Publicamos aqui dois poemas escritos por Barry Gittins, consultor de pesquisa e comunicação do Exército da Salvação. O texto foi publicado no sítio Eureka Street, sítio gerido por jesuítas australianos, 20-10-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Eis os poemas.
E se...
E se Jesus Cristo fosse gay,
iriam os fanáticos se afastar;
teriam os fundamentalistas um faniquito
e vacilariam confusos?
Será que eles adorariam a Cristo crucificado,
ou se ajoelhariam para rezar?
E se Cristo tivesse nascido uma menina?
Será que clérigos dançariam,
professando a sua adoração,
desfraldando estandartes de amor,
ou será que na mais profunda indignação
puxariam suas espadas King James?
E se Jesus Cristo não fosse judeu,
renovar-se-ia o ódio aos não semitas?
Se ele fosse negro ou vermelho ou grego
(ou seja, "de raça"),
seria o Homem-Deus menos santo;
menos manso, de alguma forma, menos verdadeiro?
Se os milagres naturais não tivessem acontecido;
teria a graça divina sido ilimitada?
A esperança do fiel ficaria prejudicada,
o amor pela magia, intacto,
a aversão, conquistada,
o caminho, iluminado?
Ou a moeda da esperança não seria cunhada?
E se a concepção virginal
fosse um erro de tradução;
se as sanguinárias estações da cruz
marcassem uma partição finita e cruel?
Será que a dor e a morte de um homem corajoso
significariam que suas palavras sofreram estagnação?
Se as palavras em uma página
fossem inspiradas, mas não sábias,
se a obsessão literalista
não tivesse motivo para esbravejar
pelo direito de uma pessoa de amar ou de se reproduzir;
isso seria motivo de raiva?
Se o Homem estivesse ainda por aí,
ainda ao redor, poderíamos andar
ao lado dele para um passeio
e devidamente esperaríamos que ele fosse dar o assentimento
às nossas preocupações;
quod erat demonstrandum, por favor Deus.
Pulsos
Pulsos em nossos templos.
Cenouras em nossos túmulos.
Passarinhos em nossos corações,
Turistas em catacumbas.
Hinos e cânticos em buffets.
Escritórios florescendo,
com manifestos de papel machê
pedindo mais espaço.
Lamentos em sintonia,
gafes em longas filas.
Fim para a crueldade com os cadáveres,
paz para os velhos degenerados.
Esperança para vistas invisíveis
Paz para caminhos percorridos.
Alegria para a inocência abatida.
Amor pelas consequências.
Graça para julgamentos indesejados.
Fé para as visões derrubadas.
Busca por arautos silenciados.
Sonho para o sudário da paixão.
Risos em voz baixa.
Confiança nos olhos.
Nós superamos nossa argila quebrada:
Somos a surpresa de Deus.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/537018-se-jesus-fosse-gay