ESPAÇO DE ENCONTRO E REFLEXÃO ENTRE CRISTÃOS HOMOSSEXUAIS em blog desde 03-06-2007
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publicado por Riacho, em 28.10.09 às 20:50link do post | favorito

Olá

 

O papa vem relembrar uma coisa muito importante: que a bíblia se deve entender como um todo tendo especial atenção aos géneros literários, ao estudo do contexto histórico e ao contexto vital. Talvez a esta luz os teólogos do Vaticano refaçam uma leitura das relações estáveis entre pessoas do mesmo sexo que em lado nenhum são condenadas pela bíblia.

 

A notícia é da Lusa e publicada pela SIC.

 

"O Sumo Pontífice, que se dirigia a professores, alunos e funcionários do Pontifício Instituto Bíblico, por ocasião do centésimo aniversário da sua fundação, referiu que nestes últimos cem anos aumentou o interesse pela Bíblia. 

Graças ao Concílio Vaticano II e à Constituição Dogmática Dei Verbum, em cuja elaboração participou, a importância da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja tem sido mais compreendida, disse. 

A Dei Verbum, acrescentou, veio sublinhar a legitimidade e a necessidade do método histórico-crítico na análise da Bíblia, reconhecendo três eixos essenciais: "a atenção aos géneros literários, o estudo do contexto histórico e o exame do que habitualmente se designa por Sitz im Leben (contexto vital)".

As declarações de Bento XVI surgem uma semana depois da controvérsia em Portugal em torno de declarações do escritor José Saramago, a propósito do lançamento do seu mais recente livro "Caim", nas quais o Nobel da Literatura português classificou a Bíblia como um "manual de maus costumes". 

Nas várias reacções a estas declarações foi sublinhado que Saramago fez uma leitura literal de parte do Antigo Testamento, esquecendo que a Bíblia é formada por dezenas de livros. 

Lusa


Fonte: http://sic.sapo.pt/online/noticias/vida/Papa+diz+que+Biblia+deve+ser+entendida+como+um+todo.htm


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publicado por Riacho, em 26.10.09 às 21:41link do post | favorito

 

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publicado por Riacho, em 25.10.09 às 11:38link do post | favorito

Olá

 

Enquanto na Suécia a Igreja Luterana vai passar a realizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo, em Portugal um grupo auto-intitulado de socialistas católicos prepara-se para defender um referendo sobre o tema e diz que o tema não é prioritário porque prioritário é a pobreza e o combate à crise. Estes senhores instalados na sua opulência devem esquecer-se que alguns homossexuais, no contexto económico actual vêem a sua situação agravada, por não poderem casar e assistir os seus na doença, por exemplo. Eles agoram já não se agarram aos argumentos teológicos porque simplesmente não existem, como nos demonstra tão corajosamente a Igreja Luterana sueca. O argumento agora é o das prioridades. Como nos diz o Evangelho deste domingo com o episódio do cego Bartimeu, a pior cegueira não é a da vista mas a do coração. 

 

 

Público - 25/10/2009
Casamento entre homossexuais abre polémica no PS LUCY NICHOLSON/reuters
 
Por Filomena Fontes

Cláudio Anaia, porta-voz do grupo, diz que o PS de Sócrates anda a reboque do BE e "ideologicamente baralhado"

A pobreza e o combate à crise devem estar no topo da agenda do Governo do PS e não o casamento entre homossexuais. É com base neste premissa que um grupo de católicos, que militam no PS, se estão a mobilizar para uma verdadeira campanha contra a legalização dos casamentosgay, uma das promessas eleitorais que José Sócrates, já depois das eleições, reiterou publicamente que fará avançar nesta legislatura.

Para já, deverá ser criado, esta semana, umsite na Internet, em articulação com outras organizações partidárias e movimentos de cidadãos, para funcionar como um fórum de debate sobre o tema. Mas que poderá constituir-se como uma plataforma de angariação de contactos para o objectivo que estes socialistas católicos têm na forja: a recolha de 75 mil assinaturas com vista à realização de um referendo.

"Defendemos que a realização de um referendo é essencial por uma questão de justiça, porque estamos convencidos que a Assembleia da República corre o risco de aprovar uma lei com a qual a maioria dos portugueses não concorda", explica o porta-voz do grupo de socialistas católicos, acrescentando que aguardam apenas "por sinais concretos" dos partidos com representação parlamentar quanto ao sentido de voto para desencadear o processo de recolha de assinaturas. Em dúvida, diz, está a posição que o PCP poderá eventualmente adoptar e que, em conjugação com votos do PSD e do CDS-PP, poderá travar o diploma no Parlamento. "O PS está a ir a reboque do BE, está ideologicamente baralhado. Ser de esquerda é trabalhar contra a fome e a pobreza, é combater a crise", argumenta.

Consciente de que a proposta de legalização dos casamentogay constava do programa eleitoral do PS - foi sufragado pela maioria dos portugueses nas legislativas de Outubro -, Cláudio Anaia sustenta que a questão divide os socialistas e que o voto de grande parte dos eleitores não é determinado pela concordância com os programas dos partidos, "que, muitas das vezes, ninguém lê". "Há muita gente que se opõe à legalização do casamento entre homossexuais, mas o mais importante é que os que o defendem estão a mentir quando dizem que será vedada a adopção de crianças. Hoje em dia basta o casamento ser reconhecido por lei para haver direito à adopção", adverte este dirigente socialista e membro honorário da JS, que jura nada ter a opor ao regime de uniões de facto entre pessoas do mesmo sexo. "Coisa diferente é o casamento", insiste. Dito isto, Anaia conclui que não se trata de "uma causa fracturante, mas aberrante".

A ofensiva deste sector católico dos socialistas não é inédita (já se tinham destacado no combate à legalização da interrupção voluntária da gravidez), mas torna-se pública num momento em que a Igreja se prepara, também, para tomar uma posição sobre o assunto. Ontem, oDiário de Notícias avançava que o tema poderá ser discutido pelos bispos portugueses, na reunião que decorrerá entre os dias 9 e 12 de Novembro em Fátima. Isso mesmo foi admitido pelo porta-voz da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa), Manuel Morujão. Ressalvando embora que a questão não está agendada, foi dizendo que o tema poderá ser discutido "no contexto da realidade social em que vivemos".

Ao PÚBLICO, Claúdio Anaia afasta qualquer concertação de esforços com a hierarquia católica, ainda que deixe claro que "a Igreja deve tomar posição". Algo que já aconteceu e que motivou o desencontro público com dirigentes do PS quando, em Fevereiro deste ano, em vésperas do congresso socialista, o porta-voz da CEP advertia os católicos para a proposta de casamento entre homossexuais contida na moção de José Sócrates.

 

Fonte: http://jornal.publico.clix.pt/noticia/25-10-2009/socialistas-catolicos-mobilizamse-contra-casamentos-gay-e-querem-referendo-18084500.htm

 


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publicado por Riacho, em 22.10.09 às 23:32link do post | favorito

 

Olá


Haja alguém sério a dar o exemplo...

 

"A Igreja Luterana sueca decidiu que vai realizar casamentos gay no país a partir do próximo mês. “Somos a primeira grande igreja a fazê-lo”, disse Kristina Grenholm, a directora de teologia da igreja do país nórdico.

 

Responsáveis da igreja luterana comentaram a lei, que entrará em vigor em Novembro

 

A decisão segue-se à aprovação do casamento gay pelo Parlamento da Suécia, alterando uma lei anterior que permitia as uniões de facto, mas não o casamento formal.

 

 

“Da minha parte, foi tomada a decisão correcta, mas compreendo os muitos que acreditam que isto aconteceu demasiado depressa”, disse numa conferência de imprensa o arcebispo da Suécia, Anders Wejryd.

 

Num comunicado, a igreja anunciou que vai começar a casar pessoas do mesmo sexo a partir de dia 1 de Novembro.

 

A Igreja Luterana sueca, que se separou do Estado em 2000, mas continua a ser a maior comunidade religiosa do país, tinha dito anteriormente que estava aberta a registar as uniões entre homossexuais mas queria reservar o termo casamento para as uniões heterossexuais.

 

A nova legislação do país, que entrou em vigor no dia 1 de Maio, elimina a distinção legal entre casais homossexuais e heterossexuais, mas não obriga o clero a casar gays. Da mesma forma, esta decisão da igreja não obriga cada padre a realizar as uniões. As igrejas locais têm de assegurar a realização dos casamentos, mesmo que tenham de chamar padres de outras zonas.

 

Alguns responsáveis da igreja opuseram-se a esta abertura, afirmando que contraria as Escrituras. Metade dos casais suecos casaram pela igreja, mas a participação média nas missas é baixa."

 

Fonte: http://www.publico.clix.pt/Mundo/igreja-sueca-vai-casar-homossexuais_1406414

 

 


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publicado por Riacho, em 22.10.09 às 01:08link do post | favorito

Olá

 

A notícia já tem uns meses mas não deixa de ser chocante ver a contradição entre a moral sexual católica e a mensagem bíblica. É chocante, a falta de respeito pela dignidade humana, de certas posições do Vaticano. Vem Espírito de sabedoria e traz discernimento aos senhores do poder Vaticano.

 

Ampliar FotoFoto: Divulgação

 

Justiça italiana decidiu que fazer sexo com preservativo é motivo para anular o casamento. (Foto: Divulgação)

 

A Justiça da Itália decidiu que fazer sexo com preservativo (camisinha) pode ser utilizado como motivo para anular o casamento, de acordo com reportagem do jornal italiano "Il Messaggero".

 

A Suprema Corte de Justiça do país ratificou uma decisão do Vaticano, que, em 2005, anulou o casamento de um casal identificado como Fabio N. e Elizabeth T., porque eles fizeram sexo seguro.

 

A Suprema Corte negou provimento ao recurso de Elizabeth, que contestava a anulação de seu casamento com Fabio.

 

Segundo a mulher, eles tinham feito sexo protegido para evitar que o marido, que sofre da "Síndrome de Reiter", transmitisse a doença para um futuro filho.

 

Mas, para a Igreja, as práticas que excluem a procriação podem invalidar o casamento religioso.

 

Mas, para Elizabeth, esse ponto de vista "contrasta com a proteção da saúde tanto da mulher quanto da criança".

 

Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/PlanetaBizarro/0,,MUL965793-6091,00-ITALIA+DECIDE+QUE+SEXO+COM+CAMISINHA+E+MOTIVO+PARA+ANULAR+O+CASAMENTO.html

 

 


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publicado por Riacho, em 15.10.09 às 23:34link do post | favorito

Aqui fica uma sugestão de cinema para o fim de semana.

 

"Um drama inspirado na história verídica de Ruth Bryden (ou Joaquim Centúrio de Almeida), um famoso travesti das noites de Lisboa, e do seu companheiro Paulo Oliveira, que viveram como mulher e marido durante nove anos e foram enterrados juntos como dois homens em 1999.
No filme, Tónia (Fernando Santos) é uma transformista que se sente a envelhecer e cuja vida está a perder o "glamour". Pressionada por Rosário (Alexander David), o seu namorado mais jovem, a optar pela cirurgia de mudança de sexo, Tonia percebe que, independentemente da decisão tomada, nunca poderá ser totalmente verdadeira consigo mesma. Em grande conflito interior, Tonia e Rosário fazem uma viagem mística que lhes marcará um encontro com Maria Bakker (Gonçalo Ferreira De Almeida). Esse encontro vai ser uma viragem completa nas suas vidas. 
Um retrato trágico do quotidiano de um travesti, devastado entre viver como uma mulher ou morrer como um homem..."

 

Fonte: http://cinecartaz.publico.clix.pt/filme.asp?id=242046

 

 


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publicado por Riacho, em 13.10.09 às 19:56link do post | favorito

Olá

 

Para quem ainda tem dúvidas de que a Igreja Católica é um espaço plural e que nem toda a gente segue cegamente a doutrina da Igreja aqui está um prova, publicada na unisinos, de que isso não é verdade.

 

Abraço

 

"Tudo começou como uma daquelas piadas sem graça que só fazem rir aqueles que as contaram. E continua um ano depois, nas praças de Paris e na província francesa, onde os fiéis católicos participaram de uma marcha, no sábado, dia 10, e no domingo, dia 11 de outubro, para testemunhar o seu desconforto diante das orientações atuais da Igreja.

A reportagem é de Stéphanie Le Bars, publicada no jornal francês Le Monde, 11-10-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Voltemos aos últimos meses em que vimos católicos que, "de dentro" da Igreja, manifestaram sinais de irritação e contestação. Em novembro de 2008, o cardeal André Vingt-Trois, presidente da Conferência Episcopal da França e arcebispo de Paris, questionado sobre o lugar das mulheres na Igreja, respondeu nestes termos: "O importante não é ter uma saia, mas sim ter alguma coisa na cabeça".

Foi demais para Anne Soupa e Christine Pedotti, duas católicas "centristas", comprometidas com a Igreja há muito tempo. Decididas a "não deixar uma coisa dessas passar", mas profundamente alimentadas pela cultura católica, apresentaram denúncias diante... do tribunal eclesiástico, em nome da associação criada para a ocasião, o "Comité de la jupe" [Comitê da saia].

O processo não teve sequência, pois o arcebispo esclareceu as suas afirmações. Mas causou muitíssimas reações, que se inseriram na confusão manifestada pelos católicos franceses no começo de 2009. Foram profundamente desorientados pela decisão doPapa Bento XVI de estender a mão aos integralistas e pela excomunhão, decidida por um bispo brasileiro, dos médicos que haviam praticado um aborto em uma menina violentada.

Com os seus 500 simpatizantes, o "Comité de la jupe" tem a ambição de representar aqueles que não querem "nem ir embora, nem calar", com o objetivo de impedir o "cisma silencioso" que percorre a Igreja. "Não somos militantes feministas", defendem-se as suas intelectuais, uma de 52 e a outra de 62 anos. "Mas é verdade que o lugar das mulheres na Igreja é emblemático de muitos problemas atuais: a falta de representatividade dos leigos, a discriminação com relação a certos grupos, a impossibilidade de fazer ouvir a própria voz"

Em nome desses "sem voz", Anne Soupa e Christine Pedotti não hesitam em falar muito claramente. "A palavra está aprisionada. Os fiéis não ousam falar por medo de serem acusados de 'atirar contra uma ambulância'. Os religiosos são obrigados a utilizar uma linguagem dupla, e os leigos que fazem a Igreja ir adiante são considerados suplementos...". Falando sobre uma objeção recorrente em certas paróquias, elas também contestam a mudança "clerical" da instituição, em que os padres têm a supremacia. "Para enfrentar a crise de vocações, a Igreja considera que é preciso dar aos padres novamente uma posição de autoridade, fazer do presbiterado um trabalho gratificante, pronta a marginalizar os leigos comprometidos, que de fato são principalmente mulheres".

Nesse contexto, elas defendem "naturalmente" o acesso ao presbiterado para os homens casados e para as mulheres, mesmo reconhecendo que "o problema não está maduro". "Vemos que, na sua obsessão de 'pureza', certos padres proíbem totalmente que as meninas sejam coroinhas como os meninos...", enraivece Christine Pedotti.

"O risco atual é de que a Igreja não seja mais católica, isto é, aberta e universal, mas que pareça fechada ao sofrimento humano, moralizante, marcada pelo conservadorismo", avalia Anne Soupa, que estudou teologia durante sete anos. O pontificado de Bento XVI se inscreve nessa evolução "reacionária", que "corre o risco de transformar a Igreja em uma seita, em um agrupamento de clones", é a análise das duas mulheres. "Com João Paulo II, também existia essa tendência, mas estava escondida pelo seu carisma".

"Comité de la jupe" apresenta "problemas verdadeiros", reconhece um bispo, que destaca que a próxima assembleia dos bispos, em novembro, deve iniciar "justamente" uma reflexão sobre a "missão dos leigos na Igreja". Mas, globalmente, a instituição não gosta de uma crítica interna que quer ser mais reformadora do que revolucionária.

Dentro do clero, ainda há vozes individuais que compartilham desse diagnóstico. No livro recém publicado "J'aimerais vous dire" (Ed. Bayard, 2009), uma das grandes figuras do episcopado francês, o arcebispo de PoitiersAlbert Rouet, reconhece: "Não se pode fazer dos cristãos menores de idade irresponsáveis da Igreja. Penso profundamente que o modo de viver da Igreja não está adaptado ao mundo em que vivemos". E convida a instituição a "repensar o seu modo de ser".

Isso serve de estímulo para o "Comité de la jupe", que, independentemente do sucesso ou não das "marchas católico-cidadãs", espera contribuir com o despertar de uma opinião pública na Igreja."

Para ler mais:

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=26518

 


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publicado por Riacho, em 12.10.09 às 22:01link do post | favorito

 

Álvaro Pombo: “A homossexualidade precisa de inventar uma linguagem amorosa”

07.10.2009 - Rui Lagartinho
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É o avô "cool" que o mundo das artes espanhol adoptou. Romancista, poeta, é um homossexual que atravessou décadas de repressão franquista. Onde forjou um caminho para a sua sexualidade que nasceu clandestina. Sente-se perplexo com tanta manifestação do orgulho gay. O romance "Contra- natura" dá voz à sua perplexidade

 

Ainda esta semana, a campanha de auto promoção da revista semanal do diário espanhol "El País" incluía na plêiade de gente das artes que garante não poder viver sem aquele magazine, o escritor Álvaro Pombo. Uma estrela quase pop ao lado de Alessandro Sanz, de realizadores de cinema como Alex de La Iglesia ou de actrizes como Maribel Verdú. É o avô "cool" que o mundo das artes adoptou. Com 70 anos, o romancista, poeta, académico, homossexual há muito assumido, sabe que a sua opinião pesa na sociedade. E aprendeu a retirar vantagens de ver tantas vezes a sua cara impressa seja em papel "couché" ou noutro. Há quatro anos expôs o corpo ao crivo das balas com o romance "Contra - Natura". Foi duramente criticado pelos colectivos Gay e pela igreja. Lido de forma superficial.

"Contra - Natura", o primeiro livro da Minotauro, a nova chancela das Edições 70 aposta forte na divulgação da literatura de autores espanhóis contemporâneos, é um romance rude e sofisticado, misturado à mão. Nele, dois septuagenários, Javier Salazar e Paco Allende, que andaram no mesmo seminário, plasmam dois caminhos possíveis de viver a homossexualidade sobretudo na forma como convivem, engatam e pensam o amor com os mais jovens. Um pragmático e um romântico, os dois são porta vozes das perplexidades de enfrentar a sua condição num tempo de armários escancarados para a comunidade homossexual espanhola.

Conversa com um homem sincero.

"Contra - Natura" é um manifesto?

O livro é muitas coisas ao mesmo tempo, mas é muito grande para ser um manifesto [o romance tem 573 páginas]. É antes de mais uma tomada de posição sobre a homossexualidade, sobre a forma como eu, homossexual assumido, me posiciono na sociedade actual sobre as questões políticas e estéticas que nos dizem respeito. Tudo isto sem deixar de ser um romance.

Inventei duas personagens, um protagonista e um antagonista, ambas da minha idade, que são, simplificando, o bom e o mau homossexual. É que dentro da forma de viver a homossexualidade há comportamentos indignos e perversos que nunca podem conduzir à felicidade. Com isso criam-se estigmas sobre os homossexuais que depois são muito difíceis de vencer.

Ao longo da sua vida, foi mais vezes Salazar ou Allende?

É uma pergunta armadilhada mas pertinente. Acho que me identifico mais com Allende, o bom da história, embora consiga entender e compreender o comportamento do Salazar. Apesar de tudo fui eu que o inventei.

É um livro sobre as perplexidades da sua geração de homossexuais?

Sim. Publicamente, saí do armário desde que comecei a publicar, nos anos 70. Nuca iludi a minha condição e os meus livros sempre a espelharam não iludindo os problemas desta vivência. Hoje, porém, vivemos um período de muito facilitismo. O armário hoje é ridículo. Atravessamos um momento tonto e fútil. Pior: nalguns casos o orgulho da afirmação faz-se pela agressividade e pela vitimização artificial de cada homossexual.

A comunidade homossexual entendeu estas suas perplexidades?

Receberam o livro com muitas reservas. Está-se a viver um momento muito esquerdista militante, muito barulhento e a reflexão que proponho acham-na desmobilizadora. Não se pode fazer uma apologia absoluta da homossexualidade, nem de quase nada na vida. Mas quem me leu com atenção e com esforço sério percebe que sou claro e coerente em muitas questões, nomeadamente na crítica à educação religiosa que condicionou o desenvolvimento sexual saudável de muitas gerações.

O título do livro, "Contra - Natura", não é uma provocação?

Talvez. Mas cumpre duas ordens de razão: remete para a realidade histórica que vivi. Quando dois homossexuais eram apanhados nas esquinas de qualquer noite clandestina e eram identificados pela polícia, "contra-natura" era a expressão que aparecia estampada nos autos para caracterizar o tipo de práticas a que se dedicava quem era apanhado em flagrante. Ao mesmo tempo este título dá ao romance um ar rebelde, selvagem, provocador.

"Tornariam a fazer aquilo agora? O mais jovem pôs-se a quatro patas bruscamente, e o mais velho tirou-lhe o fato-macaco e lambeu-lhe a racha do cu e masturbou-se um momento e enfiou-lhe a picha no cu e os dois ofegavam: a cena pareceu belíssima a Salazar". Ao utilizar uma linguagem tão explícita nas cenas de sexo entre as personagens, não foi o próprio autor quem desviou as atenções sobre o resto?

A linguagem crua e dura foi opção deliberada. Sabia que corria riscos de ser criticado ao misturar dois tipos de linguagem, a crua e a culta, e que uma escondesse a outra. Procurei traduzir um problema: actualmente a homossexualidade precisa de inventar uma linguagem amorosa. Parte dela, que utilizei neste livro, é crua, cruel, muito pouco subtil. E por isso proponho encadeadas outras reflexões sobre a construção da natureza do homem, e da existência.

Mas acha que um jovem homossexual espanhol não pode ser feliz no amor se não perceber estas dicotomias entre Natureza e História que propõe Ortega y Gasset, ou as armadilhas do pensamento existencialista?

Entendamo-nos: a homossexualidade é um assunto de minorias. Somos uma anomalia estatística e não há forma de dar a volta a esta realidade. E é uma minoria com problemas específicos. Se entendermos a felicidade como uma sucessão de casos sustentados em amores líquidos, em trocas de fluxos, talvez seja possível. Mas há um dia em que queremos mais. Escrevo romances para serem lidos por toda a gente, mas espero que alguns percebam que faz parte do código genético dos meus livros a reflexão sobre problemas muito sérios com que um homossexual se confrontará mais cedo ou mais tarde.

Mas reconhece que a homossexualidade hoje pode ser vivida de forma mais livre? Ou não?

Obviamente. A sociedade é mais aberta e a discussão muito mais fácil.

Há no seu livro uma nostalgia em relação à vivência canalha, despudorada da homossexualidade vivida na clandestinidade?

Não. Mas a verdade é que a prática homossexual se contradiz por natureza numa vivência que se procura normalizável. É por isso que sempre será difícil para mim acreditar na tradução jurídica do casamento como motivo de felicidade imediata. Se calhar bastava contarmos o número de divórcios que existem no casamento heterossexual para pensarmos duas vezes. Acrescente-se ainda o facto de que quando dois homossexuais decidem viver juntos o que prevalece ao longo do tempo é um projecto de companheirismo mútuo e onde as questões eróticas, sexuais muitas vezes não conseguem ser formatadas e a fidelidade assegurada. Neste sentido o casamento homossexual pode ser algo contra-natura.

Álvaro Pombo: homossexual, cristão, homem de direita. A terceira característica em relação a si não é um rótulo apressado e abusivo?

Claro. Eu sou um homem de esquerda, crente e que sempre votei à esquerda. O problema é que em Espanha actualmente tudo tem que ter rótulos, etiquetas e estar arrumado em certezas e dogmas. Esquecem-se que sempre fui um defensor dos direitos cívicos da minoria a que pertenço. Mas não embarco em folclores.

O folclore da modernidade não corre o risco de esconder o problema da homofobia, problema ainda grave em muitas sociedades?

Claro. E esse é um problema de que se fala pouco. Os homossexuais não estão só no mundo das artes para poderem ser legitimados pela sociedade. Toda a legião de anónimos que se esconde nas várias classes burguesas, que é funcionário público, operário, por paradoxal que pareça, tem a vida mais complicada. Está intimidado com todas estas formas ruidosas de afirmação. E continua exposto a comportamentos homofóbicos de muitas comunidades.

Depois dos equívocos em torno de "Contra - Natura", passou a acreditar menos no poder dos romances?

Não. O que acho é que é cada vez mais difícil que um romance de estrutura clássica, amplo, que levanta problemas de reflexão através da narração e que deixa a solução em aberto seja um objecto popular. A geração que está agora nos quarenta é a última que me lê com atenção.

A partir daí sou mais conhecido pela minha intervenção cívica, pela minha passagem nos meios de comunicação. Mas acredito na narratividade das consciências e na urgência dessa partilha. Por isso continuo.

Mesmo correndo o risco de "Contra - Natura" ser apenas folheado por uma curiosidade sórdida e o livro ser abandonado a meio?

Sim. Sei que muita gente se limitou a ler as descrições das chupadelas. Estou curioso para ver como será recebido o meu livro em Portugal. Espero que me contem.

Fonte: http://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=242368


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publicado por Riacho, em 11.10.09 às 10:32link do post | favorito

Olá

 

A AMPLOS fez ontem a sua apresentação publica. O endereço do blog está na nossa lista de links. Segue a notícia sobre o acontecimento publicada na edição de hoje do Público.

 

"Apoiar jovens homossexuais que tenham dificuldade na sua relação com os pais, é um dos principais objectivos de uma nova associação que foi apresentada, hoje, na Livraria “Ler Devagar”, em Lisboa. Chama-se AMPLOS (Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual) e foi criada por um grupo de pais que se propõem combater todas as “formas de discriminação relacionadas com a orientação sexual”.

No seu site, na internet (amplos.bo@gmail.com), explicam que se dispõem a lutar para que “os homossexuais sejam aceites, possam assumir abertamente a sua identidade, exprimir os seus afectos, casar, ter igualdade de tratamento jurídico; em suma serem pessoas de pleno direito, serem cidadãos de plena cidadania”.

E referem o momento intenso e, na “maioria das vezes sofrido”, da aceitação, pelos pais, da orientação homossexual dos filhos. “Sabemos que muitos pais reagem de forma brutal a essa situação pelas expectativas que criaram em relação aos filhos, pelos preconceitos que circulam, e abundam, na sociedade (...)” lê-se, no texto de apresentação.”Também sabemos que os pais estão muito sozinhos”, acrescentam, notando como  “andam eles próprios a aprender a ser pais, a como sair do seu “armário”. Por isso, explicam, querem  “constituir um grupo de acção cívica” ao lado dos filhos e de “todas as organizações que defendem os seus direitos”.

 

Fonte: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1404547


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publicado por Riacho, em 10.10.09 às 17:19link do post | favorito

 Acho que Sou, comédia de Brian Sloan tem pelo menos dois pontos em comum com Será que ele é ?, filme sobre um professor gay. Além do título infame em português, as duas histórias afirmam que, na dúvida, o machão suspeito acaba revelando-se um gay reprimido. Bob (Alexis Arquette) e Brendan (Christian Maelen) eram grandes amigos e moravam na mesma república durante a faculdade. Todos eram felizes até que, no meio de uma brincadeira, Bob mostrou que estava apaixonado e Brendan fugiu. Anos depois, os dois encontram-se no casamento de uma amiga comum. Como já era de se esperar, Brendan descobre que sempre amou Bob. Brian Sloan não só realizou, Acho que Sou, como também redigiu o argumento. Ele deixa bem claro que não teve a menor intenção de fazer discursos sexistas ou deixar alguma dúvida que possa ser discutida depois do cinema. A comédia é boa justamente pela falta de pretensão do cineasta… Aqui fica a trailer.

 

Fonte: http://moviesmixg.blogspot.com/2008/07/i-think-i-do.html

 

 


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