É numa comunhão pessoal com o Deus vivo que podemos encontrar forças para lutar com um coração reconciliado. Sem vida interior não poderíamos permanecer firmes nas nossas decisões. Em Deus encontramos a alegria e a esperança de uma plenitude de vida.
Não foi o próprio Deus quem deu o primeiro passo ao nosso encontro? Pela vinda de Jesus Cristo, Deus compromete-se numa verdadeira partilha com cada ser humano. Permanecendo muito além daquilo que podemos compreender, Deus torna-se muito próximo.
Por amor, ele quis partilhar a nossa vida e fez-se homem. Mais ainda: dando a sua vida na cruz, Jesus escolheu o último lugar. [2] Tomando sobre si próprio o que nos separa de Deus, ele assume a nossa própria pessoa e toda a humanidade. [3] Em troca, comunica-nos a sua própria vida. [4] A Criação inteira começa já a ser transfigurada. [5]
Esta partilha com Deus realiza-se para nós na oração: pelo seu Espírito Santo, Deus vem habitar em nós. Pela sua palavra e pelos sacramentos, Cristo entrega-se a nós. Como resposta, nós podemos abandonar-nos nele. [6]
Não foi assim que Cristo acendeu um fogo na terra, esse fogo que já arde em nós?
2] Para São Paulo, a reconciliação realizada por Cristo diz respeito a toda a Criação. Ele veio «reconciliar todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus» (Cl 1,20) e para isso «Jesus não se considerou, como numa usurpação, igual a Deus, antes, se esvaziou a si mesmo, tomando a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens.» (Fl 2,5-11)
[3] Numa linguagem poética que tira a sua arte da meditação da Sagrada Escritura, a liturgia ortodoxa canta no Natal: «O Criador, ao ver perdido o homem que as suas mãos moldaram, desce inclinando os céus; nascido da Virgem santa e imaculada, ele assume no seu corpo o ser humano na sua totalidade.»
[4] Um cristão do século II, Ireneu de Lyon, chegou a dizer: «Por causa do seu amor infinito, Cristo tornou-se naquilo que nós somos, para fazer plenamente de nós aquilo que ele é.»
[5] O Espírito Santo é como a alma da Criação: «A beleza do mundo, tal como a vemos agora, não poderia permanecer em forma sem a virtude do Espírito (…) É ele que está derramado por toda a parte, que sustenta e vivifica todas as coisas, no céu e na terra, e lhes dá vigor.» (João Calvino, A Instituição Cristã I, XIII, 14)
[6] A comunhão com Deus nem sempre é vivida ao nível dos sentimentos. A presença do Espírito Santo em nós é mais profunda. Mesmo sem sentirmos nada, podemos rezar, nem que seja apenas com um gesto muito simples: pôr-nos de joelhos, abrir as nossas mãos. E Deus vem visitar-nos.
in: Taizé, Carta aos jovens reunidos em Cochabamba http://www.taize.fr/pt_article5565.html