para Ratzinger ou para seu sucessor. Entre os vários assuntos investigados, estava a questão de um suposto lobby gay. Agora, para quem já visitou o Vaticano, não existe a menor dúvida de que, aí, há uma forte presença do setor gay. É evidente, e através de amigos dos amigos todo mundo mais ou menos se conhece. O que também se percebe é que o mundo romano é um mundo onde a regra moral está em evitar o escândalo. Portanto, para que não se evidencie ninguém, estas questões preocupam muito. E isto não supõe apenas uma dupla moral, como também uma antiquada maneira de viver. Grande parte do problema, no meu modo de ver, é que o mundo moderno e esse mundo antiquado não convivem juntos. Enquanto no mundo moderno a transparência e a honestidade são cada vez mais normais, o mundo antiquado é monossexual, masculino, e continua sendo regido pela regra básica de: “contanto que você não conte, você também pode fazer”.
Essa regra na sociedade civil já não pode se sustentar?
Não. Desde o início do século XX, influenciado por Freud e por outros autores, o mundo todo compreendeu a importância de poder ser sincero nesta matéria, de poder falar mais ou menos honestamente daquilo que se é e o que se faz em matéria sexual. E, atualmente, parece ser um fenômeno global, mais “popularizado” no Ocidente, e que exerce uma fortíssima pressão sobre as sociedades que quiseram manter seu “escudo sagrado” sobre um código ao qual se obedecia, mas não se cumpria.
O “escudo sagrado” da Igreja poderia vir abaixo, caso fosse reconhecida a liberdade sexual?
Isto será uma prova muito forte para o papa Francisco. Uma prova para a qual eu desejo tudo o de melhor para ele, porque não duvido que será doloroso, difícil e, sobretudo, muito custoso, porque há muitíssima pressão das próprias pessoas que vivem no Vaticano e do clero em geral. Confessar a homossexualidade significaria apenas ser honesto.
Precisar ficar ocultando a própria sexualidade não supõe uma esquizofrenia vital?
Sim. É uma esquizofrenia que tem consequências psicológicas muito duras, mas na qual se acostuma. E isto abre um mundo todo de chantagem, porque ninguém pode ser honesto, mas todo mundo sabe o que os outros fazem. Imagine os jogos de chantagem que podem ser feitos. Isto é evidente, e não estamos falando apenas de uma coisa eclesiástica. Se os governos norte-americano e britânico, nos anos 1950 e 1960, resolveram esta questão a respeito de suas próprias sociedades, suas próprias burocracias, seus próprios serviços de inteligência, etc., foi precisamente porque o assunto da chantagem resultava ser pior do que a questão da homossexualidade.
Ou seja, a Igreja deveria fazer o mesmo, ainda que fosse por pragmatismo?
Seria mais pragmático, sim, mas o caso é que quando se reconhece a homossexualidade e se vive honestamente (tenha ou não parceiro), torna-se necessário reconhecer também que uma relação gay pode ter boas consequências. Isto não obriga ninguém a segui-las, mas, no momento em que se reconhece que uma relação entre duas pessoas do mesmo sexo pode ser boa, fica reconhecida a possibilidade de que existam atos sexuais, não abertos à procriação, que também são bons, e com isso toda a moral heterossexual tradicional desmorona. Porque a moral tradicional depende do fato de todos serem intrinsecamente heterossexuais, e de que exista apenas uma forma sexual que pode ser boa.
Quer dizer que se a Igreja aceitasse a homossexualidade, seria preciso uma revisão de toda sua moral sexual tradicional, a partir dos alicerces?
Sim, mas é uma revisão que já foi feita. O que acontece é que para estes senhores custa reconhecer.
Em nível de práxis, já se vive, mas falta a aceitação na doutrina?
Na prática, qual a porcentagem de fiéis que está de acordo com a Humanae Vitae? Pouquíssimos. E é fácil imaginar que a porcentagem de fiéis gays, de acordo com essa doutrina, é menor ainda, porque requer que sejam considerados heterossexuais defeituosos, para que sejam mantidos.
Em razão desta situação, a Igreja provoca dor?
Muitíssima, porque a Igreja tenta dizer que a voz de Deus não está dizendo o que a voz de Deus está dizendo para você. Todo jovem gay, que mantém a fé (porque, é claro, ao escutar as malvadezas que saem da boca de alguns de nossos altos hierarcas, muitos ficam simplesmente escandalizados e abandonam), precisa passar pelo processo de superação do escândalo em distinguir a voz de Jesus (que disse que o ama, que quer acompanhá-lo e que quer viver com ele) da voz da Igreja, que faz vista grossa enquanto você não disser o que é. Para qualquer pessoa, isto é um doloroso processo de crescimento espiritual.
Para um seminarista, um noviço ou um sacerdote com vocação religiosa, ocultar sua homossexualidade suporia negar a si mesmo ou parte de si mesmo?
É um caso especialmente duro, no qual se percebe muito bem a dupla mensagem que a instituição eclesiástica oferece, pois, ao mesmo tempo em que mantém um discurso homófono, também (ao menos em muitos países do mundo) oferece acesso totalmente livre para seminaristas ou noviços de índole claramente gay, induzindo-os a viver uma vida dupla, baseada no “faça isso, não faça isso”. Com duas ordens contraditórias ao mesmo tempo, você fica paralisado. Um padre gay, por exemplo, pensa que precisa dizer a verdade porque mentir é contra o Evangelho; porém, ao mesmo tempo, sabe que caso diga a verdade, ele está fora. Pedem para que exijam transparência em tudo, mas eles próprios não podem ser transparentes.
Em sua vida pessoal, como você próprio conseguiu encaixar esta situação de duplicidade?
Bom, mais ou menos catastroficamente, aos trancos e barrancos. No passado, muitos e muitos anos atrás, graças aDeus, tive algumas experiências muito fortes, que me permitiram ver a absoluta diferença entre aquilo que é de Deus, nesta matéria, e o que, ao contrário, são os mecanismos humanos de criação de inimigos desnecessários.
Você passou por diferentes etapas (de pena, de indignação, de dor...) a respeito da Igreja?
Sim. Nesta altura do jogo, eu considero um enorme privilégio poder viver e falar tranquilamente desta realidade, mesmo sendo um fiel e um sacerdote católico, sem que isto seja um assunto de raiva. Porque a raiva destrói a própria pessoa, não os demais. No passado, o que mais me indignou não foi a violência das pessoas más, mas o silêncio dos bons. Isto é o que dói: as pessoas boas, as pessoas moderadas e as pessoas inteligentes (que existem) sabem que a situação é insustentável, mas guardam silêncio, preferem não dizer nada.
Você vê saída para esta situação?
Sim. Não sei como vai se dar, mas vejo saída pela necessidade da honestidade, que é uma regra cada vez mais imperativa. O papa Francisco poderia recorrer às armas sagradas, ou seja, retornar às soluções do tipo: “Se existe lobby gay, vamos fazer uma caça às bruxas”. O problema disto é que, embora pudesse dar prazer, durante determinado tempo, para alguns da linha dura, não funcionaria. E não funcionará porque os que fariam a caça às bruxas seriam tipicamente gays reprimidos. Aqueles que mais perseguem os gays na Igreja, são gays reprimidos. Aos heterossexuais não importa tanto, não parece ser tão interessante para eles, não se preocupam do mesma forma que os próprios gays camuflados.
Ou seja, os que mais perseguem e metem o pau são, no fundo, homossexuais reprimidos?
Ou reprimidos, ou que sabem muito bem o que precisam assumir para fazer carreira em certas coisas. Não há engano: diante da necessidade persistente de atacar os gays, costuma haver homossexualidade reprimida.
Você não acredita que Francisco assumirá a primeira saída?
Tomara que não, porque não resolve nada. Apenas prorroga uma situação.
A segunda saída é muito mais delicada, mas é a saída da maioridade. Consiste em reconhecer que existe um problema grave, que possui consequências em todos os âmbitos da vida (porque uma vez que você solta um dos parafusos do escudo sagrado, possui consequências em todos os níveis). Quantos sacerdotes existem, cujos votos ou promessas de celibato não são nulos? Porque foram feitos sob falsa consciência. Tiveram que dizer que acreditavam numa caracterização deles próprios para poder emitir um voto que não era correto. Imagine as consequências canônicas disto. Então, de que maneira se agirá para obter o início de certa transparência na discussão? Provavelmente, o máximo que pode fazer é motivar as congregações romanas para que, ao menos, concedam a possibilidade de que seja falado abertamente disto. Porque este assunto não irá desaparecer.
Porque o Povo de Deus não é o problema. A este respeito, o Povo de Deus está muito avançado. A dificuldade está em poder falar disto no mundo clerical. E isto significa que há um lobby gay fortíssimo dentro da Igreja, e que dominou o espaço nos últimos anos: o lobby dos gays auto-reprimidos. Porque eles são os que mais necessidades psicológicas possuem em manter as coisas como estão, o que permite que mantenham certa noção antiquada de bondade, além de manter claramente o sistema.
A chegada de Francisco causou esperança em você? Acredita que ele pode trazer ar fresco à Igreja?
Sem dúvida. E é um alívio perceber que o assunto da homossexualidade não é muito importante para ele. Quanto mais heterossexuais tivermos em lugares importantes da Igreja, mais facilmente será resolvida a questão homossexual, porque tradicionalmente os problemas são provocados por pessoas com muitas complicações internas. Parece que não é um grande problema para o papa Francisco, e que é capaz de tratá-lo com certo humor e com certa distância, e isso é um bom sinal.
Você acredita que ele irá conseguir fazer reformas?
Caso se deixe guiar por aquilo que até agora insistiu (retornar a Jesus e ao Evangelho), claro que conseguirá as reformas, porque isso significa que outras questões que são também um pouco barrocas, por si mesmas, irão perder importância.
Eles vão deixá-lo?
Bom, é preciso rezar para isso. Depende das agressões que sofrerá. O Papa é um alto funcionário de uma grande burocracia, e como todas as instituições, os grandes aparatos burocráticos têm suas formas de se defender e se proteger, além de cooptarem seus membros para que se comportem de determinadas formas.
Não podemos pensar em Francisco como uma espécie de salvador vindo de fora para remediar uma situação insuportável. Francisco é um homem eclesiástico que viveu seus últimos 76 anos dentro da própria instituição, e tomara que com seu frescor e sua capacidade pessoal de tomar decisões com tempo e de escolher pessoas com bons critérios para rodeá-lo, resulte melhor que os papas passados. João Paulo II tinha muitas qualidades, mas não exatamente com as pessoas que o rodeava. E, em definitivo, acredito que a questão gay é de muito maior fôlego (tanto para se abrir como para se fechar) para que uma só pessoa resolva.
Até agora estou encantado com Francisco, mas não acredito que preciso atribuir-lhe poderes divinos.
De alguma forma, ele poderia nos decepcionar?
Claro, porque as expectativas são altas. Há muita expectativa, e eu estou muito agradecido pelo trabalho que você realizou, junto com seus companheiros de Religión Digital, descobrindo uma grande ansiedade por uma Igreja mais fresca. É um alívio poder retornar ao Vaticano II sem tendências barrocas e clericais.
O medo está sendo rompido na Igreja?
Não apenas o medo. Estamos percebendo que o sentido de tudo isto é ser cristão, não o de entrar em infinitas discussões sobre a hermenêutica da continuidade ou se o Papa deve usar a mitra de Pio IX. Estas coisas, no final das contas, são bizarras.
Acredito que Francisco tem o dom de pessoas excelentes, e a capacidade de não se levar tão a sério, o que é uma característica importantíssima.
Algumas ideias-chave da entrevista:
- Para recuperar o sentido de que a fé cristã é boa nova é preciso escavar no espaço dos escombros do moralismo dos últimos dois ou três séculos, para tentar recuperar algo do frescor do Evangelho.
- O que busco é um novo paradigma de uma ortodoxia completa, porque se baseia em retornar a um paradigma muito mais antigo do que a doutrina moral sexual da Igreja.
- Se o que Jesus disse está correto, como se explica esta miséria de tramas moralistas que entramos? Porque é tão evidente que não foi assim no início!
- Não acredito que a questão gay seja algo sumamente difícil de ser aceita pelos fiéis católicos, mas pelo estamento clerical católico.
- Diferente de outras questões de tipo moral, como o aborto, por exemplo, em relação à questão gay o povo não está alienado como os bispos.
- A homossexualidade é uma variante minoritária, e não patológica, da condição humana.
- Ver-se obrigado a ocultar a homossexualidade é uma esquizofrenia que tem graves consequências psicológicas.
- No momento em que se reconhece que uma relação entre duas pessoas do mesmo sexo pode ser boa, é reconhecida a possibilidade de que existam atos sexuais em si, não abertos à procriação, e com isso toda a moral sexual tradicional desmorona.
- A porcentagem de católicos que concordam com esta doutrina sexual é muito baixa, “porque requer que os gays sejam considerados heterossexuais defeituosos.
- O que mais me indignou não foi a violência das pessoas más, mas o silêncio dos bons.
- Aqueles que mais perseguem os gays na Igreja, são gays reprimidos.
- Há um lobby gay fortíssimo dentro da Igreja, e que dominou o espaço nos últimos anos: o lobby dos gays auto-reprimidos.
- Até agora estou encantado com Francisco, mas não acredito que preciso atribuir-lhe poderes divinos.
Para recordar a modernidade de João XXIII!
O Papa João XXIII e a abertura à modernidade por Fernanda Henriques
Agradeço o convite que me foi feito para estar aqui, e queria explicar porque é que tive a ousadia de o aceitar não sendo eu especialista em nenhuma dimensão de questões eclesiais. Foi uma espécie de desafio porque o Papa João XXIII foi sempre uma figura extremamente significativa do meu imaginário pessoal pela ideia de bondade e de frontalidade na defesa da justiça que forjei dele, respigando aqui e ali informações, mas sem nunca ter aprofundado o meu conhecimento. Aceitar este convite foi decidir-me a aferir o fundamento da minha adesão. A escolha do título também se prende com a história da minha relação com essa minha imagem de João XXIII, que o representava como a pessoa que foi capaz de abrir a Igreja à modernidade.
Simone Weil e a necessidade de abertura da Igreja à Modernidade
Foi a filósofa francesa Simone Weil que colocou no centro da minha leitura – há já muitos anos – a importância de a Igreja se abrir institucionalmente à modernidade. Simone Weil é uma figura conhecida nos meios cristãos, portanto, não me vou alargar com explicações, mas quero referir dois ou três aspetos que me parecem fulcrais para a minha perspetiva. Simone Weil viveu na primeira metade do século XX, tendo morrido em 1943, 20 anos antes do Concilio Vaticano II ter sido convocado por João XXIII e este facto fez toda a diferença na vida dela, do meu ponto de vista.
PORQUÊ?
A filosofia de Simone Weil é fortemente marcada pelo seu sentir pessoal e pelas diferentes experiências de vida da autora. Evidentemente que o pensamento – filosófico, no caso – tem sempre a ver com a experiência, mas não é dessa relação habitual que eu falo. Para Simone Weil era preciso viver as situações sobre as quais escrevia. Isto é, ela não se limitava a escrever sobre as situações, escrevia de dentro delas. Por isso, teve de experimentar, por exemplo, como era a vida do operariado para ser capaz de escrever sobre perspetivas políticas pelo que trabalhou na linha de montagem de carros da Renault. No meu entender, o seu pensar é a transposição para o plano concetual de cada uma das suas experiências existenciais profundas. No aspeto espiritual e religioso essa necessidade de passagem pela vivência era ainda mais radical.
Creio que neste âmbito é sobejamente conhecido o caso Simone Weil que, tendo uma adesão quase absoluta aos princípios cristãos tal como os entendia, todavia, recusou sempre o batismo qua a integraria na comunidade cristã.
E PORQUÊ ?
Porque, como explica ao Padre Perrin, que considerava um “amigo de Deus”, isso seria uma desonestidade da parte dela porque não correspondia ao sentimento místico que experimentava. A Igreja do seu tempo funcionava como um obstáculo para a sua vivência dos valores do cristianismo. Duas coisas a mantinham fora da Igreja – a ideia de anátema e a ideia de que fora da Igreja católica não há salvação. Para ela era impensável uma Igreja, simultaneamente, cristã e excludente de tudo o que de bom e belo a humanidade tinha sido capaz de construir. Se Simone Weil não tivesse morrido tão jovem, certamente teria exultado com o espírito que presidiu ao Concílio do Papa João XXIII. E a sua vida espiritual teria sido, certamente, menos angustiante e dilemática.
João XXIII, o Concílio Vaticano II e a abertura da Igreja à Modernidade
Na verdade, aquilo a que o aggiornamento que sustentou a vida do Vaticano II veio pôr fim foi ao solipsismo da Igreja, ou seja, a um certo autismo que foi desenvolvendo. E que é compreensível, de um certo ponto de vista, se atendermos ao tempo. Tal como a filosofia – com XXVIII séculos – a Igreja – com os seus XX – olhava para a ciência – esse apanágio da modernidade e para os seus V séculos, necessariamente, com
complacência e superioridade e, evidentemente, sem a considerar à altura de dialogante possível. Nesse sentido da perspetiva temporal pode-se compreender um certo fechamento da Igreja sobre si própria. João XXIII, ao convocar o Vaticano II e ao colocá-lo sob a bandeira do aggiornamento e, consequentemente, do diálogo, rompeu com esse autismo da Igreja e introduziu no seu seio o ruído do mundo humano com o que de bom e de mau ele convoca. Falar de aggiornamento significa 2 coisas significativas:
Primeiro, reconhecer que a Igreja estava descompassada em relação à sociedade em que se inseria.
E segundo, que era necessário pôr-se a compasso com ela. Ou seja, não se tratava de afirmar dogmas, de corrigir erros, mas sim de fazer sintonizar a mensagem espiritual do cristianismo com o mundo a que se dirigia.
O papa João XXIII acreditava, de facto, na bondade da história humana.
Não é por acaso que no discurso de abertura solene do Concílio, a 11 de Outubro de 1962, ele afirma que “a Igreja, como esperamos confiadamente, engrandecerá em riquezas espirituais e, recebendo a força de novas energias, olhará intrépida para o futuro. “ E discorda “desses profetas da desventura, que anunciam acontecimentos sempre infaustos, como se estivesse iminente o fim do mundo. “ É também, por isso, que pode dizer: “é necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo. Uma coisa é a substância do « depositum fidei », isto é, as verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a formulação com que são enunciadas, conservando-lhes, contudo, o mesmo sentido e o mesmo alcance. Será preciso atribuir muita importância a esta forma e, se necessário, insistir com paciência, na sua elaboração.”
Mas João XXIII também acredita na bondade do ser humano, em si mesmo.
Por isso, pode instituir o diálogo como constitutivo da nova forma da Igreja se relacionar com o mundo – substituindo o anátema pela misericórdia e, por isso também afirma que a Igreja deve “Promover a unidade na família cristã e humana”. O diálogo – a outra face do aggiornamento – é o sinal da rutura do enclausuramento de Igreja. Diálogo para dentro da Igreja, diálogo com as outras Igrejas e diálogo com a realidade cultural.
E esses sinais não faltam no pontificado de João XXIII. Para citar alguns: a supressão de “pérfidos judeus” da liturgia de sexta-feira santa ou a diplomacia em relação ao bloco de leste.
Dentro deste contexto, penso ser importante recordar a organização da Gaudium et Spes que, como sabemos, não começa por Deus ou pela Igreja, mas sim pela Condição Humana no Mundo - Introdução: A Condição Humana no Mundo de Hoje – bem como a sua primeira parte, com 4 capítulos, em que só no último se analisa o papel da Igreja.
— l.a Parte: A Igreja e a Vocação Humana
Cap. I: A Dignidade da Pessoa Humana
Cap. II: A Comunidade Humana
Cap. III: A Actividade Humana no Universo
Cap. IV: O Papel da Igreja no Mundo deste Tempo
Creio que vale a pena lermos o que se diz logo no início da Introdução
“ § Para bem cumprir a tarefa que lhe cabe, a Igreja deve perscrutar incessantemente os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho, de modo a poder responder, por forma adaptada a cada geração, às eternas interrogações dos homens quanto ao sentido da sua vida presente e futura e quanto às suas mútuas relações. Importa, pois, conhecer e compreender este mundo em que vivemos, suas espectativas e aspirações, e o carácter por vezes dramático de que estas se revestem. Eis seguidamente, tais como nos é possível esboçá-los, alguns traços fundamentais do mundo atual.” Penso ser importante realçar esta ideia da Constituição Pastoral Gaudium et Spes de que “Importa conhecer e compreender este mundo em que vivemos, suas espectativas e aspirações”, na medida em que ela remete para o caráter intrinsecamente bom da
realidade. Não que não exista mal no mundo – existe, claro, algum desse mal é mesmo da nossa responsabilidade, mas, o que é importante e novo, é o suposto de que em si mesmo o mundo não é um mal .
O teólogo Jacques Dupuis comenta alguns aspetos da Gaudium et Spes, assinalando 4 dimensões que relevam de um espírito de abertura à realidade e ao seu valor intrínseco que quero realçar no contexto desta linha reflexiva:
a. Que a vontade salvífica universal não é uma simples possibilidade teórica, mas uma realidade concreta, agindo nas pessoas;
b. Que Jesus Cristo e seu mistério pascal constitui a possibilidade concreta de salvação para mulheres e homens de boa vontade;
c. Que esta salvação os atinge pela ação universal do Espírito Santo;
d. Que a maneira como essa salvação ocorre fora da igreja permanece misteriosa.
Para a maior parte de nós hoje, esta perspetiva já aparece como natural. É necessário que façamos um esforço de imaginação para conseguirmos ter a perceção de um tempo de clausura mental e de maniqueísmo, em que a vida humana, enquanto humana, era destituída de valor e vista como um calvário de que era necessário libertarmo-nos.
No quadro de tantas mudanças, cabe perguntar: João XXIII foi um super herói?
Víctor Codina, nas análises que faz quer do Concílio quer da Igreja pré-conciliar, enumera muitas razões e contextos explicativos do Vaticano II, mas, apesar disso, reafirma que foi necessário aparecer alguém capaz de catalisar toda a efervescência teológica e eclesial que se vivia então, sublinhando que esse foi o papel de João XXIII e que a sua figura e personalidade são essenciais para se compreender o Concílio.
Creio que é aqui que está o ponto: ser capaz de sentir o seu tempo e de lhe dar forma. E penso que foi este gesto de corporizar o espírito do seu tempo – como diria Hegel – que traça a marca indelével de João XXIII. Só uma profunda atenção à dinâmica da realidade e uma radical abertura ao desenrolar da história pode permitir a alguém escutar a alma do seu tempo e deixá-lo dar à luz o que nele está maduro. João XXIII não esteve à frente do seu tempo. Ele foi um homem do seu tempo. A leitura do seu Diário põe-no, claramente,em evidência. Asua religiosidade, o modo
como analisava a inocência e o pecado, a forma como assumia a obediência, etc., mostram-no bem ligado à sua geração.
Foi certamente esse enraizamento existencial e histórico que lhe permitiu ser tão moderno e hoje, que podemos perspetivar historicamente os grandes acontecimentos da década de 60, vemos como o Concílio Vaticano II ocorre em paralelo com outros grandes acontecimentos da civilização laica de ímpeto renovador, como o maio de68, aluta dos povos pela autonomia, os movimentos de emancipação das mulheres e até uma mudança de paradigma da racionalidade.
João XXIII e a Pacem in Terris
Mas João XXIII é, igualmente, Pacem in Terris, a sua última Encíclica (8ª), de 11 de abril de 63, nas vésperas da sua morte.
Fr. Irénée Rezende Guimarães, num texto de 20126, interroga-se sobre as razões que poderão ter levado um Papa moribundo a escrever esta Encíclica no final do seu pontificado, enunciando 4 razões essenciais:
Le contexte international
l’engagement des papes pour la paix
le développement de la conscience mondiale pour la paix
et la propre personnalité de Jean XXIII.
Na sequência do que tenho vindo a dizer, gostaria de destacar a 3 e a 4 para sublinhar de novo a mesma ideia: por um lado, a sintonia de João XXIII com o seu tempo e, por outro, a sua capacidade de lhe dar corpo em termos espirituais e cristãos. Quero destacar, quatro elementos para mim mais significativos dentro da perspetiva que tenho vindo a defender:
1. A quem é endereçada a Encíclica
a. Para além dos destinatários habituais, é endereçada a todas as pessoas de boa vontade, coisa que representa uma novidade (cf Fr Irenée
Guimarães)
2. O subtítulo da Encíclica: A PAZ DE TODOS OS POVOS NA BASE DA VERDADE, JUSTIÇA, CARIDADE E LIBERDADE. Aqui gostaria de sublinhar o facto de a justiça vir antes da caridade que me parece extremamente importante.
3. O paralelismo entre a primeira parte da Encíclica e os direitos humanos proclamados em 48.
a. A afirmação inicial é: Todo ser humano é pessoa, sujeito de direitos e deveres
E acrescenta isto é, natureza dotada de inteligência e vontade livre. Por essa razão, possui em si mesmo direitos e deveres, que emanam direta e simultaneamente de sua própria natureza. Trata-se, por conseguinte, de direitos e deveres universais, invioláveis, e inalienáveis.
b. A lista dos direitos
Direito à existência e a um digno padrão de vida
Direitos que se referem aos valores morais e culturais
Direito de honrar a Deus segundo os ditames da reta consciência
Direito à liberdade na escolha do próprio estado de vida
Direitos inerentes ao campo econômico
Direito de reunião e associação
Direito de emigração e de imigração
Direitos de caráter político
4. Finalmente, “os sinais dos tempos”, que finaliza a primeira parte da Pacem in Terris. A este nível, creio ser importante comentar dois aspetos: (1) a própria expressão; (2) o conteúdo que cobre na Encíclica.
Os sinais dos tempos
No meu entender, assumir a ideia de que os tempos – ou seja, o desenvolvimento histórico da humanidade no seu labor próprio – emitem sinais que devem ser tidos em conta para a nossa ação é a expressão mais evidente de que se considera que o mundo tem sentido em si mesmo. É o filósofo Hegel que melhor nos ajuda a compreender o que está em jogo. Para este filósofo, que tinha 20 anos quando se deu a Revolução Francesa, o desenvolvimento da humanidade era determinado por uma dinâmica interior à própria realidade, dinâmica essa que explicava as mudanças culturais e históricas e, portanto, o progresso humano. Nesse sentido, para ele, cada Época era o resultado de uma evolução racional e explicada por ela. Por outro lado, cada Época tinha os seus protagonistas – aquelas pessoas que estando atentas ao pulsar da realidade davam corpo àquilo de que essa realidade estava prenhe e, por isso, eram capazes de a conduzir a um estádio superior de desenvolvimento. Hegel falava de Espírito do tempo. João XXIII de sinais dos tempos, mas, parece-me possível pensar que ambos estavam a falar da mesma coisa – da capacidade humana de construir humanidade e de fazer avançar. Não sei se João XXIII estudou a filosofia de Hegel ou se lhe bastou o seu amor a Deus e a sua escuta do Mundo para compreender que valia a pena ter em conta aquilo que no Mundo ia acontecendo e integrá-lo numa visão mais ampla sustentada por um horizonte de transcendência. Em qualquer caso, não tenho muitas dúvidas de que Hegel o consideraria um protagonista do seu tempo, ou seja, alguém atento à evolução da realidade e disposto a levá-la por diante.
O conteúdo selecionado por João XXIII
Como sabemos, são 3 os destaques da Encíclica:
a gradual ascensão económico-social das classes trabalhadoras
o ingresso da mulher na vida pública
o movimento de emancipação dos povos
Ou seja, o que o Papa João acolheu foi aquilo que à partida seria mais perturbador por ser o que alterava de maneira mais profunda a realidade e os valores estabelecidos. Isso não lhe fez medo, pelo contrário, foi esse novo interpelador que quis pensar e contextualizar dentro do seu horizonte espiritual e dos seus valores cristãos. Essa decisão de acolhimento e integração abalou completamente a clausura da Igreja e se
acreditarmos – como canta Chico Buarque – que “ninguém volta ao que acabou”, podemos ter a esperança de que o seu gesto de aceitar o valor da modernidade continue a germinar e dar frutos, mesmo que não cheguemos a colhê-los pessoalmente.
1 Cf. Mario de França Miranda, O CONCÍLIO VATICANO II OU A IGREJA EM CONTÍNUO AGGIORNAMENTO.
2 Votada definitivamente em 7 de Dezembro de 1965, em que se registaram 2309 votos favoráveis, 75 contrários e 7 nulos.
3 Jacques DUPUIS. O debate cristológico no contexto do pluralismo religioso. In: Faustino TEIXEIRA (Org.) Diálogo de pássaros. São Paulo, Paulinas, 1993, p. 79.
4 Victor Codina, HACE 50 AÑOS HUBO UN CONCILIO… SIGNIFICADO DEL VATICANO II, Cuadernos, 162. O VATICANO II, UM CONCÍLIO EM PROCESSO DE RECEPÇÃO, Persp. Teol. 37 (2005) 89-104.
5 Pe. Pedro Guimarães Ferreira, S.J.,” O “diário” de João XXIII”, Separata da Revista Verbum, tomo XXXII, fasc 2, 1976.
6 fr. Irénée Rezende Guimarães OSB, Pourquoi Jean XXIII a écrit « Pacem in Terris » ? Le contexte d’une encyclique et ses lignes maîtresses.
Fonte: https://ia801707.us.archive.org/6/items/Joao23/HomenageandoJooXxiii.pdf publicado no blogue do Nós Somos Igreja http://nsi-pt.blogspot.pt/
Falta agora uma formalidade conhecida como “Royal Assent”: o documento precisa de ser assinado pela rainha. Casamentos deverão começar a ser feitos em 2014.
O casamento civil entre pessoas do mesmo sexo está prestes a ser uma realidade no Reino Unido. A Câmara dos Comuns do Parlamento daquele país deu luz verde, no final do dia de terça-feira, às últimas alterações à lei que pôs o partido conservador do primeiro-ministro David Cameron à prova.
O debate que permitiu a aprovação demorou duas horas, mas falta agora uma formalidade conhecida como “Royal Assent”: o documento precisa de ser assinado pela rainha Isabel II. Contudo, o Governo acredita que tal possa vir a acontecer ainda nesta quarta ou quinta-feira. Assim que a lei for promulgada, Inglaterra e Gales tornar-se-ão no décimo país a ter igualdade no acesso ao casamento, juntando-se a Portugal, Espanha, França, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Noruega, Suécia e Islândia.
A lei sofreu algumas alterações na Câmara dos Lordes, conhecendo a sua versão final na segunda-feira com 390 votos a favor e 148 contra. Um diploma prévio tinha já sido aprovado por esta câmara em Maio, com uma maioria esmagadora de 366 contra 161 votos, que contou com o apoio tanto de Trabalhadores como de Democratas. Mas deixou algumas frechas no partido de Cameron, onde não houve consenso em relação ao diploma, com o primeiro-ministro a ser acusado de estar a ser demasiado liberal.
Em declarações a propósito da aprovação, a ministra da Igualdade do Reino Unido, Maria Miller, citada pela Reuters, afirmou que o título “casamento” representa acima de tudo uma questão de “liberdade e respeito”, pelo que os mais tradicionais não devem sentir que o seu conceito de casamento foi abalado mas sim que passa a haver igualdade independentemente do sexo do casal. As igrejas que queiram passar a realizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo poderão fazê-lo, com excepção da Igreja Anglicana, a que tem mais peso no país, e onde continuará a ser ilegal, explica a AFP.
"Uniões civis" para heterossexuais
Espera-se agora que tudo esteja operacional para que a partir de 2014 os casamentos entre pessoas do mesmo sexo comecem a ser realizados, adianta a AFP, que recorda que o diploma ultrapassou vários obstáculos – nomeadamente uma derradeira tentativa em Maio de aprovar uma proposta que passava por alargar as chamadas “uniões civis” aos casais heterossexuais.
Isto porque, no Reino Unido, desde 2005 que já existia uma figura jurídica que reconhecia as uniões civis de casais do mesmo sexo e que tinha sido criada precisamente para estes casos. A união contava com uma cerimónia mas a diferença que era dada ao nome não permitia, por exemplo, que um casal em união civil naquele país fosse visto como “casado” noutro estado. A aprovação é, ainda assim, simbólica, uma vez que o país já permite que os casais homossexuais possam adoptar crianças ou recorrer à procriação medicamente assistida ou a barrigas de aluguer.
As questões financeiras também chegaram a ser invocadas com os conservadores a mostrarem contas que apontam para que o custo de adaptação do sistema informático custe 2,3 milhões de euros aos contribuintes. Porém, o Governo de Cameron contrapôs que os casamentos também deverão gerar uma receita de quase 17 milhões de euros, pelo que o investimento será largamente compensado, escreve a AFP.
Fonte: http://www.publico.pt/mundo/noticia/casamento-gay-aprovado-pelo-parlamento-no-reino-unido-1600448
A renovação da Igreja está em curso.
O Papa Francisco se dirigiu neste sábado a 6.000 seminaristas e noviças, reunidos no Vaticano, e num discurso totalmente improvisado pediu que a Igreja não siga a riqueza e os religiosos sejam coerentes com seu voto de pobreza.
“Neste mundo em que as riquezas causam tanto dano”, disse o Pontífice, “os padres e as freiras temos que ser coerentes com a pobreza. Quando vemos que o primeiro interesse de uma instituição paroquial ou educativa é o dinheiro, isto é uma grande incoerência”, afirmou.
A informação é publicada por Religión Digital, 07-07-2013. A tradução é de Benno Dischinger.
O Papa, que falou durante uma hora aos seminaristas e noviços reunidos na Aula Paulo VI do Vaticano, motivado por uma iniciativa no Ano da Fé, assegurou que aos jovens “enoja” ver um padre ou uma freira que não é coerente.
Quando enfrentou o tema da coerência e da autenticidade como características que devem ter os religiosos, o Papa assegurou: “Justamente a vós, jovens, enoja quando um padre ou uma freira não são coerentes”.
Evangelizar ‘com o exemplo’.
O Pontífice, como já havia recordado em outras ocasiões, assegurou que os religiosos, “como dizia São Francisco, devem evangelizar primeiro com o exemplo e em seguida com as palavras”.
Em seu sermão, interrompido em várias ocasiões pelos aplausos e as risadas, Francisco reiterou em várias ocasiões a necessidade da pobreza na Igreja e assegurou que lhe “dói quando vê uma freira ou um padre com o último modelo de carro”.
“Eu sei que o carro é necessário porque é preciso fazer muito trabalho e ir daqui para lá, mas é melhor um carro humilde e, se vos surgir a tentação de um bom carro, pensai nas crianças que morrem de fome”, agregou.
A intervenção do Papa se produz precisamente uma semana depois que monsenhor Núncio Scarano, - conhecido como ‘monsenhor 500 euros’ – fora detido por ordem do Fisco de Roma sob a acusação de fraude e corrupção. Sua prisão provocou a demissão do diretor e subdiretor do Banco Vaticano.
Ser felizes
O Papa Francisco também advogou no sentido de que os futuros padres e freiras sejam pessoas felizes, e arrancou as risadas dos presentes ao explicar que “um religioso não pode ter cara de pimenta em vinagrete”.
Sobre o voto de castidade, o Papa assegurou que este “não termina no momento do voto” e que os padres e freiras podem ser “mães e pais pastorais de uma comunidade”.
O Papa também criticou o que chamou a “atual cultura da provisionalidade” e que leva a dizer: “Eu me caso enquanto durar o amor” ou “serei freira somente por alguns anos”.
“Esta cultura do provisional nos afeta a nós todos. Em meus tempos isso era mais fácil porque a cultura favorita era a do definitivo”, explicou.
O Papa gracejou sobre a duração desta audiência ao perguntar quanto tempo tinham à disposição e Monsenhor Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho pela promoção da nova evangelização, contestou ”que podiam permanecer até amanhã”.
“Pois se podemos ficar até amanhã, é bom trazer a todos um sanduíche e uma Coca-Cola“, continuou o gracejo, arrancando um aplauso e as risadas dos seminaristas.
O Papa também instou aos futuros padres e freiras a não falaram mal dos demais, deixar de lado “as fofocas”, porque são “somente fruto dos ciúmes e das invejas”.
Também os aconselhou que não “pratiquem o esporte” dos padres mais idosos, o do lamentar-se, e lhes disse: „Não sigais a deusa da Queixa. Sede positivos, continuai a vida espiritual e a encontrar as pessoas, sobretudo aquelas mais desafortunadas”.
O Papa terminou pedindo-lhes que rezem por ele porque também é “um pobre pecador”.
Eis um extrato do que o Papa Francisco falou:
“Mons. Fisichella me disse, não sei se seria verdadeiro, que todos vocês têm o desejo de consagrar sua vida para sempre a Cristo”, disse o Papa, que suscitou fortes aplausos.
“Vocês agora aplaudem porque é tempo de bodas, mas, quando terminar a lua de mel, “o que sucederá”? Recordou que um seminarista dizia “quero servir a Cristo por dez anos” e depois iniciar outra vida.
“Também nós estamos sob a pressão da cultura do provisório”, recordou, “eu me caso enquanto durar o amor, sou freira ou religioso, mas não sei se passará”. “Isto não vai com Jesus”, reiterou.
Reconheceu que “uma escolha definitiva hoje é mais difícil que em meus tempos”! Porque “somos vítimas de uma cultura do provisório”, e convidou a refletir sobre como “não aceitar esta cultura”.
E sobre o tema recordou uma poesia em espanhol: “Esta tarde Señora, la promesa es sincera, pero por las dudas no te olvides las llaves afuera”. E alertou que “se alguém sempre deixa a chave do lado de fora, não é bom, temos que aprender a fechar a porta do lado de dentro”. E recomendou que, se não estou seguro, tomo um tempo e comunicando-me com Jesus, “quando me sinto seguro fecho a porta”.
A Alegria
Comentando a alegria que reinava na sala, se perguntou: A alegria de um seminarista nasce por ter ido dançar no fim de semana com os amigos? Ou centra-se, por exemplo, em possuir o último modelo de smart phone, ou o scouter mais rápido? O automóvel que se faz notar, “eu lhes digo verdadeiramente, a mim me faz mal quando vejo um padre ou uma freira com um automóvel último modelo. Não se pode! O carro é necessário, mas que seja um mais humilde e, se te agrada um carro lindo, pensa somente em quantas crianças no mundo morrem de fome”.
O Papa precisou que a verdadeira alegria não vem do ter, mas do encontro nas relações com os outros, do sentirem-se amados e compreendidos. Porque a alegria nasce da gratuidade de um encontro. A alegria “do encontro com Jesus“ e do “sentir-se amados por Deus”.
“Quando alguém se encontra - prosseguiu o Santo Padre – com um seminarista ou uma noviça demasiado triste, pensa: algo aqui não funciona, porque falta a alegria do Senhor, que conduz o serviço do encontro de Jesus e que te leva a encontrar-se com os outros” e mencionou o dito de Santa Teresa “Um santo triste é um triste santo”. E convidou a não ser desses com cara de pepinos em vinagre”.
Fecundidade pastoral e celibato
O Papa indicou: “Um padre ou uma freira sem alegria é triste” e indicou um problema de insatisfação. Aprofundou que é um problema de celibato, porque os religiosos têm que ser castos e ao mesmo tempo fecundos, porque têm que ser padres ou madres da própria comunidade.
Coerência e autenticidade
O Santo Padre sublinhou, ademais, a importância da coerência e autenticidade, recordou como Jesus fustigava os hipócritas e a dupla face. “Se queremos jovens coerentes, sejamos nós coerentes”, disse. Fazer como São Francisco, recordou o Santo Padre, porque ele convidava a ensinar o Evangelho também com a palavra. Ou seja, principalmente com a autenticidade da vida.
Pobreza
“Neste mundo em que a riqueza faz tanto mal é necessário que nós sejamos coerentes com nossa pobreza”. Quando se vê que uma instituição ou uma paróquia pensa primeiramente no dinheiro, não age bem, é uma incoerência. Porque “é em nossa vida que os outros têm que ler o evangelho”.
Transparência com o confessor
E o Papa perguntou: “há aqui na Aula alguém que nunca tenha pecado? E convidou a ter transparência com o confessor “e não ter medo de dizer: padre, pequei”. Porque “Jesus sabe a verdade e te perdoa sempre, mas quer que lhe digas o que Ele já sabe”. Que triste, constatou, “quando um sacerdote ou freira peregrina pelos confessionários para esconder sua verdade”.
Preparação em diversas dimensões da vida
O pontífice convidou a preparar-se culturalmente “para dar razão sobre a fé e a esperança”. O contexto no qual vivemos “nos pede darmos as razões, não darmos nada por descontado”, disse.
Vida comunitária
Uma preparação que una as diversas dimensões da vida, em particular a “vida espiritual, intelectual, apostólica, a vida comunitária”. E precisou: “É melhor o pior seminário que nenhum seminário, porque é necessária a vida comunitária”.
Não falar mal dos outros
Recordou também as relações de amizade e fraternidade e o dano dos ‘mexericos’ numa comunidade. E isto em nosso mundo clerical e religioso é comum. Também eu caí nisso tantas vezes e me envergonho disto, isso não está bem, o ‘escutaste’? Isso é um inferno numa comunidade. Se tenho um problema com alguém, eu lho digo de frente e não por trás.
Uma vez uma freira me disse que havia feito a promessa ao Senhor de nunca falar mal dos outros. E, se é preciso dizê-lo, fazê-lo ao superior. Nunca a quem não pode ajudar.
Fraternidade
Advertiu, ademais, do perigo dos extremos: “seja preferível o isolamento que a dissipação”; e a verdadeira amizade é que evita isto.
Duas dimensões: transcendência e o próximo
“Saiam vocês a pregar o evangelho e para encontrar Jesus”, disse. Uma saída é a transcendência e a outra é para os demais, para anunciar Jesus. Uma só não funciona.
E recordou Madre Teresa de Calcutá que “não tinha medo de nada”, porque “essa freira se ajoelhava por duas horas diante do Senhor”.
Uma Igreja mais missionária
Queria uma Igreja mais missionária e menos tranquila. E recordou sua emoção ao saudar religiosos que estão em lugares de evangelização. Dêem sua contribuição a uma Igreja fiel ao caminho de Jesus. Não aprendam de nós, esse esporte que nós velhos praticamos é muitas vezes o do lamento, o culto da deusa lamentação.
E deu alguns conselhos finais: Sejam capazes de encontrar as pessoas mais desavantajadas; não tenham medo de ir contra a corrente; rezem o rosário; tenham a Virgem com vocês em vossa casa como o apóstolo são João e rezem também por mim, que sou um pobre pecador, mas vamos em frente. E concluiu convidando a não serem “nem solteirões nem solteironas”, senão terem a fecundidade apostólica.