ESPAÇO DE ENCONTRO E REFLEXÃO ENTRE CRISTÃOS HOMOSSEXUAIS em blog desde 03-06-2007
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publicado por Riacho, em 30.06.13 às 00:32link do post | favorito

Uma reportagem com muitos gestos proféticos do novo papa de que destacamos o diálogo inter-religioso e o combate ao fundamentalismo em todas as religiões. Obrigado papa Francisco por tanta clareza e tanta simplicidade!

 


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publicado por Riacho, em 27.06.13 às 23:29link do post | favorito

Artigo de Pierre-Israël Trigano

Longe de condenar a homossexualidade, o Levítico convida a humanizar a relação do masculino e do feminino no casal.

A análise é do filósofo e psicanalista francês Pierre-Israël Trigano, autor de L'inconscient de la Bible [O inconsciente da Bíblia] (Edições Réel, 7 volumes). O artigo foi publicado no sítio da revista Témoignage Chrétien, 20-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

A perseguição multissecular dos homossexuais em nome da Bíblia até à rejeição violenta da lei que lhes autoriza ao casamento hoje se construiu essencialmente em torno da leitura de um mandamento do Levítico (Lv 18, 22): "Não te deites com um homem, como se fosse com mulher: é uma abominação".

Lida assim, a proibição não tem apelação. E é nesse sentido que o judaísmo e o cristianismo excomungam os homossexuais, com toda sã consciência. Mas o texto hebraico desse versículo, em sua constituição, é um dos mais obscuros da Bíblia. É o sinal indubitável que está cheio de um inconsciente portador de um sentido inédito.

Considerado na sua literalidade, podemos traduzi-lo assim: "Com um macho [zékher] tu não coabitarás [verbo no masculino] os estados de estar deitado [as "coabitações", os "leitos"] de mulher [ishah]".

Poder-se-ia muito bem dizer que esse versículo, em grande parte, é incompreensível, e que o modo pela qual as Igrejas o traduzem é uma extrapolação da versão grega da Septuaginta, não traduzida do original hebraico. Se a Torátivesse querido ter como alvo diretamente a homossexualidade, ela o faria de maneira mais clara, em termos mais diretos. Além disso, não se vê por que ela ignoraria a homossexualidade feminina.

Voltar à literalidade do texto

Constatamos, em primeiro lugar, que em nenhuma parte do texto se encontra a palavra "como" que estabeleceria uma comparação entre uma relação sexual com um homem e uma relação sexual com uma mulher.

Literalmente, nesse versículo, a questão é o homem "coabitar" os "leitos" de mulher. Como ver aí qualquer referência à homossexualidade? Ao contrário, essa estranha fórmula poderia evocar relações sexuais do homem com as mulheres.

Em segundo lugar, a palavra traduzida como "mulher", ishah, aparece pela primeira vez na Bíblia em Gênesis 2, no relato da Criação da mulher. O seu contrário, designando "o homem", é ish. Seria de se esperar encontrar essa palavra no versículo para designar o oposto da mulher. Ao invés, é a palavra zékher, o "macho", que encontramos no texto, que tem como polo oposto a palavra néqévah, a "fêmea". Essas duas palavras fazem sua aparição em Gênesis 1, no relato da Criação do ser humano.

Pelo fato de o Levítico se referir a zékher, o "macho", logicamente deveríamos encontrar no versículo néqévah, "a fêmea", em vez de ishah, "a mulher". Como compreender essa diferença?

"Macho" e "fêmea" são categorias pelas quais a Bíblia (Gn 1, 27) qualifica o ser humano que acaba de ser criado por Deus: "Macho e fêmea os criou". Além disso, a Igreja se serve igualmente desse versículo para afirmar sem apelo que só o matrimônio "de um pai e de uma mãe" é a norma divina para fundar a família humana.

Ora, é preciso ver que "macho" e "fêmea" são categorias animais e não humanas. Elas caracterizam uma humanidade primitiva que sai ainda com dificuldade da animalidade.

É precisamente a emergência de tal humanidade, arcaica, original, ainda não totalmente realizada, que Gênesis 1descreve. Certamente lá está escrito que ela foi criada "à imagem e semelhança de Deus", mas se trata de um potencial divino de humanização que ainda não está ativo na origem e que está em jogo em toda a evolução humana.

Masculino e feminino arcaicos

As categorias animais zékher e néqévah expressam o estado de violência que caracteriza a humanidade arcaica da qual será difícil sair por parte dos seres humanos, homens e mulheres.

O surpreendente poder significante do hebraico bíblico nos ajuda a compreender isso, em particular pelas possibilidades de releitura que ele oferece. Com efeito, essa língua é puramente consonântica, e as vogais não estão fixadas nos manuscritos originais. A mesma palavra, associada a vogais diferentes, assume significados insuspeitos à primeira leitura e manifesta assim, sutilmente, um "inconsciente" da experiência humana que ela simboliza.

Há, por exemplo, o caso, muito impressionante, da palavra néqévah, "fêmea", que nós podemos reler comonéqouvah, portadora de um significado terrível para a condição feminina: a "perfurada", a "maldita"! Essa palavra nos revela, assim, sem dúvida alguma, que, na humanidade mais arcaica, ainda animal e "primata", a mulher é reduzida à condição de "fêmea" dominada, esmagada pelos "machos", como é ainda hoje nos clãs dos chimpanzés, os nossos primos animais mais próximos.

A psicologia do zékher

Mesmo que nas tribos primitivas chamadas "matriarcais" as mães tivessem um certo poder, certamente não era o caso das filhas, reduzidas a objetos de troca entre clãs, em benefício dos "machos".

E eis precisamente o que nos sugere a palavra zékher, que designa estes últimos: pronunciada zakhor, ela expressa a ação de lembrar. Ao fazê-lo, o espírito da língua hebraica parece nos ensinar que é o poder dos "machos" que organiza a "lembrança" da origem, a fidelidade às linhagens arcaicas da humanidade e, portanto, a repetição dos maus-tratos feitos às mulheres de geração em geração.

É a psicologia do zékher, o masculino arcaico e violento, que deseja manter e perpetuar na cultura humana as mulheres e a feminilidade na condição maldita de "fêmea" inferiorizada, violentada e humilhada.

Outra caracterização dos gêneros surge em Gênesis 2 com as palavras ish e ishah, "homem" e "mulher". Seria necessário dissipar muitas contradições que a tradição (investida pelo zékher) acumulou com relação a essas palavras. Algo impossível de estudar dentro dos limites deste artigo.

Constatamos simplesmente que elas significam "esposo" e "esposa", e são, portanto, categorias eminentemente relacionais. Elas designam uma humanidade finalmente humanizada, que saiu do arcaísmo "animal", na qual, portanto, a relação de amor pode desabrochar. É revelador o fato de que a palavra ishah, "mulher", pronunciadaéshéh, significa: "Eu esquecerei...".

Maus tratos às mulheres

O "macho" no ser humano quer organizar a lembrança do arcaísmo violento e desumano da origem animal, enquanto a "mulher" no ser humano "esquecerá"! É uma promessa profética trazida pela ishah. Virá um tempo de cumprimento em que os maus-tratos feitos às mulheres e à feminilidade serão esquecidos.

Nesse ponto, o sentido do versículo se esclarece. Ele ordena ao homem que acima de tudo não entre na coabitação (sexual, mas também em todos os domínios da vida de casal) com ishah, a mulher, com o (com base no) espírito dozékher, o masculino arcaico sem amor e violento.

Ishah é a mulher, mas também, no plano arquetípica, é a feminilidade, a capacidade de abertura ao outro e de amor, presente no homem assim como na mulher.

Assim, esse versículo, bem longe de proibir formalmente a homossexualidade, é, ao contrário, a injunção divina a cuidar de toda relação de coabitação e de casal, qualquer que seja o/a parceiro/a que se tenha, de fundá-la no amor, na ternura e, portanto, de cultivar o desabrochar da feminilidade em si e no outro, em vez de feri-la sob os golpes do egocentrismo masculino arcaico de onipotência.

Como se vê, essa injunção pode interpelar tanto os casais homossexuais quanto os heterossexuais, sem lançar o anátema sobre qualquer categoria de seres humanos.

Questionamento ético

O seu questionamento não é legalista, mas sim ético. Ele não se contenta com uma aplicação "técnica" que seria aqui a recusa ou a repressão da homossexualidade, como a tradução habitual levaria a pensar. Mas ele abre uma busca ética sobre o fundamento da relação que cada um, quem quer que seja, enlaça com um outro, quem quer que seja, como ser humano.

E essa busca é, em si mesma, um caminho de vida que visa a favorecer cada vez mais o amor, a enfatizar a feminilidade (dos homens assim como das mulheres) ferida pelo zékher. Seguramente não se pode utilizar a Bíblia hebraica, portanto, para condenar a homossexualidade.

Toda a minha pesquisa demonstra que ela veicula no seu texto hebraico um "inconsciente" que espera ser redescoberto, portador de um sentido que revoluciona as interpretações da tradição judaico-cristã e que subverte a redução despótica e moralista da religião. Esse versículo é um testemunho característico disso.

PARA LER MAIS:


Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/521416-a-biblia-hebraica-nao-e-homofobica-artigo-de-pierre-israel-trigano


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publicado por Riacho, em 18.06.13 às 22:26link do post | favorito

Um testemunho muito bonito da dirigente máxima do FMI relativo ao seu primo gay que projecta sinais de esperança num mundo mais tolerante.

 

 


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publicado por Riacho, em 13.06.13 às 14:14link do post | favorito

"A mensagem mais importante contida nas palavras do papa sobre o lobby gay refere-se à sua determinação a reformar a Cúria e a Igreja. Ele não queria criticar os homossexuais, mas sim todos aqueles que se organizam em grupos ou correntes para influenciar a vida e as escolhas do Vaticano".

A reportagem é de Paolo Mastrolilli, publicada no sítio Vatican Insider, 12-06- 2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Michael Sean Winters, jornalista e escritor do National Catholic Reporter, acompanha esses eventos com os olhos dos Estados Unidos, talvez o país mais afetado pelos escândalos de fundo sexual que, nos últimos anos, abalaram a Igreja.

Eis a entrevista.

Que impressão você teve das palavras de Francisco no encontro com a Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos?

A primeira coisa que me chamou a atenção foi o lugar e o modo em que ele falou. Uma verdadeira conversa, em círculo, em que ele se colocou no mesmo plano dos interlocutores para escutá-los. É uma confirmação de como ele é acessível e está determinado a ouvir o parecer de todos para levar adiante a reforma.

Ele queria responder ao escândalo dos abusos sexuais nos Estados Unidos?

Não acredito, ao menos não diretamente. Eu não acho que ele faça uma associação entre homossexualidade e abusos. As pessoas que cometem abusos, na Igreja e fora dela, são adultos de várias tendências sexuais, que não deveriam ter acesso às crianças. O problema não é exclusivamente dos gays.

O papa, no entanto, teria falado especificamente de lobby gay.

Certamente, porque é um problema que existe dentro do Vaticano. Sabemos que ele existe, porque estava presente no famoso relatório dos três cardeais. No entanto, não existe uma distinção ideológica dentro da Igreja entre heterossexuais e gays. Ao contrário, no mínimo o oposto é verdadeiro: os prelados homossexuais muitas vezes são os mais conservadores e tradicionalistas, decididamente contrários a qualquer abertura com relação a temas como o casamento gay ou a igualdade de direitos. O problema é que, às vezes, eles se unem em grupos para defender seus próprios interesses, e isso é inaceitável para o Papa. Francisco quer reformar a Cúria, para libertá-la de todos os lobbies e as correntes que a impedem de funcionar como deveria. Portanto, ele critica o grupo dos gays assim como criticaria qualquer outra formação interna que vise a condicionar o trabalho do Vaticano.

Como serão recebidas essas suas declarações nos Estados Unidos?

Muito bem, eu acho, porque nos Estados Unidos existe a clara percepção de que a Igreja precisa fazer limpeza. Esse sentimento nasceu com os abusos sexuais, mas não apenas, e agora se ampliou para o funcionamento e para a missão geral do Vaticano. É um problema que diz respeito à reforma da Cúria, mas também aos processos internos para a gestão da Igreja.

A que você se refere?

Eis um exemplo prático. Nós temos um bispo em Kansas CityRobert Finn, condenado por ter encoberto padres pedófilos. Ele mesmo admite que, nas suas condições atuais, não poderia se apresentar nem para ensinar o catecismo aos domingos, porque lhe seriam pedidas informações básicas sobre os antecedentes penais que o excluiriam desse trabalho. No entanto, ele ainda é bispo e permanece no seu posto. A razão? Porque não existe um processo claro e padrões com os quais se possa enfrentar e resolver essas situações de conflito. Portanto, o que vale são as conexões, as relações, os apoios que uma pessoa pode obter. Finn é apoiado na Cúria pelos cardeaisRigali e Burke, e por isso ainda está no cargo. No entanto, se a Igreja não consegue remover nem mesmo os bispos que demonstraram que não podem mais desempenhar a sua função, toda a credibilidade e a eficácia da instituição sofre com isso. Eu acredito que o papa está determinado a enfrentar esses problemas e a reformar a Cúria. Por isso ele falou assim do lobby gay ou de qualquer outra corrente, e por isso ele é estimado pelos fiéis.


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publicado por Riacho, em 10.06.13 às 23:39link do post | favorito

Timothy Radcliffe OP, ex-Mestre da Ordem Dominicana, fala sobre o tema do seu livro "'What is the Point of Being a Christian?" na Catedral de St Paul. Parte da série de eventos organizados pelo Fórum de São Paulo, intitulado "The Case for God '.

Esta conferência põe a descoberto uma visão fantástica do ser cristão, com algumas referências aos cristãos homossexuais como, por exemplo, a partir do minuto 48" em que diz, numa tradução livre, mais ou menos isto: "A coisa mais importante numa pessoa gay ou hetero, indecisa ou confusa é que ela tem a capacidade de amar o outro e que Deus está nesse amor. Deus está no amor de duas pessoas gays como está em qualquer tipo de amor e é por isso que acho que a Igreja colapsaria se não houvesse cristãos gays"

 


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publicado por Riacho, em 10.06.13 às 20:06link do post | favorito

"As pessoas nos acham masoquistas. Não é isso. Somos católicos e gays. Uma é a expressão da espiritualidade. A outra, da sexualidade". Assim a psicóloga Cristiana Serra, de 39 anos, explica o porquê da criação, há sete anos, do Diversidade Católica. O grupo se prepara para receber jovens com o mesmo perfil, que virão de todo o mundo, para a Jornada Mundial da Juventude, em julho.

- Não é para fazer piquete ou pedir aceitação do Papa. Vamos conversar com jovens sobre como é ser gay dentro da Igreja - diz o professor Hugo Nogueira, de 42 anos, um dos organizadores do evento, que acontece na Unirio, no auditório Vera Janacopulos, 25 de julho, de 14h a 18h.

São pessoas com histórias parecidas com a do músico Pedro Borges, de 28 anos.

- Sempre fui católico, até que descobri minha sexualidade. Não foi tranquilo, mas tudo muda quando se vê que o padre não é um mágico, mas uma pessoa que deve orientar a fé - diz Pedro, que é voluntário da Jornada.


Não faltam relatos de jovens "feridos na alma" por um ambiente conservador.

- Um menino cortou os pulsos. Alguns documentos oficiais são de um assédio moral devastador. Como padre, vejo que a Igreja deve receber todos - diz um dos raros sacerdotes, que prefere não se identificar, a ouvir confissões de gays no Rio.

Os que fazem parte do grupo confessam seus pecados, não vêem a sexualidade como pecado, mas condição natural, e comungam.

- Hóstia não é medalha de comportamento. É símbolo da fé - defende Hugo.

O posicionamento não é consenso. Apesar de o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, ter se manifestado a favor da acolhida das pessoas de qualquer orientação sexual, conferir sacramentos a elas é tabu.

- Cito Bento 16: o cristianismo não é um conjunto de proibições - pensa o padre.

Outro padre que estuda a sexualidade é o jesuíta Luís Corrêa Lima. Em artigos, ele aponta brechas que garantem aos gays acesso à Igreja.

"Uma carta da Cúria Romana, de 1986, afirma que nenhum ser humano é mero homo ou hétero. Ele é, acima de tudo, criatura de Deus e destinatário de Sua Graça".

“Sempre fui muito religiosa, o arcebispo jantava na minha casa, conhecia todos os padres. Eu tinha 17 anos, no início da década de 1980, quando não aguentando mais procurei um padre para confessar: "estou apaixonada por uma menina". Apesar de ter me mandado orar, fazer jejum e tomar banho frio, ele me disse que eu iria para o inferno. Eu vivi lá por anos, até que encontrei um monge beneditino. Ele foi o primeiro que me disse que eu não estava no inferno, que era para eu ser como minha natureza mandava. Daí as coisas melhoraram e segui a vida religiosa. Entrei para um convento e tive sorte de a monja me aceitar, pois disse a ela logo que cheguei. Fiquei seis anos lá, até que, com medo dos votos de obediência, pedi licença e não voltei. Casei e tenho minha família e minha fé.”

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