ESPAÇO DE ENCONTRO E REFLEXÃO ENTRE CRISTÃOS HOMOSSEXUAIS em blog desde 03-06-2007
comentar
publicado por Riacho, em 30.07.07 às 19:51link do post | favorito

Caríssimos,

 

Deixo-vos aqui um breve resumo do que foi o nosso último, em Évora. Certamente que o Quim depois terá oportunidade de aprofundar um pouco mais o que lá se passou.

 

No totalÉvora «by night» estiveram presentes cinco elementos, provenientes de Lisboa e Évora, mas estiveram sempre no nosso pensamento todos os riachenses que, por uma razão ou outra, não se puderam deslocar a Évora.

 

Conforme programado o Encontro iniciou-se com a visita «guiada» à cidade de Évora, através do percurso «Évora Medieval», feito em versão compacta, pois já começámos mais tarde do que estava previsto.

 

Como o Quim «estava de apetites», lá fomos ver o pólo universitário da Mitra, praticamente abandonado nesta época de férias universitárias.

 

O repasto começou pelas 13h00, com boa e muita comida, regada com um fresco vinho branco (que fez mal a algumas pessoas... ). O espaço do almoço foi já aproveitado para a troca de algumas ideias.

 

Depois do almoço (e porque o calor apertava... eram só 45º ), foi um fugir para o local dos trabalhos, onde o Quim pode apreciar os passaritos e os «gupes».

 

Nos trabalhos da tarde, participaram todos os presentes, menos um, que se «apagou» no sofá (LOL!). Aqui discutiram-se as principais linhas orientadoras que o RIACHO poderá seguir para 2007/ 2008, de modo a torná-lo mais interventivo e participativo, junto de nós todos elementos do grupo, da Igreja e na sociedade, em geral.

 

Afloraram-se ainda ideias de como tornar o RIACHO um espaço mais abrangente, onde todos (jovens e menos jovens), encontrem resposta às suas demandas, aos seus anseios e vejam em nós um verdadeiro espaço plural de autêntica partilha. Para isso elaborou-se um plano de trabalho (que o Quim terá certamente oportunidade de trazer aqui), que será primeiramente discutido pelas pessoas encarregues de o elaborar e que depois será apresentado a discussão geral, entre nós todos, no próximo encontro de 15 de Setembro.

 

Depois deste momento de trabalho, houve ainda tempo para uma visita à exposição «Um Silêncio Interior», de Henri Cartier Bresson.

 

Julgo ter deixado aqui, uma súmula daquilo que, de mais importante, se passou no encontro.

 

Abraços a todos,

Zé (Évora)


comentar
publicado por Riacho, em 28.07.07 às 23:06link do post | favorito
Posição e declaração de princípios da DIGNITY
Acreditamos que os homossexuais, lésbicas, bissexuais e transgéneros, na sua diversidade são membros do corpo místico de Cristo e fazem parte do Povo de Deus.  Temos uma dignidade inerente porque Deus nos criou, Cristo morreu por nós e o Espírito Santo santificou-nos no baptismo, fazendo de nós templos do Espírito e canais através dos quais o amor de Deus se torna visível. Por causa disto, é nosso direito, nosso privilégio e nosso dever viver a vida sacramental da Igreja de modo a nos podermos tornar importantes instrumentos do amor de Deus trabalhando no meio do povo.
Acreditamos que os homossexuais, lésbicas, bissexuais e transgéneros podem expressar a sua sexualidade em concordância com os ensinamentos de Cristo. Acreditamos que podemos exprimir a nossa sexualidade fisicamente, de forma unitiva que é expressão de afecto, dádiva e afirmação de vida. Acreditamos que a sexualidade deve ser exercida de forma eticamente responsável e não egoísta.
DIGNITY organizou-se para unir católicos, homossexuais, lésbicas, bissexuais e transgéneros, bem como às suas famílias, amigos e companheiros de forma a desenvolver uma linha orientadora e a ser um instrumento através do qual possa ser ouvida e ajude a promover reformas na Igreja.
Para ser esse instrumento, aceitamos as nossas responsabilidades para com a Igreja, a nossa herança católica, a sociedade e para com os indivíduos católicos homossexuais, lésbicas, bissexuais e transgéneros.
1.      PARA COM A IGREJA: Trabalhamos para desenvolver uma teologia sexual que conduza à reforma dos seus ensinamentos e práticas relativamente à sexualidade humana e para a aceitação dos homossexuais, lésbicas, bissexuais e transgéneros como membros completos e iguais de Cristo.
2.      PARA COM A SOCIEDADE: Trabalhamos pela justiça e pela igualdade através da educação e apoiando reformas sociais e legais.
3.      PARA COM OS HOMOSSEXUAIS, LESBICAS, BISSEXUAIS E TRANSGENEROS CATOLICOS: Reforçamos o sentido de auto-aceitação e dignidade e encorajamos a uma total participação na vida da Igreja e da sociedade.
Como membros da Dignity, promovemos causas de interesse para os homossexuais, lésbicas, bissexuais e transgéneros católicos. Temos cinco áreas primárias de preocupação e de compromisso:
1.      DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL: Empenhamo-nos por alcançar uma maturidade cristã através dos sacramentos, das Escrituras, da oração, um activo amor ao próximo como a nós mesmos e através das celebrações litúrgicas, especialmente a missa.
2.      EDUCAÇÃO: Informar-nos-emos em todos os assuntos de fé e de interesse para as nossas comunidades, de forma a podermos crescer em maturidade e a consolidar a alegria da vida na qual a nossa sexualidade e espiritualidade está integrada.
3.      JUSTIÇA SOCIAL: Enquanto católicos e membros da sociedade, envolvemo-nos em acções que tragam o amor de Cristo aos outros e proporcionem a base de uma reforma social na Igreja e na sociedade. Estamos activamente envolvidos com:
a.       Individualmente: Levamos uma vida de serviço a nós próprios e aos outros, tornando visível o amor de Cristo e ajudando na criação de comunidades centradas no amor.
b.      Grupos Gay, Lésbicos, Bissexuais e Transgéneros: Trabalhamos com muitos outros grupos na procura da justiça para todas as pessoas e para promover um sentido da solidariedade dentro das comunidades.
c.       Grupos religiosos e seculares: Trabalhamos com muitos grupos e organizações de modo que os sus membros possam entender melhor homossexuais, lésbicas, bissexuais e transgéneros e assim reconhecer e eliminar as actuais injustiças.
d.      Cuidados de saúde: Trabalhamos para promover a igualdade de acesso e a justiça em todas as áreas dos cuidados médicos e de saúde.
e.       Justiça para as Mulheres: Esforçamo-nos por erradicar o sexismo e visão unicamente patriarcal em todas as áreas da Igreja e da vida secular para que as mulheres sejam plenamente incluídas, aceites e acolhidas.
4.      PUBLICAÇÕES SOBRE A IGUALDADE: Dedicamo-nos a desenvolver o potencial de todas as pessoas para que se tornem mais humanas. Para  isso trabalhamos na erradicação de todos os impedimentos na nossa personalidade baseados nos papeis sociais da mulher e do homem e para promover a inclusão em todas as áreas da vida litúrgica e comunitária.
5.      ACONTECIMENTOS SOCIAIS: Promovemos actividades de natureza social e de lazer num clima onde a amizade se pode aprofundar e amadurecer e onde o sentimento de auto-aceitação e dignidade se afirme.
A tradução pode não ser a melhor pelo que aconselho o original em http://www.dignityusa.org/purpose.html
 

Este grupo americano pode ser inspirador para o nosso Riacho. Leiam o texto e pronunciem-se.

 

Bom dia do Senhor!

 

Abraço

 

Carlos


comentar
publicado por Riacho, em 26.07.07 às 23:36link do post | favorito

Caríssimos,

 

Partindo do princípio que a maioria do pessoal que estará presente no encontro virá pela «estrada de Lisboa» aqui fica o mapa com o percurso até ao local de encontro, no Rossio de S. Brás.  (Ver o mapa aqui).

 

Quem tiver GPS, deve inserir como destino a Avenida Gulbenkian (Évora) e, uma vez na avenida... olhar para o mapa!!!

 

Abraço,

Zé (Évora)


comentar
publicado por Riacho, em 24.07.07 às 00:26link do post | favorito

Caríssimos,

 

Preciso de saber, ainda que por aproximação, o número de pessoas que virão a Évora. Será que alguém me pode dizer?

 

Enquanto pensam, vejam este vídeo: Sigur Ros - Vidrar Vel Til Loftarasa:

 

 

Abraços,

Zé (Évora)


comentar
publicado por Riacho, em 21.07.07 às 00:40link do post | favorito

Carlos,

 

Com o calor que tem feito este Verão... há fresco em todos os lados de Évora...  LOL!

 

Se estiverem de acordo e decidirem-se por Évora como local para o próximo encontro, proponho:

  • 10h00 - Chegada (PONTO DE ENCONTRO: Rossio, o de Évora, claro está!);
  • 10h30 - Visita turística: «Évora Megalítica» OU «Évora Romana»  OU «Évora Medieval (Fica ao V/ critério. Aceitam-se votos, contudo considerando o tempo disponível, proponho o circuito «Évora Medieval» (1));
  • 13h00 - A L M O Ç O (Tasca d'Aviz) (2);
  • 15h00 - Momento de Reflexão (3);
  • 18h00 - Celebração Eucarística (Paróquia dos Salesianos).
  • 19h45 - A D E U S.

 


 

NOTA: Se houver candidatos para passar o FDS, há disponilidade para 2 pax.

 


 

(1) - A entrada nalguns monumentos é paga;

(2) - O «único» local de Évora que reune o três B's: Bom - Bonito - Barato. Preciso da confirmação do número de pax, para efectuar a reserva.

(3) - Dependendo do número de pax, assim se reservará ou não uma sala para o encontro. A confirmação dos presentes para almoço, servirá também para aqui.

 


 

 

Pronto aqui fica a proposta. Aceitam-se alterações, emendas e outras que tais...

 

Abraço a todos,

Zé (Évora)


comentar
publicado por Riacho, em 20.07.07 às 19:49link do post | favorito

Caríssimos

 

Havendo muitos votos a favor, muitas abstenções e nenhuns votos contra, fica decidido que o próximo encontro do Riacho é alterado de 21 para 28 de Julho de 2007. Falta decidir o local: Évora ou Lisboa? Zé, temos aí um local fresquinho para reunir?

 

Abraço

 

Carlos  

sinto-me: de fim de semana

comentar
publicado por Riacho, em 16.07.07 às 23:55link do post | favorito

Boa noite a todos

 

A pedido de algumas famílias propõe-se que o próximo encontro passe de 21 para 28 de Julho. Alguém se opõe a esta alteração?

 

Apesar de poder estar um calor comportiano houve uma sugestão de se fazer o encontro em Évora. O que acham da ideia? Pode a distancia ser um obstáculo para quem está mais a norte? Por favor, manifestem-se...

 

Um abraço

 

Carlos


comentar
publicado por Riacho, em 15.07.07 às 23:54link do post | favorito

A Agência Adista, 20-01-2007, publicou o artigo abaixo, de Gregory Baum, conhecido teólogo católico canadiano, intitulado O Amor Homossexual.

Sobre o mesmo tema, os Cadernos IHU Idéias, n.º 32, publicaram o artigo À meia luz: a emergência de uma teologia gay. Seus dilemas e possibilidades, de André Sidnei Musskopf. O texto está disponível nesta página.

 

Eis o artigo de Gregory Baum:

"Há alguns decénios, a reflexão teológica sobre o amor homossexual desenvolveu-se bastante. Dois factores históricos provocaram este inesperado desenvolvimento.

Em primeiro lugar, as ciências psicológicas e antropológicas descobriram que a orientação homossexual não é nem uma doença, nem uma perversão da natureza, mas uma variante absolutamente natural que diz respeito a uma minoria de homens e mulheres.

Durante os anos sessenta e setenta, organismos profissionais, aí compreendidas associações de médicos, mudaram, por isso, seu juízo negativo com respeito ao fenómeno homossexual.

Estas declarações científicas assinalaram uma viragem cultural bastante notável. As grandes tradições religiosas haviam sempre condenado o amor homossexual como uma perversão da natureza. Os pensadores religiosos estavam convencidos que a orientação heterossexual era universal e que os actos homossexuais eram comportamentos anormais, que transgrediam uma lei essencial da natureza humana. É por esta razão que alguns textos bíblicos denunciam o amor homossexual. No século XIX as sociedades modernas também decidiram criminalizar o comportamento homossexual.

Somente em finais do século XIX muitos investigadores reconheceram que a homossexualidade é uma orientação não escolhida e estável de algumas pessoas. Reagindo a esta descoberta, os moralistas, não podendo continuar a reconhecer nos homossexuais pecadores que podiam converter-se, começaram a considerá-los inferiores, enfermos, caracterizados por desordens e privados de equilíbrio psíquico.

A Igreja católica ainda permaneceu ligada a este ponto no seu ensinamento oficial. Segundo uma Declaração da Congregação para a doutrina da fé, “a condição homossexual é destituída da sua finalidade essencial e indispensável e é, portanto, intrinsecamente desordenada”. Uma declaração romana mais recente diz-nos que os homossexuais não devem ser ordenados padres porque não são capazes de ter relações sadias com os homens e as mulheres da sua paróquia. Estes juízos oficiais, no entanto, indiferentes aos resultados da pesquisa científica, já não têm nenhuma credibilidade.

Dignity, uma associação de católicos gays e lésbicas, fundada em Los Angeles em 1973, apresentou a própria confissão de fé: “Cremos que os católicos gays são membros do corpo místico de Jesus e fazem parte do povo de Deus. Temos uma dignidade intrínseca, porque Deus nos criou, porque Cristo morreu por nós e porque o Espírito Santo nos santificou com o Baptismo, fazendo de nós canais pelos quais o amor de Deus se expande no mundo... Acreditamos que os gays podem expressar a sua sexualidade através de um modo conforme com o ensinamento de Jesus”.

Desde então, nasceram associações de gays e lésbicas em diversos países. Há colectâneas de livros e artigos nos quais estes católicos contam e analisam a sua experiência religiosa e apresentam reflexões teológicas fundadas na sua leitura da Bíblia. Neste esforço de repensar a sua tradição, estes católicos são acompanhados por gays protestantes, judeus e muçulmanos. Segundo eles, ter fé quer dizer aceitar a própria orientação sexual como um dom de Deus.

O Deus do universo, que criou uma maioria de pessoas heterossexuais, decide criar uma minoria de pessoas homossexuais. Ao invés de se lamentar diante do seu criador, estes cristãos homossexuais têm orgulho da orientação sexual que Deus lhes deu e vivem o Eros do amor ao seu modo, seguindo o ensinamento de Jesus. Nas suas relações amorosas querem permanecer fiéis à vida espiritual, superar seu próprio egoísmo, abrir-se ao amor altruísta pelo outro, recusar a dominação e a dependência psicológica, praticar a reciprocidade e a partilha.

Muitos teólogos reconhecem hoje que a reflexão moral sobre o amor homossexual não é autêntica se não são lidos os escritos dos cristãos gays e se não é tomada a sério o testemunho da sua fé. Todavia, estes teólogos dão-se conta que a posição defendida pelos católicos gays contradiz o ensinamento oficial da Igreja católica. Os teólogos sabem, ao mesmo tempo, que a Igreja, condicionada por novas experiências religiosas, por descobertas científicas e por uma releitura dos textos bíblicos, mudou, com frequência, o seu ensinamento. Nós não cremos mais no “fora da Igreja não há salvação”, doutrina enunciada pelos concílios do passado, não aceitamos mais a existência do limbo, pregado por séculos, apoiamos a liberdade religiosa e os direitos humanos, embora estas ideias tenham sido severamente condenadas pelos Papas do século XIX, estamos conscientes que a Igreja mudou o seu ensinamento sobre a tortura e a pena de morte, e assim por diante. É, pois, absolutamente razoável pensar que num destes dias a Igreja também mude sua ética sexual."

in: http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=5612

sinto-me:

comentar
publicado por Riacho, em 14.07.07 às 10:26link do post | favorito

Olá bom dia e bom início de fim de semana.

 

Convido-vos hoje a visitar os links do movimento Nós Somos Igreja. Eles contém informação para muitos desconhecida de movimentos dentro da Igreja Católica muito activos em demonstrar, num espírito de comunhão familiar, que algumas posições oficiais da Igreja têm necessariamente de ser repensadas, por fidelidade à mensagem de Jesus. 

 

Um dos movimentos de que falo é Catholics for a Free Choice, uma organização sem fins lucrativos que desenvolve pesquisa e análise de assuntos de igualdade de género e saúde reprodutiva. Entre outras acções, este movimento está, presentemente, a desenvolver a campanha que me arrisco a traduzir por Católicos conscientes usam preservativo. Para mais pormenores clica aqui http://www.condoms4life.org/home.htm 

 

Parece-me importantíssimo para nós todos, e em particular para os membros do Riacho, que estejamos mais atentos às acções concretas que são desenvolvidas dentro da Igreja Católica e de outras Igrejas cristãs e, com as quais me parece importante desenvolver pontes e formas de contacto e diálogo e até de algumas acções concretas de colaboração com estes nossos irmãos na fé.

 

É preciso romper com as desculpas de que andamos sempre cansados com a vida e o trabalho que levamos para justificarmos sempre a nossa inércia e o esperar que os outros tudo façam por nós. Nesta altura de férias (para alguns) é tempo de arregaçar as mangas, reorganizar a vida e libertar tempo para o bem comum. Deus espera isso de nós e os nossos irmãos na fé também.

 

Um abraço

 

Carlos

 

sinto-me: com vontade de engrenar

comentar
publicado por Riacho, em 12.07.07 às 23:14link do post | favorito

Laura Ferreira dos Santos
Docente da Universidade do Minho-IEP

1. Esclarecimento prévio: sou católica, casada há 24 anos com um agnóstico. Não tenho crianças. Sou heterossexual, não sei em que percentagem de "pureza".

2. Confesso: nunca tive uma boa ideia da família. Cresci a pensar numa família alternativa àquela em que nasci. Acima de tudo, não queria vir a ter a vida da minha mãe, dependente economicamente do marido (embora o meu pai até fosse uma óptima pessoa), sempre com medo de engravidar, irritada com um mundo que a colocava em segundo lugar por ser mulher, não obstante os discursos da Igreja que colocavam as mães – preferencialmente, as mães donas de casa, quer dizer, sem profissão que lhes possibilitasse um salário próprio – num pedestal.

3. Depois desta experiência desastrosa com a "família", aprendi também que o próprio termo "família" servia para discriminar. Um dia, na universidade, sugeri que a próxima reunião fosse lá pelas 17h00. Mal acabara de fazer a sugestão e lá estava a ouvir a voz estridente de uma colega a vociferar: "Mas eu tenho família!" Fiz de conta que não percebi, disse que todas/os tínhamos família, mas é claro que percebi onde se pretendia chegar: eu era casada, mas não tinha filha ou filho para mostrar, ao contrário da colega, com um rebento. Logo, se eu era casada e não tinha filha/o, não tinha família. Ajudei sempre a minha mãe nos seus longos tempos de viuvez, acompanhei-a durante os nove meses em que esperava a morte por cancro, quando já se detectara cancro em mim um pouco antes do que nela, mas eu não tinha família. Por hipótese, quando um dia, da família que herdei, só tiver uns primos longínquos em 10º grau e o meu marido ainda estiver vivo, a minha família serão os primos que nem sequer conheço e não o meu marido. Credo quid est absurdum.

3.1. Há uma ideologia católica da família que é uma ideologia de inferioridade transformada depois em política de exclusão. Tento explicar: segundo a Igreja, há um esquema "arbóreo" (por oposição a "rizomático", cf. Deleuze...) que distingue as verdadeiras famílias das uniões de "vida gregária" (cf. "D". Carlos Azevedo, PÚBLICO, 8/06/06, 30). E a verdadeira família, "o único modelo de família que existe" (ibid.), é óbvio que é aquela que mais se aproxima da "tradicional", aquela em que a mulher só usa os métodos das temperaturas e tende a viver em casa na dependência económica do marido, apetecendo dizer, com Rousseau, que, nesta perspectiva, a mulher honesta é a que está grávida ou de parto.

4. O meu desejo. Gostava muito que um ou vários dos nossos "dons" bispos casasse, tivesse até um casamento impossível que levasse ao divórcio, que o casal se enchesse de filhos com o mau funcionamento do método das temperaturas, que uma filha "saísse" lésbica, um filho gay e outro transexual, que uma filha hetero abortasse e fosse encarcerada e que uma outra se divorciasse e o pai das crianças não pagasse a pensão. Se, no fim disto tudo, o "dom" anterior não tivesse mudado, ou pelo menos flexibilizado, a sua opinião sobre a família, proporia que fosse estudado pelo António Damásio.

5. Com a família "estranha" de que o próprio Jesus Cristo emergiu e com as palavras distanciadas e críticas com que algumas vezes se referiu aos "seus" – "Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe" (Mc, 3, 35) -, duvido que subscrevesse inteiramente o que a Igreja afirma sobre esta entidade "sagrada".

6. Para que a Igreja institucional tenha menos receio do processo de secularização e do pluralismo "razoável" contemporâneo, leia por ex. o filósofo G. Vattimo (Après la chrétienté). Um pouco de cultura contemporânea ficava-lhe muito bem.

7. Tenho acompanhado a notável série televisiva Six Feet Under. Nela, um casal homossexual masculino "estável" está a tentar adoptar dois irmãos. Como seria afinal de esperar, este casal enfrenta os mesmos problemas de relacionamento amoroso dos casais heterossexuais. Felizmente, há várias alternativas a um determinado tipo de "família" que tantas vezes funcionou de um modo sufocante para os seus membros – o que não há é alternativa às exigências diferenciadas que o amor impõe a quem se ama de facto. Mas isso é uma conversa completamente diferente dos discursos discriminatórios com base na defesa da "família".

in: http://www.we-are-church.org/pt/documentos/LFSantos.html

tags:
sinto-me: em família

mais sobre nós
Julho 2007
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9
11
13

17
18
19

22
23
25
27

29
31


pesquisar
 
blogs SAPO
subscrever feeds