ESPAÇO DE ENCONTRO E REFLEXÃO ENTRE CRISTÃOS HOMOSSEXUAIS em blog desde 03-06-2007
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publicado por Riacho, em 04.04.12 às 23:47link do post | favorito

Voltamos a esta notícia para destacar o acolhimento do cardeal ao jovem gay eleito para o conselho pastoral e que vive em união civil com o seu companheiro.

 

O jovem de vinte e sete anos, Florian Stangl, foi o mais votado, entre os paroquianos, durante as eleições do novo conselho pastoral de Stützenhofen, ao norte de Viena. O pároco, porém, não quis admitir sua designação. E, aí, interveio o arcebispo, que assumindo a responsabilidade, decidiu convalidar a eleição. A intervenção do cardealCristoph Schönborn, agora, está sendo motivo de polêmica (Die Presse, em alemão). Nos últimos dias, depois de expressar reservas, num primeiro momento, decidiu admitir no conselho pastoral, da paróquia da pequena cidade austríaca, um jovem homossexual que convive com seu parceiro, com quem contraiu união civil.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 03-04-2012. A tradução é do Cepat.

Na votação, ocorrida há três semanas, Stangl obteve 96 votos a favor, dos 142. O pároco Gerhard Swierzek pediu para que ele renunciasse e, inclusive, o convidou para não se apresentar para receber a eucaristia. Uma decisão contestada pelo vigário forâneo, responsável pelo decanato, o padre George Von Horick: “Se existe a permissão aosdivorciados, que voltam a se casar, para se colocarem como candidatos – disse – tampouco as inclinações, nem avida homossexual” deve impedir a eleição.

Num primeiro momento, a diocese de Viena havia declarado que o registro numa união civil não permite a participação no conselho pastoral. Stangl declarou numa entrevista: “Sinto-me unido aos ensinamentos da Igreja, porém o pedido de viver em castidade me parece pouco realista. Quantas pessoas vivem na castidade?” E pediu para falar com o cardeal Schönborn, que convidou, ele e seu parceiro, para almoçar. No dia 30 de março, o arcebispo de Viena fez publicar uma segunda declaração, mais articulada (Arquidiocese de Viena, em alemão). Schönbornagradeceu aos “muitos candidatos às eleições do conselho pastoral”, porque com suas candidaturas “demonstraram interesse pela Igreja e pela fé”. “Assim – continua o cardeal – deram testemunho da vitalidade da Igreja. Em sua diversidade, refletem a diversidade atual dos caminhos de vida e de fé”.

“Existem muitos membros dos conselhos pastorais paroquiais – acrescentou o arcebispo de Viena – cujo estilo de vida não cumpre, em sua totalidade, com os ideais da Igreja. Em vista do testemunho de vida, que cada um deles nos dá, em conjunto, e do esforço em viver uma vida de fé, a Igreja aprecia seu compromisso”.

Schönborn, então, elogiou a viva participação das jovens gerações na vida paroquial da pequena comunidade deStützenhofen, e a grande participação nas eleições do conselho pastoral. “Os erros formais que vieram à luz, durante a eleição, não colocam em discussão os resultados da eleição, em que o candidato mais jovem, Florian Stangl, recebeu a maioria dos votos”.

O cardeal conta que se reuniu com Stangl e que ficou “profundamente impressionado por sua fé, por sua humildade, e pelo modo em que concebe seu serviço. Ele pôde compreender por que os paroquianos votaram, de forma tão decidida, na sua participação no conselho pastoral”. Por último, o cardeal assinalou a decisão do conselho episcopal, que por unanimidade estabeleceu que as autoridades diocesanas não pretendem invalidar a eleição, nem os resultados, e que revisarão as regras para os conselhos pastorais, para esclarecer os requisitos necessários para os candidatos.

A que “erros” Schönborn se referia? Ao fato de que os candidatos para os conselhos pastorais, na diocese de Viena, devem assinar uma declaração na qual garantem cumprir com todos os requisitos necessários, entre os quais está o de adesão da fé e disciplina da Igreja católica, que, como se sabe, condena a prática homossexual e as uniões entre pessoas do mesmo sexo. Porém, na eleição em Stützenhofen, os candidatos não quiseram assinar a declaração, afirmando verbalmente cumprir com os requisitos. 

Nos últimos dias, na Itália, foi o cardeal Carlo Maria Martini, arcebispo emérito de Milão, que se pronunciou sobre a possibilidade do reconhecimento das uniões civis de pessoas do mesmo sexo. No livro-entrevista “Credere e conoscere” [Crer e conhecer] (Einaudi), escrito em diálogo com Ignacio MarinoMartini afirmava: “Considero que a família deve ser defendida, porque é realmente a que sustenta a sociedade, de maneira estável e permanente, e pelo papel fundamental que desempenha na educação dos filhos. Porém, não seria ruim que no lugar de relações homossexuais ocasionais, as pessoas tivessem certa estabilidade e, então, neste sentido, o Estado poderia favorecê-las também”.

 

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/508163-jovem-gay-e-eleito-para-conselho-pastoral-cardeal-de-viena-se-posiciona


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publicado por Riacho, em 30.03.12 às 18:56link do post | favorito

Esta é uma notícia muito importante na aceitação dos homossexuais na Igreja católica. Como a notícia não se deixa copiar aqui fica o link para quem quiser aprofundar a notícia: http://www.abc.es/20120330/sociedad/abci-iglesia-austria-homosexuales-201203301320.html


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publicado por Riacho, em 07.02.12 às 22:33link do post | favorito

Uma família às direitas!

 

06/02/2012 - Mãe escreve depoimento sobre filho de 6 anos apaixonado por personagem gay da TV Por redação Amélia é que é mãe de verdade. Mas essa Amelia não se chama assim, ela escolheu este nome para assinar um blog e uma coluna no site Huffinton Post. Mãe de três filhos, ela resolveu contar no ano passado que seu filho mais velho, de apenas seis anos, pode ser gay. O texto foi publicado em agosto do ano passado e virou hit na internet. Nós traduzimos o depoimento para você. Amelia conta em um texto emocionante como o filho descobre que ama um personagem da série Glee e como ela e o esposo não ligam para o fato de ele gostar de meninas ou de meninos. O filho se apaixona por Blaine, um dos gays da série e começa a perguntar para a mãe se é possível um menino gostar de meninos e não de meninas, uma questão comum na infância de muitas crianças, que fazem muitos pais surtarem. Confira a reação sem preconceito dos pais e como conduziram a situação. Veja a tradução do texto original da Amélia: “Mãe, eles são iguaiszinhos a mim” Meu filho mais velho tem seis anos e ele está apaixonado pela primeira vez. Ele está apaixonado pelo Blaine de Glee. Para quem não sabe, Blaine é um garoto… um garoto gay, namorado de um dos personagens principais, Kurt.Não é um tipo de amor como “ele acha o Blaine muito massa”, é do tipo de amor em que ele devaneia olhando para uma foto de Blaine por meia hora seguido por um intenso “ele é tão lindo”. Ele adora o episódio no qual os dois meninos se beijam. Meu filho chama as pessoas que estão em outros cômodos pra ter certeza de que não perderão "sua parte favorita”. Ele volta o vídeo e assiste de novo… e obriga os outros a fazerem o mesmo, se achar que as pessoas não prestaram atenção suficiente. Essa paixão não preocupa a mim e nem ao seu pai. Nós vivemos em uma vizinhança liberal, muitos de nossas amigos são gays e a idéia de ter um filho gay não é algo que nos preocupa. Nosso filho vai ser quem ele é, e amá-lo é nosso dever. Ponto final. E ele tem seis anos. Crianças de seis anos ficam obcecadas com todo tipo de coisa. Isso pode não significar nada. Nós sempre brincamos que ou ele é gay, ou nós teremos o melhor material de chantagem na história da humanidade quando ele tiver 16 anos e for um cara hétero (Imagina as fotos tomando banho pelado). E então, dia desses estávamos viajando para outra cidade ouvindo o CD dos Warblers (é claro),quando no meio de Candles, meu filho, do banco de trás, aumenta a voz: “Mamãe, Kurt e Blaine são namorados.” “São sim,” eu afirmo. "Eles não gostam de beijar meninas. Eles só beijam meninos.” “É verdade.” “Mamãe, eles são como eu.” “Isso é ótimo, querido. Você sabe que eu te AM, aconteça o que for?” “Eu sei…”. Eu podia ouvi-lo revirando os olhos pra mim. Quando chegamos em casa, eu recapitulei a conversa para o pai dele, e nós simplesmente olhamos um nos olhos do outro por um momento. E então, sorrimos. “Então se aos 16 anos ele quiser fazer o grande anúncio na mesa de jantar, poderemos dizer: Você disse isso pra gente quando tinha 6 anos. Passe as cenouras - e ele ficará decepcionado por roubarmos o grande momento dramático dele”, disse meu marido, rindo e me abraçando. Só o tempo dirá se meu filho é gay. Mas, se for, estarei feliz de ele ser meu. Eu estou feliz que ele tenha nascido na nossa família. Uma família cheia de pessoas que o amarão e o aceitarão. Pessoas que jamais vão querer que ele mude. Com pais que não procurarão dançar no casamento dele. E eu tenho que admitir, Blaine seria realmente um genro lindo.

 

Fonte: www.revistaladoa.com.br/website/artigo.asp?cod=1592&idi=1&moe=84&id=18958

 


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publicado por Riacho, em 29.01.12 às 22:33link do post | favorito

Durante Parada Gay, cristãos pedem desculpas aos homossexuais pela forma como a igreja os trata

Durante a Parada do Orgulho Gay em Chicago, um grupo de cristãos foi ao evento vestido com camisetas que tinham a frase “I’m Sorry” (Me desculpe, em inglês) e cartazes dizendo “Desculpem pela forma como a Igreja trata vocês”.

Um dos manifestantes do grupo cristão, Nathan, afirmou que recebeu um abraço de um rapaz que dançava só de cuecas, mas que parou, leu o recado nos cartazes e disse: “Obrigado”, segundo informações do site “Babado Certo”. A imagem do abraço percorreu o mundo através das redes sociais.

A postagem original, no site Imgur, uma espécie de rede social para imagens, recebeu mais de dois milhões de visualizações.

Nathan ressaltou que a atitude tomada por ele e seu grupo foi inspirada na compaixão de Jesus para com as pessoas:“Infelizmente, a maioria dos cristãos prefere julgar, em vez de procurar compreender. A maioria não vai nem saber se essa pessoa dançando de cueca tem um nome. No entanto, acho que Jesus também o abraçaria. Mais do que a aceitação, é a reconciliação. Falar sobre reconciliação é lembrar dos erros cometidos. É algo forte e transformador pois dois partidos contrários e que possuem todo direito de se odiar, se unem para o bem de todos”, refletiu o manifestante.

Fonte: Gospel+ 


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publicado por Riacho, em 14.01.12 às 17:14link do post | favorito

''Que o Estado reconheça as uniões gays'', afirma bispo italiano

Que o Estado reconheça as uniões homossexuais. Que a Igreja se reserve, ao contrário, o juízo moral. Esse é o desejo expresso pelo bispo de RagusaPaolo Urso, em uma longa entrevista ao sítioQuotidiano.net, que aparece na página eletrônica de notícias da Cúria, Insieme.

A reportagem é do sítio Vatican Insider, 12-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

"Quando duas pessoas decidem, mesmo que sejam do mesmo sexo, a viver juntas – afirma –, é importante que o Estado reconheça esse estado de fato, que deve ser chamado com um nome diferente do matrimônio, senão não nos entendemos".

Dom Urso fala de uma Igreja de "portas abertas" e aborda as questões cruciais como a imigração, o pacifismo, a coabitação, a fecundação assistida. Mas é sobretudo sobre as uniões entre gays que Dom Urso expressa a opinião mais comprometedora. Pergunta-se ao bispo: há um atraso sobre essas questões? "Um Estado laico como o nosso – é a resposta – não pode ignorar o fenômeno da coabitação, deve se mexer e definir direitos e deveres para os parceiros. Depois, a avaliação moral caberá a outros".

Em 2005, por ocasião do referendo sobre a fecundação assistida, Dom Urso declarou ao Corriere della Sera que iria votar deixando a liberdade de consciência aos fiéis. Assim, pôs-se em contraste com o então presidente da CEI[Conferência dos Bispos da Itália], o cardeal Camillo Ruini, que tinha pedido a abstenção da Igreja.

Ele faria novamente essa escolha? "Sem dúvida, eu a faria novamente", responde. "Fui educado – acrescenta – na laicidade do Estado e no respeito das leis civis. Quando o cidadão é chamado a fazer escolhas concretas, a tarefa da Igreja é a de oferecer aos fiéis instrumentos para decidir autônoma e conscientemente. Por isso, eu disse ao meu povo: 'Informem-se, documentem-se, vejam se esse tipo de soluções são justas e julguem por si mesmos".

A ação de Ruini foi, segundo o prelado, "uma ação de estratégia política". "Mas eu acredito – concluiu – que os bispos não devem ter nada a ver com a política e com as suas lógicas".

 

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/505718-que-o-estado-reconheca-as-unioes-gays-afirma-bispo-italiano


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publicado por Riacho, em 10.01.12 às 23:32link do post | favorito

Uma entrevista que merece uma séria reflexão interna na Igreja de hoje

“Há medo na Igreja”

Entrevista do António Marujo a José Maria Castillo Sánchez.
Por António Marujo

 

Jesuíta durante 52 anos, abandonou a ordem aos 78. Hoje diz que a Igreja quer continuar a manter um grande poder sobre a sexualidade, mas que já não o consegue fazer. E que sofreu muito com a proibição que lhe foi imposta de deixar de ensinar Teologia. José María Castillo Sánchez, granadino nascido em 1929, viveu quase toda a sua vida como padre da Companhia de Jesus. Saiu, abandonando também o

ministério de padre, para manter a liberdade de pensar. Diz que há um grande medo na Igreja, critica a pressão do Vaticano sobre os teólogos e assume que a Igreja Católica deve voltar a um modelo mais próximo e fiel ao Evangelho de Jesus. Assegura que não quer uma Igreja paralela nem reinventar a que existe, mas que esta tem de mudar muitas coisas. Por duas vezes, em Outubro último e um ano antes, José María Castillo participou nos colóquios Igreja em Diálogo, promovidos em Valadares pela Sociedade Missionária da Boa Nova e organizados pelo filósofo e teólogo Anselmo Borges. Na apresentação que dele fez em Outubro, Anselmo Borges disse: “É um homem livre.”

                                  

ENTREVISTA:

Deixou os jesuítas aos 78 anos, após 52 anos na ordem. A sua vida foi um engano?

Não, não tenho essa sensação. Fiz o que tinha a fazer em cada momento. A partir dos anos 1980 comecei a ter dificuldades em publicar livros. Os jesuítas são uma ordem de gente muito aberta, há uma grande liberdade. Por isso há gente de extrema-direita e de extrema-esquerda, conservadores e progressistas. Os jesuítas a mim não me colocaram dificuldades.                       Não tenho queixas contra os jesuítas.

 

Foi a Congregação para a Doutrina da Fé, do Vaticano?

Sim. Mas quero que conste a minha gratidão para com os jesuítas. Tudo o que sou e sei devo-o aos jesuítas. O que acontece é que a Companhia de Jesus é uma instituição dentro de outra instituição maior que é a Igreja [Católica].
É daí que vêm as dificuldades. Sobretudo os pontificados de João Paulo II e, agora, de Bento XVI, têm sido muito duros com a teologia.

 

Começou por ter problemas em 1988, ao criticar o modelo de Igreja. O que estava em causa?

Na realidade, não sei. Proibiram-me que continuasse a ensinar Teologia. Pedi insistentemente que me dessem uma explicação, nunca a consegui. Esse é um dos problemas: condenam-se os teólogos, muitas vezes, sem dizer-lhes exatamente o que está em causa…

No meu caso, é claríssimo: a única explicação que me deu o provincial [superior] dos jesuítas [em Espanha] é que o atual Papa, quando era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Ratzinger, foi visitar o geral dos jesuítas com o cardeal de Madrid.
O que falaram não sei. A Santa Sé não me comunicou e o geral dos jesuítas, o padre [Peter-Hans] Kolvenbach, só me falou de um desafeto para com a Igreja, de um espírito crítico. Mas não me referiu pontos concretos contra a fé, porque eu tive muito cuidado em não atacar nenhuma dessas questões. Para mim foi um golpe muito duro: tive uma depressão muito forte.

 

O seu blogue intitula-se Teologia sem censura. A teologia continua a ser censurada?

Agora, mais do que nunca.

 

Mais do que nos tempos do Papa Pio XII, por exemplo?

Sim. O controlo agora é muito forte, através dos bispos, mais do que em nenhuma outra instância. Falei com um professor de um importante instituto teológico de Roma, que me referia o clima de medo que há nos seminários e institutos. Sobretudo entre os professores, porque as denúncias são muito frequentes e as pessoas têm medo de perder o posto de trabalho. O medo bloqueia as pessoas. O medo paralisa.

 

Isso tem consequências?
Deu-se um fenômeno terrível desde [o Papa] Paulo VI: o empobrecimento da teologia. Passou a geração dos grandes teólogos que fizeram o Concílio [Vaticano II] e não apareceu outra. Pode haver muitos fatores, mas é claro que a pressão de Roma é muito forte. A criatividade teológica desapareceu.
Este foi o motivo principal que me motivou [a sair]. Pensei durante mais de 25 anos: em 1983, já tinha pedido ao meu provincial para sair dos jesuítas. Já nessa altura era muito difícil…

 

Não foi um processo brusco?

Não, foi longo e muito duro. Fez-me muita luz ler o diário do padre [Yves] Congar. Ele conta o drama que viveu nos tempos do Papa Pio XII: foi três vezes desterrado de França, teve tentações sérias de suicídio… [Bernard] Häring, pouco antes de morrer, dizia, num pequeno livro [A Igreja Que Eu Amo, ed. Figueirinhas], que teve dois processos: um da Gestapo, durante a II Guerra Mundial, e outro do Santo Ofício, depois do Concílio. E dizia: “Prefiro o da Gestapo, é mais suportável.”

 

Dizia que, para si, foi também muito duro…

Sobretudo os oito anos em que estive com uma depressão. Tive uma circunstância que me ajudou a ultrapassá-la: a proibição [de ensinar Teologia] foi em 1988. Em 1989, deu-se o assassinato de seis jesuítas em El Salvador. Pediram ajuda a jesuítas espanhóis que pudessem ir para lá. Perguntei se podia ir. Como era uma universidade católica não sujeita à disciplina da Congregação para a Doutrina da Fé, pude ir ensinar, três meses por ano, desde 1990 e durante 15 anos.
Para mim foi muito rico, não me senti totalmente excluído. O encontro com o sofrimento do Terceiro Mundo foi determinante. Na evolução do meu modo de ver a sociedade e a função da teologia, o papel e o trabalho da Igreja, foi uito enriquecedor.

 

Dá a impressão que as condenações do Vaticano são, sobretudo, para quem fala da estrutura da Igreja e de questões morais. É assim?

A Igreja acabou por se organizar de maneira que o centro da vida cristã de muita gente não é já o Evangelho, mas a própria Igreja. Para muitas pessoas, tem mais importância o que diz o Papa do que o que diz o Evangelho.
Isto é uma traição ao Evangelho, uma desorientação total em relação ao que a Igreja tem de fazer no mundo: não magnificar a figura do Papa e do poder eclesiástico, mas exatamente o oposto, fazendo o que Jesus disse aos discípulos, que deviam ser como crianças, que tinham de andar pela vida sem dinheiro, sem sandálias… Hoje, uma viagem do Papa é exatamente o
contrário.

 

Criticou no seu blogue, em tempos, o modelo dessas viagens. O Papa não deve viajar?

Deve viajar, mas como um cidadão, apresentando-se modestamente. Não deveria ser chefe de Estado, pois isso não faz parte da fé nem faz nenhum bem à Igreja. Devia retirar todo o protocolo e a diplomacia, pois isso é hipotecar a liberdade do Papa e da Igreja. Não se sabe quantos milhões de euros custa uma viagem do Papa. Não me parece que os valores que se gastam tenham justificação pastoral, apostólica, evangélica, teológica ou religiosa…

 

Não faz falta também que, nas viagens, o Papa possa escutar o que sentem as comunidades católicas, as vozes alternativas?…

Claro, teriam de ser organizadas de maneira completamente diferente, para que o Papa pudesse escutar as pessoas, inteirar-se do que se passa em cada sítio. Uma das experiências mais curiosas que tive, enquanto simples padre, foi que, ao sair dos jesuítas, passou a haver gente que já nem sequer me saúda. Eu pensava que eram grandes amigos. Eram amigos do jesuíta, não de José Maria. As pessoas relacionam-se com a personagem, não com a pessoa.

 

Fala de católicos?

Sim. Religiosos, padres… Bispos nem falo, porque sei que, em Espanha, eles têm uma lista de nomes proibidos. E eu estou na lista. Se eu for dar uma conferência em qualquer sítio de Espanha, tem de ser num lugar laico. Se for num sítio religioso raramente me chamam, mas, se o fazem, o bispo proíbe-o.

 

No seu livro La Humanización de Dios (A Humanização de Deus), sugere que a teologia e a Igreja deveriam preocupar-se mais com o humano e menos com o celestial…

Não pode ser outro caminho. A razão tem a ver com o mistério central do dogma cristão: a encarnação de Deus, em Jesus. Deus, para salvar, humanizou-se. O caminho da salvação é o caminho da humanização.
A Igreja não pode pretender emendar o projeto de Deus. Tem de ser, antes, humanizada no ser humano como foi Jesus, que viveu de maneira determinada e como um trabalhador normal.
Eu tão-pouco gosto muito de exaltar a pobreza… Vivi mais de 50 anos o voto de pobreza e agora é que me dou conta do que realmente significa a pobreza.

 

Vive com dificuldades?

Não passo dificuldades, porque vivo com uma família numa casa onde não falta nada. Mas vivo com a pensão mínima de Espanha que, com os complementos, fica em 600 euros. Mas, se eu receber mais de seis mil euros por ano de outras origens, como os livros, fico apenas com 340 euros mensais…
Para mim, houve dois motivos para sair: a liberdade de pensar e dizer o que penso. E o segundo foi viver a normalidade, não ser uma pessoa notável, distinguida. Ser um cidadão qualquer e morrer como um cidadão qualquer. Não sei se estou equivocado, se sou utópico ou um ingênuo.

 

Falávamos do seu livro e da humanização de Deus…

O projeto de Deus para salvar foi o de humanizar-se. A Igreja e a teologia nunca o deveriam esquecer. O caminho da salvação não é o da divinização nem o do endeusamento, mas o da humanização. Só humanizando-nos, sendo cada vez mais profundamente humanos, podemos corrigir este mundo, aliviar o sofrimento humano, dar esperança às pessoas, estar perto de quem sofre.
No livro Las Victimas del Pecado (As Vítimas do Pecado), critica fortemente a relação entre pecado e castigo de Deus. Isso continua relacionado com a atitude da Igreja?
Claro, porque dá jeito à Igreja o tema do pecado, para exercer e potenciar o seu poder. O poder específico da religião é o poder sobre as consciências, a religião não tem poder civil…

 

Não tem exércitos, como pensava Estaline…

… mas tem um poder que nenhum poder humano tem, que é o poder sobre a consciência. O poder civil e militar até pode tirar a vida. Mas a religião chega a algo mais íntimo e mais fundo, à intimidade da consciência, onde cada qual se sente a si mesmo como uma pessoa ou como um canalha.
Na cultura do tempo de Jesus, a doença estava ligada ao pecado, era um castigo do pecado. Ele rompe com isso. Quando cura ou perdoa, o que devolve em primeiro lugar, antes da saúde, é a dignidade da pessoa.

 

Escreve também que Jesus foi morto por razões religiosas e políticas. Por quê?

A razão fundamental é que ele enfrentou claramente a concepção de Deus do judaísmo daquele momento. Havia a ideia de um Deus ameaçador e castigador, juiz. Jesus propõe como modelo o pai que perdoa todos e acolhe sempre, o pai do filho pródigo, que acolhe o que se perde e censura o que está a trabalhar em casa.
Jesus foi laico. O seu conflito mais forte foi com os sacerdotes [judaicos], com os funcionários do Templo, com a lei [religiosa], dizendo que o homem não era para o sábado, mas o sábado para o homem – ou seja, o homem não é para submeter-se à lei, esta serve para potenciar a humanidade.
Quando à religião se lhe tira o templo, os sacerdotes e a pressão sobre a consciência, o que fica? Fica-se sem o aparato que a sustém e a torna importante. O que interessa é uma religião que humanize, que nos liberte da desumanização e nos torne cada vez mais humanos.

 

Mas Jesus tinha de ser morto ou não? Há uma teologia que diz que Jesus tinha de ser morto para cumprir a vontade de Deus…

Isso já é a reinterpretação de Paulo, depois da ressurreição. Paulo não conheceu Jesus e dizia que Jesus “segundo a carne” não lhe interessava. Não se interessou em saber por que mataram Jesus, mas defronta-se com a questão de ele ter morrido crucificado, que era a morte mais horrenda daquele tempo.
Por outro lado, Paulo via Cristo glorificado e exaltado como filho de Deus.
O cristianismo primitivo viu-se com a dificuldade de explicar como acreditava num Deus crucificado. Paulo encontrou a explicação na teologia do sacrifício e da expiação do Antigo Testamento, que não está no Evangelho: Jesus foi morto porque teve um confronto com os poderes religiosos e, indiretamente, também com o poder político.

 

Fala também do modo como a Igreja vê ainda Jesus, quase numa perspectiva monofisista subtil. O debate vem dos primeiros séculos: Jesus era Deus ou homem?

Em primeiro lugar, foi homem. Através de São Paulo e dos Atos dos Apóstolos, sabemos que foi exaltado depois da ressurreição. Jesus é Deus? Esta é uma pergunta que supõe que eu já sei quem é Deus e como é Deus. Esse é o problema: Deus é o transcendente e não está ao nosso alcance.

 

E não se sabe como é?

Não sabemos. Deus está além do limite da nossa capacidade de conhecimento. Por isso é Deus. Quer dizer que o que conhecemos são representações de Deus que nós fazemos. Por isso, cada religião representou-o de maneira diferente.
O cristianismo tem um problema tremendo: o Deus do Antigo Testamento, que é nacionalista e violento, também é o Deus dos salmos, de amor e bondade. Os textos da violência, no Antigo Testamento, são terríveis.
Depois, há o Deus de Jesus, encarnado e humanizado. Não vale dizer que há um progresso de revelação, isso seria uma contradição. Porque se é nacionalista e violento, não pode ser Deus para todos e sempre bom. São coisas contraditórias.

 

Em que sentido?

O cristianismo confronta-se com três imagens de Deus. O mínimo que se pode pedir a uma religião é que tenha claro em que Deus crê. O cristianismo não tem nem pode ter. Uma pessoa que vá à missa ao domingo ouve um texto de violência na primeira leitura, depois um texto de Paulo falando do sacrifício e de Deus necessitar da morte do seu filho e, finalmente, um
texto sobre Jesus, que amava as crianças, os pobres e os pecadores. Não se pode estar de acordo com coisas contraditórias.

 

Falava do controle da Igreja sobre as consciências. Mas isso é na moral sexual porque, se falamos de questões sociais e de dinheiro, a Igreja parece menos dura…

A Igreja tem uma moral sexual que vai até ao último detalhe. Na moral social e econômica, são afirmações genéricas. E isto vem de São Paulo. Ele condenou a homossexualidade e a Igreja não a tolera. Isso é uma coisa terrível. A pressão social faz com que muitos [homossexuais] não saiam do armário. E entre o clero também há muitos.
É uma questão de poder. Quem controla a vida afetiva e sexual de uma pessoa controla a pessoa. Por isso o controle da sexualidade é tão forte na Igreja – ou pretende ser, porque cada vez mais as pessoas fazem menos caso, é um fracasso.
Isto não sucede só na Igreja Católica. Há grupos protestantes que são enormemente estritos em tudo o que é sexual e enormemente tolerantes em tudo o que é econômico. Trata-se de uma questão de poder. O dinheiro dá poder. Estar perto dos que têm dinheiro dá poder. E também o controlo da sexualidade, da afetividade e da emotividade, dá poder.

 

Nessa estrutura de poder, o que deveria mudar?

A Igreja teria de ser repensada de modo completamente distinto. Primeiro, mudar o papado. Não a pessoa do Papa, mas a instituição, que teria de inspirar-se no que foi o modelo da vida de Jesus e dos discípulos. E pensar até onde pode o papado aproximar-se desse modelo. Não sou tão ingênuo pensando que vá mudar já. Mas há coisas que se poderiam fazer: que os eleitores do Papa não fossem os cardeais, mas as conferências episcopais; segundo, que o cargo não fosse vitalício, mas a prazo; depois, que deixasse de ser chefe de Estado…

 

Isso significava acabar com a diplomacia do Vaticano?

Sim, acabar com tudo isso. A Igreja não tem de relacionar-se por interesses ou pactos políticos, mas pela sua exemplaridade evangélica. Quando o Papa vai a um país, não pode anunciar o Evangelho. Faz um discurso convencional, de coisas muito genéricas. Diz-se coisas mais concretas, são relacionadas com a sexualidade ou com os direitos e privilégios da Igreja. Mas não mais.

 

Essas mudanças como devem acontecer? Por decreto do Papa, com um concílio, pela base?…

Não me parece, estou muito pessimista, agora. Um Papa nunca irá assinar tal decreto. E um concílio, agora, não quero que aconteça. Porque o papado de João Paulo II foi muito longo e Bento XVI segue a mesma linha. Nestes mais de 30 anos, houve uma política de nomeação de bispos que têm de ser integralmente submissos e obedientes a Roma, com uma mentalidade
fundamentalmente conservadora. E, para que tenham estas duas coisas, são gente sobretudo medíocre.

 

Então o que é preciso? Uma revolução?

A base, não uma revolução. Não sou partidário de uma Igreja paralela. Nem se trata de inventar agora a Igreja. O que pretendo é recuperar as origens, a inspiração profética e carismática de Jesus.
Não tenho direito nem a pedir que voltemos ao Evangelho? Naturalmente, vivendo-o noutras circunstâncias, com a cultura, o desenvolvimento, a economia, a sociedade… Mas pode-se viver [como o Evangelho diz]. Monsenhor Óscar Romero viveu-o, em El Salvador. E mataram-no. O bispo Pedro Casaldáliga tem vivido assim no Brasil. Tantos bispos, tantos padres, tantas
religiosas que vivem isso… Isso dá jeito quando é para dizer que a Igreja se preocupa com o Terceiro Mundo, com o sofrimento… Mas, normalmente, essas pessoas estão mal vistas em Roma.

 

in Público, Terça-Feira 03/01/2012
logo3copy Comunidade Mundial de Meditação Cristã – Portugal

 

http://www.padrescasados.org/archives/2698/ha-medo-na-igreja/


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publicado por Riacho, em 08.10.11 às 23:28link do post | favorito

Um exemplo para a Igreja católica e outras Igrejas cristãs...


A Igreja Presbiteriana americana ordenará neste sábado pela primeira vez um pastor abertamente homossexual: Scott Anderson, que há duas décadas decidiu revelar que era gay e se viu obrigado a renunciar ao posto em sua congregação na Califórnia.

A ordenação, que marca mais um passo de uma Igreja protestante pela aceitação de homossexuais no clero, acontece após décadas de debate. Em maio deste ano, com o endosso da assembleia nacional presbiteriana, a Igreja resolveu remover de sua constituição a obrigação de um clérigo de estar "dentro do convênio do casamento entre um homem e uma mulher, ou da castidade no celibato".

Numa entrevista recente em sua atual igreja, no Winsconsin, Anderson, de 56 anos, relembrou o dia em que teve que tomar a decisão após ter sua sexualidade descoberta por um casal, que ameaçou denunciá-lo.

"Foi realmente o pior e o melhor momento da minha vida", disse Anderson. "O melhor porque pude pela primeira vez dizer que eu era gay. Mas houve também tristeza por ter que deixar o que eu amava".

Jennifer Sauer, que frequenta a atual Igreja de Anderson no Winsconsin, disse que ele está emocionado com a ordenação. "Qualquer um que conheça Scott vê seu extraordinário dom como pastor, sua habilidade de pregar a palavra, sua humildade", disse Sauer.

 

Conservadores questionam

Mas membros mais conservadores como Tom Hay, diretor de operações da Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana, ameaçaram abandonar a Igreja. "Os episcopais, luteranos, a Igreja Unida de Cristo: todos deram esse passo e tiveram perdas", afirma Hay. "Acho que nós perderemos também".

Várias razões foram citadas pelos defensores das mudanças na Igreja Presbiteriana, entre elas a tendência à aceitação da união do mesmo sexo na sociedade americana e o pouco interesse, entre membros do próprio clero, de continuar com o debate.

O pastor Scott Anderson conta que decidiu que queria ser pastor no ensino médio, e que só anos depois descobriu sua orientação sexual. No primeiro ano como seminarista, se apaixonou por outro homem.

"Naquele momento, eu tive que tomar a decisão: Sigo a regra e continuo no armário, ou saio, passo a ser honesto comigo mesmo e deixo o seminário?", conta.

A primeira opção foi pela religião. Anderson diz que esperava que a decisão fosse recebida com rejeição, mas a resposta por parte de sua então congregação o surpreendeu: recebeu apoio emocional e um cheque para cobrir os estudos regulares. Ele acabou indo para uma congregação diferente.

A ordenação deste sábado significa que ele passará a ter as tarefas que já tem. A diferença é que poderá novamente realizar sacramentos.

Para o pastor, ao aceitar homossexuais a Igreja Presbiteriana ficará mais fortalecida."Isso realmente mostra para a sociedade que temos uma Igreja que não fala apenas em ser criado à imagem e semelhança de Deus e sim que somos criados para se relacionar uns com os outros. Isso dará à Igreja Presbiteriana muito mais integridade em seu testemunho da fé cristã", disse.

 

Da Agência O Globo

 

in: http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20111008085221&assunto=18&onde=Mundo


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