ESPAÇO DE ENCONTRO E REFLEXÃO ENTRE CRISTÃOS HOMOSSEXUAIS em blog desde 03-06-2007
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publicado por Riacho, em 20.03.14 às 23:24link do post | favorito

É preciso tempo, diálogo, encontro, reflexão, implementação de iniciativas para mudar o olhar de certos católicos sobre a vivência das pessoas homossexuais através de uma melhor compreensão da realidade.

A opinião é de Claude Besson, copresidente da associação Réflexion et partage e autor de Homosexuels catholiques. Sortir de l'impasse (Ed. De l'Atelier). O artigo foi publicado no jornal La Croix, 08-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Depois das ruidosas manifestações do ano passado e das últimas semanas, muitas pessoas homossexuais e suas famílias pensam, talvez, que não há muito a esperar por parte de uma certa faixa da Igreja Católica. Com efeito, pode-se acreditar que nada mudou, ou que até mesmo o modo de considerar as pessoas homossexuais deu passos para trás.

Há desânimo, o que é absolutamente legítimo e compreensível. No último encontro da nossa associação Réflexion et partage (Reflexão e partilha), uma mãe de família nos confidenciava: "Eu me acordo à noite e me pergunto por que tanto desprezo pelas pessoas homossexuais".

Apesar de tudo isso, não posso deixar de pensar naqueles que desejam continuar vivendo a sua fé na Igreja, mas que não encontram o lugar da palavra para eles, que estão isolados, que são desconhecidos, às vezes culpabilizados, que não vivem nas grandes cidades e que se escondem. Pessoalmente, não posso me desinteressar por ele, e é principalmente por essas pessoas que eu quero continuar agindo e acreditando que situações possíveis podem nascer.

Vai ser preciso tempo, diálogo, encontro, reflexão, implementação de iniciativas que poderão, pouco a pouco, mudar o olhar de certos católicos sobre a vivência das pessoas homossexuais através de uma melhor compreensão da realidade. Alguns poderão se surpreender, não faltam documentos, livros, artigos sobre esse tema. Mas, como eu pude constatar dando palestras em algumas dioceses francesas, tal ignorância traz medo. E o medo gera a exclusão, o desprezo, a confusão, os conflitos às vezes, os guetos e, no fim, o desejo de se livrar do outro. O medo é um mau conselheiro.

Ao invés, diversas dioceses organizam iniciativas para acolher melhor as pessoas homossexuais e as suas famílias. Por exemplo, na diocese de Grenoble, constituiu-se um "grupo da palavra" entre pessoas homossexuais, pais e responsáveis eclesiais. Em uma dezena de dioceses, ao menos, foram constituídas equipes, cujos primeiros encontros foram ricos em intercâmbios, partilha e diálogo.

Alguns elaboraram novas propostas, como o Chemin d'Emmaüs (uma iniciativa da diocese de Nanterre), um dia de peregrinação aberto a todos e particularmente às pessoas direta ou indiretamente envolvidas na homossexualidade. Tendo participado dele, posso assegurar que isso derrubou muitos preconceitos contra a homossexualidade. Também fui testemunha de um "grupo da palavra" constituído recentemente em uma paróquia da diocese de Lyonpor iniciativa dos pais.

Também foi apreciável a organização de seis seminários no Collège des Bernardins, em Paris, sobre "Fé cristã e homossexualidade" com representantes de associações (David et JonathanDevenir Un an ChristCommunion BéthanieRéflexion et Partage). O último seminário, sobre o tema "Fazer casal", permitiu apresentar as experiências de casais homossexuais e heterossexuais na escuta, no diálogo, na construção do viver-juntos e da fraternidade que trarão os seus frutos.

Eu acredito na possibilidade de avançar a pequenos passos, no trabalho de porosidade, como o fato de se inserir em uma equipe de animação pastoral, em uma equipe de partilha bíblica, em uma reflexão sobre o casal etc. Isso não é possível em toda a parte, certamente, mas eu conheço muitas pessoas homossexuais que, inserindo-se nas comunidades cristãs, fizeram avançar o modo de pensar de muitos católicos sobre a homossexualidade. Como um casal de homens com mais de dez anos de vida em comum que busca se inserir em uma reflexão paroquial para os casais (heterossexuais, é claro) que tem dez anos de vida em comum. Essas experiências de porosidade parecem particularmente frutíferas.

Poder-se-ia acrescentar a todas essas experiências in loco os recentes documentos do Conselho Família e Sociedade da Conferência Episcopal Francesa, que permitem entrever aberturas: "Não é pelo fato de que a Igreja concede um estatuto especial para a relação amorosa entre um homem e uma mulher que ela não concede valor a outras relações amorosas... Podemos estimar o desejo de um compromisso com a fidelidade de um afeto, de um apego sincero, da preocupação pelo outro e de uma solidariedade que vai além da redução da relação homossexual a um simples compromisso erótico" [1]. Em outro documento do mesmo conselho, lê-se: "Toda pessoa tem direito a uma acolhida amorosa, assim como ela é, sem ter que esconder um aspecto ou outro da sua personalidade" [2].

O verdadeiro diálogo, no sentido de deixar se atravessar pela palavra do outro (dia = atravessar; logos = palavra) é uma riqueza que é preciso começar e continuar sempre que possível. Penso que muitos cristãos e responsáveis eclesiais são pessoas de boa vontade e buscam refletir e compreender melhor.

"Para restaurar a comunhão, já se poderia começar com encontros entre pessoas homossexuais e simpatizantes da'manif pour tous'", declarava recentemente Dom Descubes, arcebispo de Rouen (no La Croix do dia 3 de fevereiro). As pessoas homossexuais nas associações cristãs estão disponíveis e desejam esses encontros...

"Uma árvore que cai faz mais barulho do que uma floresta que cresce", diz o ditado. Não podemos prever o porvir, mas cabe a nós fazê-lo "advir", lá onde estamos, cada uma e cada um de nós.

Notas:

1. Élargir le mariage aux personnes de même sexe ? Ouvrons le débat !, setembro de 2012.

2. Poursuivons le dialogue !, maio de 2013. 

 

PARA LER MAIS:


Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/529402-reconstruir-o-dialogo-com-as-pessoas-homossexuais-artigo-de-claude-besson

 


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publicado por Riacho, em 11.03.14 às 00:37link do post | favorito
O Papa Francisco declarou um cessar de hostilidades nas guerras culturais sobre o casamento homossexual, contracepção e aborto, temas que haviam definido a Igreja Católica durante grande parte da era moderna.

A reportagem é de Joshua Norman, editor da CBS News, 05-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Na quarta-feira, ele assinalou uma nova direção a esse respeito quando discutiu a união civil em uma entrevista curta, mas de grande alcance, na qual também falou sobre o seu desconforto com a adoração da figura de herói que tem surgido em torno dele. Embora ainda insistindo que o casamento é "entre um homem e uma mulher", ele explicou por que acha que as uniões civis foram criadas.

"Os Estados laicos querem justificar as uniões civis para regular diversas situações de convivência, impulsionados pela exigência de regular aspectos econômicos entre as pessoas, como por exemplo assegurar a assistência de saúde", disse o papa.

Quando perguntado até que ponto a Igreja poderia entender essa tendência, o papa respondeu: "É preciso ver os diversos casos e avaliá-los na sua variedade".

Uma matéria escrita por John Thavis, ex-chefe da sucursal de Roma do Catholic News Services, disse que isso indica que a Igreja "pode tolerar algumas uniões civis".

Vaticano, em janeiro passado, disse que o papa e a Igreja Católica não estão abertos às uniões civis de pessoas do mesmo sexo, e Thavis disse à redação da CBS News que as palavras do papa foram deliberadamente vagas nessa recente entrevista.

"Ele parece sugerir que a Igreja não é simplesmente contrária a qualquer discussão sobre isso", disse Thavis. "Mas não está claro se isso incluiria a união civil gay. Talvez ele esteja pensando que ela poderia ser tolerada em termos de benefícios sociais ou conjugais para casais não casados, mas que vivem uniões civis".

Essas declarações recentes, contudo, estão alinhadas com uma filosofia clerical mais tolerante e pacífica pela qual oPapa Francisco ficou famoso por defender.

"O papa está dizendo que não é assunto da Igreja interferir nessas soluções jurídicas para problemas complexos", disse Massimo Faggioli, professor de teologia na Universidade de St. Thomas, em Minnesota, em uma entrevista àCBS News. "Ele está reconhecendo que certas coisas não fazem parte da competência da Igreja".

Como instituição, "eu não acho que a Igreja vai apoiar" as uniões civis de pessoas do mesmo sexo, disse Faggioli.

O professor de origem italiana também acrescentou que as declarações do papa estão bem alinhadas com a "trégua" que ele pediu nas guerras culturais sobre gays e aborto quando disse a famosa frase "Quem sou eu para julgar?", em referência ao clero gay.

A parte mais importante da entrevista do papa na quarta-feira é a parte em que ele tenta se distanciar dos pontos de vista passados da Igreja Católica sobre "valores inegociáveis", segundo Faggioli.

"É uma mudança de paradigma na forma como o papa vai abordar algumas questões", disse Faggioli.

Um sínodo de bispos que será realizado em outubro irá analisar muitas posições sobre questões sociais oficialmente defendidas pela Igreja, e assuntos como a contracepção e o casamento serão provavelmente discutidos. Embora o papa tenha ficado famoso por uma espécie de populismo pastoral, pelo tom tolerante em várias questões morais, ele tem consistentemente ficado aquém ao indicar qualquer grande mudança na direção da doutrina católica.

Em sua entrevista de quarta-feira, o Papa Francisco explicou: "A questão não é a de mudar a doutrina, mas sim de ir fundo e fazer com que a pastoral leve em conta as situações e o que é possível fazer pelas pessoas".

 


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