ESPAÇO DE ENCONTRO E REFLEXÃO ENTRE CRISTÃOS HOMOSSEXUAIS em blog desde 03-06-2007
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publicado por Riacho, em 27.11.10 às 15:10link do post | favorito

 

Dear Bishop,

I house discarded LGBT youth; 8 so far this year. I have bandaged a child who has been beaten. I have prayed over the nearly-lifeless body of a child who attempted suicide. I house, feed, counsel and love these children. I speak at vigils, write letters to fundamentalists, and remind clergy not to tell these children that they are hell bound because of their orientation. You might call me a gay activist. I am, and I would ask you to join me. Do you have a homeless shelter that will reach out to LGBT youth in your diocese??? Non discrimination clauses in schools and hiring? Oh and ...I wear a rainbow pin every day because...

· I believe that the rainbow is a symbol of a promise from God.

· I believe we are all His children, and have an inheritance in that promise.

· I believe that wearing it reminds those who would deny my child a place at His table that they don't own the guest list.

· I believe that wearing it gives hope to a gay youngster that there are adults who can love him.

· I believe that wearing it gives parents an open door to talk to me about their gay children; and that leads to affirmed and healthy children.

· I believe that it starts the conversation with those who are ignorant of the struggles of gay folk.

· So, if you see me in your communion line with a rainbow cross, or pin, or peace sign; I would hope you realize that wearing the pin is my way of reaching out to the marginalized, and reminding them that they are welcome, loved.

· When I serve as extraordinary minister of the Eucharist, I wear it to remind me not to judge anyone who comes forward, but instead to share with them the table of the Lord. We are all God's children, He loves us all.

Sponsored by Equally Blessed, a coalition of faithful Catholics who support full equality for lesbian, gay, bisexual and transgender (LGBT) people both in the church and civil society.

www.newwaysministry.org
www.fortunatefamilies.com
www.DignityUSA.org
www.cta-usa.org


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publicado por Riacho, em 27.11.10 às 14:56link do post | favorito

"Perguntamo-nos o que assusta com relação ao ser homossexual, ao ponto de gerar na Hierarquia Católica, todas as vezes, um distanciamento e distinção que parecem provir mais do exercício da lei do que do coração."

Publicamos aqui a carta do grupo Nuova Proposta (www.nuovapropostaroma.it), composto por homens e mulheres homossexuais de Roma, na Itália, 23-11-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Nós, mulheres e homens do Nuova Proposta, sobre as palavras de Bento XVI relativas à homossexualidade contidas no livro-entrevista escrito com Peter Seewald, pedimos que qualquer pessoa que fale sobre homossexualidade tenha bem presentes, em primeiro lugar, o sofrimento e o desconforto que muitos jovens sentem ao não se sentirem compreendidos, acolhidos, e sempre e ainda "fora de casa".

O "Nuova Proposta, mulheres e homens homossexuais cristãos" expressa o sentimento do mais profundo sofrimento ao ler o que foi noticiado pelos principais jornais a propósito das antecipações do livro-entrevista, que o Pontífice Bento XVI escreveu com o jornalista Peter Seewald, com relação ao tema da homossexualidade.

Perguntamo-nos o que assusta com relação ao ser homossexual, ao ponto de gerar na Hierarquia Católica, todas as vezes, um distanciamento e distinção que parecem provir mais do exercício da lei do que do coração.

Como não pensar, enquanto se define a homossexualidade como "algo que é contra a natureza daquilo que Deus quis originariamente" ou "moralmente injusta", a quem ouve as nossas palavras, principalmente se quem as ouve é um jovem crente que vê sua existência marcada por uma letra escarlate que não deixa saída? Como não ter delicadeza e compaixão por esses sofrimentos?

Como definir "moralmente injusta" a vida e a orientação sexual de um ser vivo? E como não ler entre as palavras "a homossexualidade não é conciliável com o ministério sacerdotal, porque, senão, o celibato como renúncia também não tem nenhum sentido" uma demarcação clara entre condição homossexual e heterossexual, como se o celibato, no primeiro caso, não pode ser serenamente escolhido e realizado?

Como pessoas que querem se sentir em sua própria casa dentro da Igreja, povo de Deus a caminho, pedimos que se reflita sobre a profunda desorientação que inúmeras vezes é o único fruto dessas severas palavras de "separação".

Reforçamos a nossa convicção e esperança de que a Igreja possa exercer em plenitude o papel de mãe que acolhe todos com longos braços escancarados, dando a cada um a perspectiva de Amor, para que o próprio projeto de Vida possa se desenvolver plenamente.

Pedimos, além disso, que a condição homossexual seja tratada a partir da confrontação com as vidas e as pessoas reais, buscando compreender sem preconceitos e sem teses pré-constituídas, ao invés de utilizar categorias abstratas.

Para ler mais:

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=38694


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publicado por Riacho, em 21.11.10 às 11:28link do post | favorito

por ANA BELA FERREIRA

Igreja aplaude Papa por admitir preservativo

Bento XVI aceita preservativo para casos pontuais, como a prostituição

Pela primeira vez na história, um Papa admitiu o uso do preservativo. Bento XVI considera que "pode haver casos pontuais, justificados", como a prevenção da sida. As declarações do Chefe da Igreja Católica - a publicar num livro de entrevistas - foram ontem conhecidas e imediatamente correram mundo. Em Portugal, tanto os católicos como activistas da luta contra o VIH aplaudiram as suas palavras.

No livro Luz do Mundo, que será lançado na terça-feira em Itália, e em Portugal a 3 de Dezembro, Bento XVI diz que "pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização".

Mas faz questão de salientar que o uso deste método não é "uma solução verdadeira e moral", nem "a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção do VIH". Bento XVI defende, por isso, que a solução "tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade". Ou seja: a utilização do preservativo deve acontecer por questões de saúde, mas nunca de contracepção.

D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, está "muito feliz" com as declarações de Bento XVI. "O Papa é um homem inteligente e honesto que fez também a sua caminhada mental, aconselhando-se com pessoas e reflectindo."

O bispo - que já tinha defendido o uso do preservativo aquando da polémica gerada em torno das declarações do Papa na visita a África (ver fotolegenda) - admite que estas palavras "chegam atrasadas", mas diz que "em todo o tempo o que é verdade tem lugar".

D. Januário espera agora que Bento XVI venha dizer aos fiéis o que disse na entrevista publicada no livro do jornalista alemão Peter Seewald. O bispo não acredita que estas palavras mudem o comportamento das pessoas que combatem no terreno a propagação do vírus da sida, porque estas já recomendavam o uso do preservativo nestas situações.

Já o padre Carreira das Neves acredita que "pode levar a uma mudança de atitudes, já que a palavra do Papa é ouvida por muitos". Por isso, considera que este "é um avanço", "um passo em frente" da Igreja.

Houve quem preferisse o silêncio. Foi o caso do presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga. Tal como o porta-voz da CEP, Manuel Morujão, que ainda assim sublinhou que "não há voz mais autorizada que a do Papa".

Para quem luta contra a sida, como a presidente da Abraço, esta é "mais uma abertura". Margarida Martins lembra, contudo, que as pessoas que estão no terreno, mesmo de associações católicas, já assumiam esta postura. Os católicos como Maria João Sande Lemos, do movimento Nós Somos Igreja, estão satisfeitos. "Depois de a Igreja até ter dito que o preservativo ajudava a propagar a infecção, estas palavras são muito positivas."

Mas nem todos encaram a opinião do Papa com surpresa. D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa, citado pela Rádio Renascença, diz que esta "é uma questão moral, que há muito tempo está esclarecida. Talvez as pessoas estranhem por ela vir do Santo Padre". Esta é "a reflexão sobre um mal menor: não vamos matar outras pessoas quando alguém não tem consciência do que faz".

 

Fonte: http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1716490


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publicado por Riacho, em 21.11.10 às 00:51link do post | favorito

Pela primeira vez, um Papa, Bento XVI, admite que o uso de preservativos é aceitável, "em certos casos", "para reduzir o risco de contaminação" da sida. A revelação faz parte de um livro de entrevistas que será publicado na próxima terça-feira, na Alemanha.

 

 
foto AFP/Alberto Pizzoli
Bento XVI disse que preservativo é aceitável "em certos casos"
"A divulgação do preservativo conduz a uma banalização do sexo e é esse o perigo", diz Bento XVI
 

Segundo a France Presse, à pergunta "a Igreja Católica não é, fundamentalmente, contra o uso de preservativos?", Bento XVI respondeu: "Em alguns casos, quando a intenção é reduzir o risco de contaminação, ele ainda pode ser um primeiro passo para preparar o caminho para uma sexualidade mais humana, vivida de forma diferente".

O livro intitulado "Light of the World: The Pope, the Church and the Signs of the Times" (Luz do Mundo: O Papa, a Igreja e os Sinais do Tempo), é baseado em 20 horas de entrevistas conduzidas pelo jornalista alemão Peter Seewald, segundo a mesma agência de informação e aborda temas como a pedofilia, o celibato sacerdotal, a ordenação de mulheres e a relação com o Islão.

Na obra, para explicar o seu ponto de vista, Bento XVI citou um exemplo de um "homem prostituído". "Pode haver casos isolados, como quando um prostituto usa um preservativo, pois isso pode ser um primeiro passo na direcção de uma moralização, o início de uma   responsabilidade que permitirá renovar a consciência de que nem tudo é permitido e de que  não podemos fazer tudo o que queremos ", disse Bento XVI.

"Mas esse não é o caminho para se vencer o mal da infecção da sida. Isso só deve realmente acontecer na humanização da sexualidade", acrescenta.

"A divulgação do preservativo conduz a uma banalização do sexo e é esse o perigo, porque muitas pessoas vêem o sexo, não como uma expressão do seu amor, mas como um tipo de droga que consomem", afirmou ainda Bento XVI.

Até agora, o Vaticano, opôs-se a qualquer forma de contracepção que não seja a da abstinência e desaprovou o uso do preservativo, mesmo para evitar a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis.

Recorde-se que, em Março de 2009, o Papa Bento XVI levantou uma enorme polémica, quando, no avião que o levou dos Camarões para Angola, afirmou que o uso "exagerado" do preservativo agravaria o problema da pandemia da da sida.

 

Fonte: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1716083


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publicado por Riacho, em 18.11.10 às 21:55link do post | favorito

O arcebispo de Santiago, Francisco Javier Errázuriz, manifestou-se “perplexo” porque a Corte de Apelações de Santiago acolheu recurso de proteção interposto pelo ativista homossexual, Víctor Hugo Robles, conhecido como o “Che dos Gays”, que solicitou sua exclusão dos registros da igreja porque não se sente representado pela fé católica.

 

“Abandono a Igreja Católica já que ela condena o amor, o afeto e as práticas sexuais que eu assumo e valorizo. Faço-o porque sinto que ela se converteu numa instituição castigadora, abusiva e desprestigiada em seu exercício ético, particularmente, no relativo a certos abusos protagonizados por autoridades eclesiais”, alegou Robles na ação encaminhada no dia 28 de outubro.

A notícia é da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 17-11-2010.
 
No relatório que o Tribunal de Alçada lhe pediu, o líder máximo da Igreja Católica chilena aproveitou a oportunidade para assinalar “perplexidades” na condução da ação legal. Ele apontou que o Poder Judicial não pode ter ingerência em matéria própria da igreja, porque “goza de reconhecida autonomia” e por tratar-se de uma organização interna da instituição.

Na ação encaminhada à Justiça Robles argumentou que “existiu omissão arbitrária e ilegal de parte do arcebispo de Santiago que me privou e perturbou no livre exercício de meu direito à liberdade de consciência, da manifestação de todas as crenças e do exercício livre de todos os cultos”, garantidos na Constituição.

Diante da resposta do arcebispo, Robles propôs um amplo debate sobre as contradições da Igreja Católica, “que defende autonomia, mas intervém em decisões políticas, legislativas e jurídicas relativas a matérias educacionais,  sexuais e reprodutivas, exercendo pressões sobre o Estado”.

 

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=38466


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publicado por Riacho, em 14.11.10 às 23:32link do post | favorito

O texto é de Raquel Moleiro do jornal Expresso e foi publicado neste semanário em 23-10-2010.

 

Júlio matou-se há dois meses após ser condenado por abuso sexual do sobrinho. Conversa de Messenger levanta dúvidas sobre veracidade da acusação. MP de Morgado tentou salvá-lo.

 

Júlio preparou minuciosamente a despedida durante ano e meio. Doou o recheio da sua casa em Algés a uma instituição de caridade, entregou o andar alugado, passou os negócios, para o melhor amigo, deu o carro a outro, aviou na farmácia uma receita de três caixas de Valium, comprou um bilhete só de ida para os EUA e escreveu um livro. Na obra, intitulada “Sem culpa”, relata a vida de David, um homem de 38 anos, engenheiro informático, homossexual, filho de uma família desestruturada do Cacém (Sintra), condenado em 2008 — pelo abuso sexual do sobrinho de três anos — a seis anos de prisão e ao pagamento de uma indemnização de 25 mil euros. No livro, o personagem de David é inocente, mas a Justiça afirma-lhe a culpa, da primeira instância até ao Tribunal da Relação. E, no fim, extintos os recursos, o acusado opta pelo suicídio.

 

O livro é uma autobiografia. Na vida real, David chamava-se Júlio Olivares. Matou-se com uma overdose de comprimidos no dia 1 de agosto, há cerca de três meses, no quarto de um hotel manhoso em São Francisco. De herança deixou ‘a sua verdade’ sobre o processo 1527/05.3TASNT, disponível na Internet (em semculpa.com.pt). À narrativa só falta o que se passou após a sua morte: Sílvio*, o sobrinho, agora com 14 anos, terá assumido numa conversa de Messenger (site de conversação em tempo real) que mentiu (ver texto ao lado). A confissão foi feita ao pai Miguel*, irmão de Júlio. “Menti pk meus tios precisavam do €e pk vocês me abandonaram”. Entregue à guarda dos tios maternos, após uma infância marcada pela toxicodependência da mãe e por sucessivas ausências laborais do pai (que acabou por perder a custódia e qualquer ligação ao filho), afirma que contou à Justiça o que “a tia mandou dizer”, que não sabia “k dava cana”, e falou dos “25 mil euros k tanto kustaram a  conseguir”. Miguel, 37 anos, gravou a conversa e com ela espera provar a  inocência do irmão. “Só isso importa. Por eu ter sido mau pai, o meu filho é agora um miúdo revoltado. Isto é uma vingança contra mim... Imagina a culpa que sinto?”, desabafa. Maria da Glória Canada, a advogada que defendeu Júlio, também continua no caso. Tornou-o uma causa pessoal. “Garanto-lhe que vamos até onde for possível. Estamos a preparar um recurso extraordinário, com base em novas provas, e outro processo contra quem gerou esta mentira”. Contactados pelo Expresso, os tios de Sílvio desmentem a conversa de Messenger. “Ele nunca pode ter dito isso. O processo já corria quando (o miúdo) veio morar connosco. Como poderíamos ter inventado tal coisa?”, explica Natália*. A tia diz ter a reprodução do diálogo e assegura que “ele nunca escreveu  que mentiu sobre os abusos”. Está, aliás, convicta de que Sílvio disse a verdade na Justiça: “Sempre que foi depor, e depois quando recebemos cartas do Júlio, jurou-me que não era invenção. E eu acredito nele”.

 

Juiz avisado do suicídio

O juiz Paulo Silva, que presidiu ao coletivo do Tribunal de Sintra, também acreditou. Como na maioria dos crimes sexuais, em que as testemunhas oculares se resumem ao abusador e ao abusado, as declarações do menino foram decisivas. “O menor depôs de forma sentida, sincera, clara e absolutamente coerente”, lê-se na sentença. Quanto ao arguido, “a negação dos factos não convenceu de forma nenhuma”. Mas Júlio quis ter a última palavra e na nota de suicídio, deixada junto ao corpo, colocou o juiz Paulo Silva como uma das quatro pessoas a avisar da sua morte. Na mesma folha A4, escrita em inglês, à mão com letra de máquina, havia mais três nomes: o namorado americano, o melhor amigo português e Maria José Morgado. Um ano antes do suicídio, Júlio começou a corresponder-se com o gabinete da procuradora — a Unidade Especial de Investigação da PGR. “Centenas de pessoas escrevem à dra. Maria José, porque têm dela a imagem da mulher que tudo consegue”, explica a procuradora Glória Alves, que juntamente com o inspetor da PJ Manuel Carvalho ficou com o dossiê Olivares. A diretora do DIAP não chegou a conhecer o caso — coincidiu com a doença e morte do marido, Saldanha Sanches. Havia pouco que fazer neste caso: o processo correra todos os trâmites do sistema judicial. Júlio foi informado dos procedimentos jurídicos para a revisão da sentença, mas passada essa ‘fase oficial’ não o largaram. As ameaças de suicídio eram demasiado credíveis. As conversas tornaram-se então mais pessoais, tendenciosas, para lhe incutir esperança. Já não eram o inspetor e a procuradora, eram o Manuel e a Glória a tentar prendê-lo à vida. Júlio já tinha tentado o suicídio aos 14 anos. O pai, alcoólico, batia-lhe. Aos 18 anos sai de casa, vai trabalhar em contabilidade mas logo cria uma empresa e volta a estudar, até à licenciatura em engenharia informática. Lança vários sites de compras e fóruns (ligados à comunidade gay), tornando-se um webmaster econhecido. Em maio de 2006, é a PJ que o informa da acusação do sobrinho, que já não vê há anos. Alguns desacertos tinham-no afastado do irmão e, consequentemente, de Sílvio. A inspetora pergunta-lhe se é homossexual. Ele confirma. Sai de lá com Termo de Identidade e Residência. Júlio é condenado em Outubro de 2008, e recorre. Escolhe esperar o resultado nos EUA, em São Francisco, onde viverá longos meses com curtos regressos a casa. Decidido que estava a suicidar-se caso a pena se mantivesse, não queria morrer em Portugal. Escreveu então a todos os intervenientes do processo e ao Presidente da Republica, primeiro-ministro, presidente do Supremo Tribunal, diretor da PJ, PGR, por mail, carta ou posts no seu blogue de acesso restrito — “já que a única coisa que me preocupa nestes dias é deixar palavras por dizer”.

 

Escrever e morrer nos EUA

A 6 de outubro de 2009, a Relação de Lisboa dá como improcedente o recurso. Nesse mesmo dia, Júlio senta-se na ‘sua’ mesa do Starbucks, na Castro Street com a 18th, e começa a escrever o livro, 123 páginas non stop. A obra, que se queria póstuma, foi publicada antes da morte. Júlio admitiu no blogue que ainda tinha esperança. “Vivo os meus últimos dias num vazio, desolado com a justiça que não chegou. Embora não tenha sido esse o propósito, pensei que o livro apoquentasse consciências”. Foi por essa altura que Miguel, o irmão, encontrou Júlio na Internet. Não sabia dele desde o julgamento. “Durante um mês tentei tudo para que não se matasse”. Foi à PGR duas vezes mas não o receberam. À terceira disse que tinha uma bomba, foi detido, pôde falar, mas não conseguiu nada. No Ministério da Justiça ficou pela portaria. Tentou falar com Sílvio na escola e foi travado. Em São Francisco, o informático entrara numa depressão profunda. Por quatro vezes falhara o suicídio com Valium. “Dei por mim, dias a fio, a correr farmácias para ver os componentes dos medicamentos de venda livre. Na Net, estudava a quantidade para uma overdose mortal. Fui várias vezes à ponte e nunca consegui saltar. Depois vi uma notícia sobre uns fulanos que tinham engolido cocaína para a esconder, e que morreram. Arranjei 7 gramas, comprei comprimidos em cápsulas, abri as cápsulas, tirei o produto, enchi com a cocaína e tomei-as. Em vez de morrer, acordei quase sem respirar”.

 

Por pouco, Miguel convencia Júlio a regressar.

A 20 de julho, o engenheiro informático escrevia: “O meu desgaste mental é total e decidi entregar-me. Estou à espera de um autocarro para San José onde vou apanhar um voo para New York e de lá voo para Lisboa ou Madrid. Reservo-me o direito de mudar de ideias, já que o meu real desejo é morrer em vez de ir preso”. Júlio nunca comprou o bilhete. Morreu no dia 1 de agosto, no quarto 146 do hotel El Capitan, numa zona degradada de São Francisco. O gerente encontrou-o três dias depois, quando o odor já indiciava o pior. Tinha um saco na cabeça e muitos Valium no organismo, que o impediram de sentir a asfixia. No bilhete de suicídio escreveu: “A minha morte foi uma escolha minha, motivada pelas razões explanadas no meu livro. Prefiro morrer livre no vosso país a viver no meu, Portugal. O meu último desejo é ser enterrado nos EUA. Por favor, make it happen”. O funeral ainda não se realizou.

rmoleiro@expresso.impresa.pt

 

* Nomes fictícios (mantiveram-se as identidades criadas por Júlio no livro)

A TIA DO MENOR DIZ QUE “ELE NUNCA ESCREVEU QUE MENTIU SOBRE OS ABUSOS”

Deixou um livro autobiográfico, intitulado “Sem culpa”

 


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publicado por Riacho, em 13.11.10 às 21:09link do post | favorito

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