ESPAÇO DE ENCONTRO E REFLEXÃO ENTRE CRISTÃOS HOMOSSEXUAIS em blog desde 03-06-2007
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publicado por Riacho, em 26.08.13 às 13:47link do post | favorito

Antes dos princípios, o kerygma, isto é, o anúncio do Evangelho. É o coração da teologia de Timothy Radcliffe, mestre geral da ordem dominicana entre 1992 e 2001. Inglês, vive em Oxford na Blackfriars Hall, instituição dos dominicanos, onde é professor visitante o filósofo Roger Scruton. E, não obstante leve em frente teses audaciosas – por exemplo, a possibilidade de matrimônio para os sacerdotes – quando no giro do mundo não é acolhido como o clássico “teólogo do dissenso”. Antes, como um estudioso que, do coração do cristianismo ocidental, sabe cutucar a Igreja para que se abra à contemporaneidade de modo inteligente.

A entrevista é de Paolo Rodari e publicada pelo jornal La Repubblica, 23-08-2013. A tradução é de Benno Dischinger.

Prendi il largo’ [Sai andando] é, não por nada, o título de seu último trabalho, publicado na Itália pela Queriniana. Mas, recém publicou também, por exemplo, ‘Olhares sobre o cristianismo’ com Armando Matteo, e nos próximos meses sairá, pela Editora Missionária Italiana, um ensaio sobre a atualidade da palavra de Deus “que é também para os manager da City”.

Eis a entrevista.

O senhor convida a Igreja a “sair andando”. Até onde?

Antes de decidir até onde, é preciso perguntar-se de onde partir. Com frequência, quem renovou a Igreja, não era sacerdote: São Bento, São Francisco, Santa Catarina de Sena. A Igreja só pode encontrar novas energias quando se reconhece como comunidade de batizados. “Sair andando” significa reconhecer que basta o batismo para participar da morte e ressurreição de Cristo. Quando foi perguntado a Wojtyla qual foi o dia mais belo de sua vida, respondeu: “O dia em que fui batizado”.

Com frequência a gente sente a Igreja distante, demasiadas regras, demasiados preceitos. E então?

Todos deveriam sentir-se em casa na Igreja. Jesus acolhe todos, cobradores dos impostos – os nossos banqueiros de hoje – as prostitutas. Mas, como pode a Igreja acolher todos e simultaneamente oferecer uma visão moral para todos? O Papa Francisco diz que o pastor “deve sentir o cheiro das ovelhas”. Significa que a Igreja deve conhecer as perguntas do povo a partir de dentro, como se fossem suas. Por exemplo, estamos em condições de oferecer uma autêntica palavra sobre a homossexualidade somente se estamos próximos às pessoas gays. O ensinamento moral deve ser oferecido no interior de uma amizade. Caso contrário é moralismo.

O senhor defende a possibilidade que os padres se casem. É uma estrada que pode ser percorrida em Roma?

Já há muitos sacerdotes católicos casados, por exemplo, muitos padres anglicanos convertidos ao catolicismo. Se o celibato é vivido com generosidade, é o sinal de uma bela vocação, é um sinal profundo de uma vida dedicada a Deus e ao seu povo. Se, portanto, o celibato deixasse de ser a norma para os sacerdotes, perderia, sim algo de maravilhoso. Mas, ao mesmo tempo, também um clero casado saberia dar algo de belo de um modo novo: sacerdotes que vivem o matrimônio e uma experiência de paternidade. Os padres existem para servir o povo de Deus e portanto seria oportuno perguntar-lhes que tipo de sacerdote pretendem ser.

Diversos bispos, em audiência do Papa, lhe falam do problema dos divorciados recasados. É possível repensar a proibição de receber a eucaristia?

O matrimônio é um sinal da fidelidade de Deus ao seu povo em Cristo. Devemos fazer de tudo para mantê-lo como um empenho para a vida. Mas, vivemos numa sociedade fluida e de relações de breve termo. As pessoas se deslocam, mudam de casa, de trabalho. Vivem em contínuas mudanças. Com frequência fica difícil manter o matrimônio. Não se pode julgar ninguém. Necessitam da graça do sacramento, como todos. Na Igreja tantas pessoas foram excluídas da comunhão porque não permaneceram fiéis em tempo de perseguição. Mas, assim foram tantos os marginalizados que a disciplina precisou mudar. Creio que também hoje deveria mudar.

Em outubro chegarão a Roma oito cardeais, presididos por Oscar Maradiaga, seu grande amigo, que apoiarão o Papa no exercício do governo. É uma virada epocal no signo da colegialidade?

Por séculos a Igreja precisou combater contra os monarcas e os Estados poderosos para preservar a própria liberdade, de Constantino até Napoleão e, mais recentemente, com as grandes ideologias. Por isso, o papado se tornou também ele um pouco uma monarquia. Mas, não podemos permanecer prisioneiros das batalhas passadas.Francisco se apresentou como um condiscípulo e como o bispo de Roma. Quer que o Papa trabalhe no interior do colégio dos bispos. Os oito cardeais podem ajudá-lo a fazer isto. Bento XVI escreveu páginas esplêndidas sobre como a Igreja pode tornar-se mais trinitária. Francisco está procurando encaminhar a Igreja naquela direção, libertando-a de uma estrutura monárquica que não é mais adequada.

A cúria romana transcorreu meses não fáceis. O “caso Vatileaks” mostrou uma crise evidente de governabilidade. Serve uma reforma?

Temos necessidade de uma Igreja menos centralizada, com mais liberdade de iniciativa para as Igrejas locais. O cardeal Basile Hume, ex-arcebispo de Westminster, dizia que temos necessidade de uma mudança fundamental nas estruturas da Igreja. E um Vaticano servidor do Papa e dos bispos, e não o contrário.

 

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/523051-padres-casados-e-gays-a-igreja-e-de-todos-entrevista-com-timothy-radcliffe


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publicado por Riacho, em 21.08.13 às 14:02link do post | favorito

É bem conhecido o mantra: o casamento – cristão, é claro – é a união de um homem e uma mulher. Só que a igreja da Idade Média celebrou – ao que parece – bodas homossexuais. Sabe-se, graças ao historiador americano Richard John Boswell (As uniões de mesmo sexo na Europa antiga e medieval [1]). Foi ele quem descobriu que os cristãos gregos dos séculos X e XI  abençoaram oficialmente "uniões do mesmo sexo". Tal consideração enfurece a atual igreja ortodoxa, que jura que só se tratavam de castas "confraternizações". É possível.

A reportagem é de Arnaud Gonzague,  publicada no sítio Religión Digital, 17-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Ícone surpreendente

No entanto, um surpreendente ícone do Monte Sinai representa a união de dois homens santos do século IV, São Sérgio e São Baco, com Jesus, que tem todo o jeito de ser um "pronubus" (testemunha da boda).

Boswell afirma que existiam análogas "disposições para abençoar a união de dois homens" entre os cristãos eslavos desde o ano mil, que teriam durado na Europa até os tempos modernos.

Na França da Idade Média também há sinais: de acordo com o medievalista Allan A. Tulchin, existiam uniões masculinas especiais, os chamados "contratos de irmanamento", pelos quais os "irmãos" ("affrèrés" – "frères") se comprometiam, diante de testemunhas, a viver juntos, compartilhando "um pão, um vinho e uma bolsa de dinheiro".

Obviamente, ninguém está em condições de comprovar as consequências concretas desse tipo de amável coabitação, mas uma coisa é clara: nenhum dos bons cristãos daquele tempo se escandalizava com isso.

Nota:

[1] Les unions du même sexe dans l'Europe antique et médiévale, Fayard, 1996.


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publicado por Riacho, em 12.08.13 às 23:08link do post | favorito

No Evangelho de João, o verbo "julgar" também significa "condenar". Por isso, o papa diz: "Quem sou eu para condenar?".

A opinião é de Enrico Ghezzi, pároco romano e especialista no Evangelho de João. O artigo foi publicado no jornalL'Unità, 07-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Por que se admirar com uma aberta manifestação de simpatia e de respeito do papa, respondendo de improviso, no avião que o trazia de volta a Roma de retorno do Brasil, sobre o tema muito vivo dos gays? O papa não queria fazer uma reflexão complicada sobre o modo de ser da nossa sexualidade; mas, como grande pai espiritual, sabe como algumas pessoas, adolescentes, jovens, homens e mulheres, sentem amor sincero por pessoas do mesmo sexo e alimentam, ao mesmo tempo, um profundo amor por Deus.

Certamente, no conformismo moralista que perdura há séculos no mundo e na Igreja, a resposta do papa parece revolucionária: finalmente, com espírito evangélico, o papa olha para uma realidade que já nos é conhecida sem usar palavras de condenação .

E, como sempre, quem fingiu se escandalizar não foram aqueles que são "puros de coração" (Mt 5, 8), mas sim aqueles que, não tendo em si mesmos a pureza do coração e a caridade, gritam o escândalo pelo delineamento de uma "nova moral"; estes, como muitas vezes acontece, olham para fora de si mesmos, antes de avaliar a si mesmos e os seus comportamentos.

O que disse o papa? "Se uma pessoa é gay e busca o Senhor com boa vontade, quem sou eu para julgá-la?". Quero lembrar que, no Evangelho de João, o verbo "julgar" também significa "condenar". Por isso, o papa diz: "Quem sou eu para condenar?". Há séculos, a Igreja tem visto a sexualidade como fonte de problemas, apesar do fato de existirmos enquanto produtos de fatores naturais sexuais.

Quase como se o Evangelho não tivesse feito nada mais do que falar de sexo! O Evangelho, creio eu, é uma síntese de graça, de esperança, de bem-aventurança, porque, nas palavras de Jesus, há a suprema tentativa de nos falar de Deus que é Pai. Assim também era no primeiro Testamento da bíblia hebraica. O que foi, na história, essa tentativa de obrigar a Palavra a ser insuportável e inaceitável?

O tema do sexo que se refere aos gays deve ser considerado à luz do valor irrepetível de cada pessoa, da própria dignidade, sem julgar uma parte da pessoa humana. Cada um de nós é sexualidade, é pensamento, é vontade, é criatividade e é sobretudo pessoa única e irrepetível na história do mundo.

É o mistério da nossa existência que importa, e não uma parte do nosso ser que conta pelo todo. O papa, portanto, "não julga". Finalmente, cada um de nós está diante de Deus com a sua liberdade e com o valor da própria consciência. E isso mesmo quando fazemos parte da Igreja, a "nossa mãe".


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publicado por Riacho, em 06.08.13 às 19:30link do post | favorito

Ela preferiria ter descoberto que tinha uma doença terrível. Quando Tim entrou na sala e lhe disse: "Mãe, sente-se", de todas as coisas que ela poderia aceitar descobrir, não havia o fato de que o seu filho era homossexual. E, sentada olhando para o homem que tinha crescido, estudando cada um dos seus detalhes, tinha pensamentos que, se os dissesse em voz alta, correria o risco de ir para o inferno.

A reportagem é de Martina Castigliani, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 05-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

"Mãe, eu sou gay". O anúncio de Timothy Kurek veio em uma tarde quente aos seus 26 anos. Ar estranho e um anel na orelha. Palavras como fuziladas no Sul dos Estados Unidos, naquele famoso Bible Belt (o "Cinturão da Bíblia", ou seja, os Estados do interior, os mais religiosos e conservadores), que se esforça para aceitar aqueles que cometem pecado e, sobretudo, tem regras férreas a serem respeitadas.

Timothy Kurek era um deles, da comunidade cristã evangélica de Nashville, no Tennessee. Depois, decidiu fingir que era gay por 365 dias. "Por empatia, para entender o efeito que tem estar na sua pele, para ouvir a voz que, dentro de mim, dizia que isso não era pecado e que amar outro homem não podia realmente ser a causa dos males do mundo".

Assim nasceu o livro The cross in the closet, diário de um rapaz que optou por fingir ser outra pessoa. Uma viagem que ele chama de "experiência" e que começou com uma amiga que, um dia, foi ao encontro de Tim para contar que era lésbica.

"Tudo começou a partir daquele instante. Crescemos juntos, amigos de infância, companheiros de brincadeiras. Ela caiu nos meus braços chorando, admitiu aquilo que, para todos, era uma culpa: ser lésbica. Eu me perguntei: como é que três palavras podem te excluir para sempre da minha vida?".

Foi assim que ele tomou a decisão, enquanto apertava aquela que deveria ser pecado e, ao invés, era Nina, a menina que havia enxugado as suas lágrimas, puxado os seus cabelos e que o havia acompanhado para comprar sapatos no centro da cidade há 15 anos. "Eu escolhi uma vida sob cobertura. Uma tia era minha cúmplice. Eu comecei pelo coming out com amigos e parentes. Eu sei muito bem que não é a mesma coisa para uma pessoa gay, mas certamente foi um percurso que me fez entender muitas coisas".

Nas páginas do diário de Timothy, os primeiros dias são histórias de dor, de uma família que tenta aceitar a condição que sempre considerou como pecado, mas que sofre em silêncio, como se uma desgraça tivesse sido anunciada. E as três palavras pronunciadas de repente, "Eu sou gay", marcam o fim de um mundo.

"O mais absurdo foi ver os meus amigos desaparecerem ao meu redor. Há uma frase de Martin Luther King que eu trago impressa por toda parte: 'No fim, não são as palavras dos inimigos que vamos lembrar, mas sim o silêncio dos nossos amigos'. Para mim foi assim, questão de semanas, e muitos desapareceram".

Depois, a mudança de vida: Kurek começou a namorar com um amigo que estava a par da experiência e procurou trabalho em um bar gay. "Não foi fácil. Eu comecei a frequentar os locais e os mundos daqueles que amam as pessoas do mesmo sexo. Eu queria entender. Vi as partes divertidas e as mais dolorosas".

Durante um jogo de softball, um homem da torcida o insultou. Gritos de "bicha", passando pelos deboches, até chegar a ataques ainda mais pesados. "Eu sempre estive do outro lado e de repente me vi sofrendo aquelas palavras". Assim, a força que Timothy buscava no Senhor ele a encontrou na diversidade.

Gays e lésbicas que fazem um carnaval com cores e roupas e que fazem uma trincheira com uma cotidianidade entre obstáculos. "Como homem que os considerava como pecadores, agora eu os admiro muito. Admiro a força de ânimo e a vontade, a resistência. Pessoas únicas que são felizes por ter entre os amigos e que têm muito a me ensinar".

Dessa resistência, há a nostalgia de uma vida normal. Ser pessoas do dia a dia, ter direitos e deveres assim como os outros. Poder se casar. A comunidade gay vive de faltas, por causa de uma escolha que os faz corajosos, mas que, bem ou mal, continuam como feridas abertas lembrando-os que são diferentes. "Eles não se casarão, a menos que ultrapassem a fronteira, para o Norte. E não terão filhos. Isso é uma dor. Como se o seu amor fosse sempre defeituoso".

Relação com a fé

Nesse sofrimento, Timothy viu a ponta de um iceberg, observador privilegiado que sabia que poderia voltar atrás assim que quisesse. Mas o verdadeiro parto foi a relação com a fé. "Durante o tempo todo, eu continuei me professando cristão evangélico. Eu ia à igreja e praticava a fé como se nada tivesse acontecido. Mas, por dentro, carregava a dor de um parto, a necessidade de entender quem estava errado, se a minha fé ou os outros".

Educado no dogma e nos mandamentos, instruído para pensar os gays como pessoas diferentes a serem afastadas,Timothy colocou em discussão todo ponto de referência. "Eu entendi que quem estava errada era a minha fé. A igreja deve aceitar aqueles que são diferentes, as adoções, gays e os casamentos entre pessoas do mesmo sexo. É amor e não pode estar errado. O mundo é muito menor do que aquilo que pensamos, e não se pode passar o tempo todo criando guetos e escondendo existências. As nossas religiões, infelizmente, muitas vezes, só ensinam estereótipos".

Um ano depois, Timothy Kurek tem um livro que, na Itália, ainda está à procura de uma editora e que conta a história de um homem que se colocou no lugar daqueles que eram considerados o demônio para tentar entendê-los. Uma história não completa, onde falta a realidade e o verdadeiro peso das coisas. Mas que é um primeiro passo para a tolerância.

Timothy viaja o mundo para contar a mudança e, nas suas etapas, também foi visitar o liceu Tasso, de Roma, para falar com os jovens sobre homofobia. Daquelas ficções e jogos disfarçados permaneceu a página de diário de uma mãe que escrevia que preferia ter uma doença a ter um filho homossexual e que acabou acompanhando-o nas Paradas Gays. Porque a parte mais difícil de se acreditar que o mundo vai acabar é descobrir que, no dia seguinte, o Sol surge igualmente. E muitas vezes é o sinal de um novo início.


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publicado por Riacho, em 05.08.13 às 20:51link do post | favorito

Francisco abre aos gays um horizonte pastoral totalmente novo. Um ato corajoso, inesperado, considerando-se o púlpito de onde vem. Lucetta Scaraffia, no L'Osservatore Romano, observa que Bergoglio, embora não tenha mudado nada das regras morais em vigor, com essas simples palavras pronunciadas no avião voltando do Brasil, "apaga um moralismo rígido e fofoqueiro, e com poucas palavras afasta da Igreja Católica aquela acusação caluniosa de homofobia que a perseguiu nos últimos tempos".

A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 31-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Sim, porque o caminho espiritual dos fiéis homossexuais, um arquipélago variado que age subterraneamente como nos tempos das catacumbas, continua sendo um percurso acidentado, fatigante, tingido por incompreensões recíprocas. Dos catecismos de Pedro Canísio, santo e jesuíta que participou do Concílio de Trento, que estigmatizava com dureza inusitada "que os gays gritam vingança contra Deus", rolou muita água.

Com o último Catecismo, a Igreja colocou preto no branco que Deus certamente não gosta das discriminações e, melhor, deu disposições para que os párocos e os fiéis incluam os gays e façam-lhes chegar toda a grandeza da misericórdia do Senhor.

No entanto, algo ainda não deu certo se os poucos sacerdotes que se ocupam ativamente nessa pastoral de fronteira se movem com extrema cautela para não dar origem a escândalos, para não irritar ou, pior ainda, para não criar problemas para os bispos.

Fronteiras

Graças às redes sociais digitais e à internet, os grupos de católicos gays se movem em contato entre si, dando origem a iniciativas espirituais, retiros para meditar a Palavra, acender debates. Sobretudo para fazer entender a quem está em busca de uma luz que o amor de Cristo não tem limites. Em nível italiano, é famoso o Projeto Gionata, enquanto em Roma são ativas duas realidades nascidas há 20 anos, Nuova Proposta e La Sorgente.

O padre José é um dos padres que há muito tempo concretiza o método Bergoglio, que consiste em ir pescar as ovelhas perdidas, neste caso fiéis homossexuais que se afastaram da Igreja justamente porque se sentem fortemente discriminados. Duas vezes por mês, eles se encontram em uma igreja do centro histórico de modo informal.

"Eu prefiro não ser mais específico para não pôr em risco a continuidade da acolhida. Sim, é verdade, até agora, por parte da Igreja, com relação a essa pastoral, houve uma certa desconfiança, uma tendência a não incluir, a ignorar mais do que a discriminar em sentido estrito". Esse sacerdote (que trabalha em uma Congregação do Vaticano) prefere falar por trás do anonimato.

Os tempos das catacumbas retornam. Voltas e reviravoltas da história. "A novidade das palavras do pontífice consiste no fato de que ele abordou livremente esse assunto. Ele o fez com autenticidade, para fazer com que se entenda que a Igreja é uma mãe inclusiva, e não exclusiva. No BrasilBergoglio, durante um encontro, acrescentou que é preciso dar cidadania àqueles que, em meio aos sofrimentos, se sentiram excluídos até agora. Isso também vale para as pessoas homossexuais".

Quem frequenta essas comunidades estabelece um contato, se fala, se sente a necessidade de se reconciliar com Deus "Você não imaginar quantas pessoas participam". A pastoral das fronteiras complicadas, fé e homossexualidade, binômio muitas vezes combatido pela esferas vaticanas. Mas os caminhos do Senhor continuam sendo infinitos.


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publicado por Riacho, em 02.08.13 às 20:27link do post | favorito
John Boswell, estudioso católico na Universidade de Yale, EUA, publicou há 20 anos o livro “Uniões do mesmo sexo na Europa pré-moderna” que exemplificou centenas de casos documentados de uniões entre pessoas do mesmo sexo oficializadas pela Igreja católica apostólica romana. A pesquisa aponta que a proibição surgiu durante a Idade Média. O livro ganhará versão digital este mês e vem em tempo de reacender a polêmica ao casamento gay.

Em 1980, um trabalho de Boswell, que dedicou sua vida a pesquisar a fundação da igreja romana e católica já chamou atenção às evidências. “Cristianismo, Tolerância Social e Homossexualidade: Pessoas gays na Europa Ocidental a partir do início da era cristã para o século XIV” reuniu arquivos espalhados por toda a Europa de uniões e sociedades entre pessoas do mesmo sexo. A Igreja, no século XIII reformulou o casamento, criando a reprodução como sua justificativa principal. Ao mesmo tempo, proibiu o sexo banal. O casamento era antes apenas um contrato de famílias, algo diferente da visão que temos hoje.

Até tal período, homens homossexuais eram tolerados no Império Romano. O livro cita o relato de enterros e casamentos de dois homens ou duas mulheres, com rituais idênticos aos de casais heterossexuais. “Em 342, o Código de Teodósio, imperador de Roma, proibiu casamentos entre homens, evidência de que eles existiam”. “ Sérgio e Baco, ambos soldados romanos do final do terceiro século, que, unidos por estreita amizade, terão coabitado. Terminaram executados por recusarem-se a abjurar da sua fé cristã”. Diz matéria preliminar apresentada aqui na Lado A, na Coluna Para Pensar, com o título “O casamento Guei existiu”, do filósofo e colunista Arthur Virmond de Lacerda Neto.

“O imperador bizantino Basílio I (867-886), antes da sua entronização, participou de cerimônias desta natureza duas vezes, como nubente: na primeira, uniu-se a Nicolau; na segunda, a João.

Uma gravura medieval mostra-o, na sua boda com João, diante de um padre cristão e do evangelho aberto, em uma igreja. No século XII, multiplicam-se as versões escritas dos rituais dos matrimônios homossexuais, vedados aos monges. Havia velas acesas, aposição das mãos sobre os Evangelhos, união das mãos direitas dos nubentes, cingimento das mãos ou das cabeças deles com a estola usada nas cerimônias heterossexuais, preces, comunhão, beijo e, por vezes, cirandas à volta do altar.
Em 1578, Montaigne testemunhou, na igreja de S. João da Porta Latina, uma cerimônia de união de portugueses: empregaram os textos núpcias e comungaram, após o que, cearam em comum e deitaram-se juntos. A cena foi testemunhada também pelo embaixador de Veneza.

Segundo Montaigne, especialistas romanos afirmavam que, desde que o sexo entre homem e mulher somente pelo casamento se legitima, parecera-lhes justo autorizarem-no entre homens, por igual motivo”. São alguns trechos do livro Homossexualidade. Uma história; Record, 1999 de Colin Spencer.



Leia Mais: Casamento gay religioso foi possível no cristianismo até o século XIII | Revista Lado A http://revistaladoa.com.br/2013/08/noticias/casamento-gay-religioso-foi-possivel-no-cristianismo-ate-seculo-xiii#ixzz2aqFjludz 
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publicado por Riacho, em 02.08.13 às 20:19link do post | favorito

"O Papa Francisco realizou um ato de grande coragem colocando-se humanamente em discussão e dizendo aos jornalistas de meio mundo: 'Se uma pessoa é gay e busca o Senhor, quem sou eu para julgar?'. Mas a sua audácia não está tanto em ter usado 'aquela' palavra, mas sim em ressaltar a acolhida que se deve a qualquer caminho espiritual. Bergoglio colocou novamente no centro a pessoa no seu conjunto, portanto a relação com a sua totalidade humana, deixando de lado o 'particular' da homossexualidade".

A reportagem é de Paolo Conti, publicada no jornal Corriere della Sera, 31-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Emanuele Macca tem 37 anos, nasceu em Pavia, trabalha desde sempre no mundo da assistência social, primeiro na Cáritas local e agora no apoio aos toxicodependentes. Ele se define assim: "Um católico praticante, um crente que, no caminho da sua vida, descobriu a própria homossexualidade com um grande conflito tanto interior, quanto nas relações com a comunidade católica".

Mas só no início: "Eu recuperei o entusiasmo da fé quando encontrei ambientes que me restituíram a alegria da dinâmica de comunidade". Em suma, justamente o que o Papa Francisco parece querer comunicar...

"Eu quero dizer exatamente isso. Não nos detenhamos na palavra 'gay', que, no fundo, é um hábito expressivo, provavelmente ligado demais à politização do movimento gay, que parece ter instalado todo o debate no casamento sim/casamento não. Vamos além. Porque me parece realmente essencial, nas rápidas frases do papa, a acolhida da pessoa".

Mas a expressão usada também não é importante? "Certamente, sim. O Papa Francisco usa um estilo comunicativo simples e eficaz. Precisamos ser gratos também por isso. Porque a forma é, sem dúvida, substância. Mas repito: o autêntico peso da frase do pontífice está em outro lugar. Está na acolhida".

Macca tem sobre seus ombros um longo caminho nas diversas comunidades de católicos homossexuais. A última etapa foi no "Grupo del Guado", de Milão. Mas depois decidiu caminhar sozinho. Frequentando, por exemplo, a diocese de Cremona, famosa pela sua "Pastoral para as pessoas homossexuais". Questão muito importante para ele: "A frase de Bergoglio está perfeitamente alinhada com toda a sua abordagem pastoral. Mas ele tem o mérito de dar plena legitimidade ao que já havia se manifestado há muito tempo em diversas realidades da Igreja. Penso justamente na Pastoral de Cremona ou nos gestos do cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena. Depois, há os grupos espalhados por todo o território. Os de Parma e de Catania, apenas para indicar dois exemplos que me são muito caros".

Ele pensa que a frase do Papa Francisco representa um ponto de não retorno? "Eu não tenho ilusões demais. Sempre haverá dificuldades. Justamente porque a realidade da Igreja, para o bem ou para o mal, nunca é linear e homogênea. Os próprios bispos têm abordagens humanas muito diferentes".

Pode-se dizer que a base da Igreja Católica é melhor do que a sua cúpula? "Não, eu recuso tal esquematismo. Em todo diálogo, a responsabilidade do resultado final deve ser compartilhada entre quem se aproxima e quem ouve".

E qual será, então, o resultado positivo? "O papa recordou que uma acolhida até hoje muito 'protegida' pode e deve se tornar acolhida comunitária, para além da rigidez das leis ou da própria doutrina".

Resta o ponto de fundo, a questão da homossexualidade vista como "desordem ética". E aqui Emanuele Maccatambém tem uma resposta sua: "Em nível de pesquisa teológica e debate, ela é bastante evidente, mas o ponto é delicado para ser esgotado. Eu sei que não sairemos disso se continuarmos com o esquema 'ordem boa contra desordem'. Em suma, é preciso descobrir onde se quiser chegar realmente...".


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